Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Sim, eu posso!



Comecemos por um fragmento de música de Belchior (Comentário a respeito de John) com o qual muito me identifico: “Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho, deixem que eu decida a minha vida!”
Normalmente, não me meto na vida de ninguém.
Se discordo de algo, fico na minha, em silêncio...muito raramente comento e, muito menos, vou tirar satisfação ou impor meu ponto de vista.
Não consigo entender a perplexidade das pessoas diante do fato e eu não querer ter filhos. Sim, eu posso simplesmente não querer. Não quero!
Sinto muito, mas nunca foi minha meta. Eu não vou me submeter ao desejo dos outros para e enquadrar nas exigências sociais. Para mim, não há o “Woohoo, filhos!”. Não quero. Desde os 13 anos eu já pensava isso. Boa sorte para quem quer, quem tem...Impor condições não vi me fazer mudar.
As pessoas convictas da maravilha que é ter um filho perdem seus respectivos e preciosos tempos para me converter e me converter. São piores que vendedores de lojas de departamento querendo impor nossa adesão a cartões, porque precisam atingir a meta. Ora, suas decisões são ótimas...para a sua vida. A minha é minha.
Imagine se eu fosse obrigar todo mundo a ter doutorado ou a ser espírita? Pois é.
Eu não sei de onde vem nossa personalidade. Sei que ela se transforma, em certa medida, pelas experiências e vivências individuais.
Sei, também, que a pressão social exerce força sobre todos nós. Contudo, se ainda tenho liberdade, faço escolhas que nem sempre vão coincidir com as da maioria.
Não quero ter filhos. Não gosto de grude. Não faço visitas. Não gosto de receber visitas. Não quero casamento. Gosto de namoro. Gosto de ficar sozinha. Gosto de ficar sozinha e em paz em minha casa. Não gosto que ninguém mande em mim, nem em minhas coisas, por isso, gosto muito do que é meu – isto posto, não cedo a invejas, porque só tenho poder sobre aquilo que é meu. Desta forma, a vida todo fui assim: eventualmente, posso até pedir algo emprestado, mas logo compro o meu, para eu poder dispor daquilo.
Há coisas que a gente pode socializar e outras que só fazem sentido se compartilhadas. Eu nunca seria a pessoa, porém, que pega seu barco, iate ou lancha e se manda no meio do mar, em viagem solitária. Mas, eu seria a pessoa que pega qualquer avião ou o próprio carro para ir à praia sozinha, para fazer uma boa viagem sozinha, para ir a um show sozinha...porque odeio dependência.
Não sou dessas pessoas que deixam de ir às festas por não ter companhia. Exceto se for um lugar em que vão me importunar – pessoas sós sempre têm que lidar com gente que acha que a gente precisa da companhia delas, é tipo quando a gente quer ficar em paz, chorando, e aparece alguém para consolar e impedir o processo natural de encarar as dores da vida. Entendo os que o fazem de bom coração, mas quando eu preciso de ajuda, peço.
Sou carinhosa e amorosa – com gato, com gente, com quem vier – e o fato de eu gostar de ser e de estar só não me torna pouco sociável, amarga, mal humorada, seca ou fria.
No amor eu sou assim: presente, intensa, companheira...até já tive ciúme...Mas se o outro não esboça a vontade de estar comigo, ainda que a ruptura possa doer, eu deixo a pessoa em paz.
Quem quer a gente, fica com a gente. Forçar a barra, impor a presença, querer obrigar o outro a amar a gente são expressões toscas de um egoísmo tacanho (para mim, é como se o insistente dissesse: ‘Quem você pensa que é, para não desejar ficar com alguém tão maravilhoso, poderoso, perfeito e especial como eu?’ ou mesmo “eu só vou insistir porque eu tenho certeza de que uma hora você vai notar que eu sou o melhor para você!”). É o louvor ao ‘eu’.
Para mim, é igual às referidas pessoas que querem me obrigar a ser mãe porque o certo é ser mãe, porque toda mulher quer ser...
Ora, pensamento e convicção tacanhos! Acham que eu estou perdendo algo...Sim, estou perdendo: a paciência.