A vida nunca foi fácil e, desde sempre,
enquanto seres humanos, tivemos problemas com o tempo. O tempo problemático e
impreciso da duração de nossas vidas (Lembram de Fagner cantando Canteiros,
com inserção do verso de Cecília Meireles: “E deixemos de coisa, e cuidemos da
vida, pois se não chega a morte ou coisa parecida; e nos arrasta moço, sem ter
visto a vida”?); o tempo enquanto o futuro, que desconhecemos completamente e
apelamos a oráculos que, pelo menos nos sinalizem de modo genérico o que vem
pela frente; apelamos às causa e efeitos, escolhendo a semente que plantamos,
temendo a colheita e, pobres de nós, semeadores! Não sabemos se haverá
temporal, seca ou pragas de gafanhotos; não sabemos se a semente vai vingar...
Esses somos nós! E quando dominamos o tempo, vivendo, vivendo e sobrevivemos,
ficamos tristes porque estamos velhos – e estar velho é o sintoma de muito
viver.
Queremos também, que o tempo passe e as
coisas se renovem. Fazemos rituais de passagem. A passagem temporal de 2020
para 2021 se fez acompanhar de um elemento novo e relativamente desconhecido,
que foi a pandemia de COVID-19, que forçou a gente a questionar em todos os
níveis, camadas, formatos e configurações, o tempo e a vida.
Eis que 2022 está logo ali. Não nos iludamos:
no virar dos calendários, a vida seguirá sendo o que é, apenas agravada pela
inflação e consequente miséria. Estaremos, talvez, vivos, se formos prudentes.
Em 2016, quando firmei minha relação com o
Poeta, brinquei meu último carnaval, com a certeza de que ali acabava a festa
para mim; que meu gosto mudou e minha procura também; que carnaval melhor que
estar em paz com quem eu gosto ou curtindo outros prazeres é bem mais relevante
que a festa. Brinquei muitos carnavais. O último foi maravilhoso, o melhor da
década. O Carnaval ganhou outro sentido para mim, porque a ideia sempre foi me
divertir com meus amigos, beijar gente, curtir praia e piscina, quebrar a
rigidez da rotina bastante reta que eu tinha...
Na virada de 2020 para 2021, já era uma
decisão minha não passar o réveillon na Praia do Forte, nem procurar badalações
fora de casa. Eu já tinha isso em mente antes e a pandemia só precipitou as
coisas.
Fácil dizer isso hoje, com tantos
réveillons badalados no currículo. Mas, a verdade é que é muito esforço para
pouco lucro: estradas cheias, praias cheias, restaurantes cheios e tudo caro;
festas caras e nada divertidas – quando há festas, todas no mesmo padrão, com
as chatices do axé baiano, alguma pérola do funk e os desagradáveis chororôs sertanejo
(universitário, pós-graduado ou analfabeto). Gosto muito da viagem posterior,
as que acontecem depois do dia 02/01...aí, sim: liquidação e possibilidades de
sol, hospedagens baratas, muitas rotas boas para seguir.
Dia primeiro de janeiro, as estradas estão
cheias, as ruas estão vazias e fica difícil comprar comida...é a cara da
ressaca!
Quero estar sozinha, em casa, no meu réveillon.
Isso não precisa ser triste. Ano passado, chamei uma amiga para cá: péssima
decisão. Ela chegou com sono, me fez sair para a farmácia 20 h e às 21h30, após
comer sonolentamente a ceia especial e farta que fiz, dormiu e impediu que eu
fizesse a festa, já com tudo arrumado e instalado no deck de minha casa – era uma
festa para 03 pessoas, mas era uma festa.
Neste ano, a festa há de ser para dois. E
não mais!
E para a manhã de primeiro de janeiro, vou ouvir o que ouço com alguma frequência: o U2, cantando New year's day
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