Não tenho frescuras
existenciais de autoria. Logo, não escrevo melhor, nem escrevo mais quando
atravesso processos de dor. Em contrapartida, se deixo de escrever é por falta
de tempo mesmo.
Já escrevi de forma
corrida, claro, mas era alguma ideia previamente amadurecida ou urgente demais.
Mas, enfim, hoje vim escrever por estar feliz. A melhor felicidade que se pode
ter: aquela que é gratuita, sem motivo aparente, que não se deve ao que se
ganhou ou a nenhum tipo de compensação objetiva. Abraço a visita da felicidade,
deixo que ela sente em minha sala e desejo que ela durma comigo – se ela veio,
sabe do meu cansaço, do tempo em que levei a vida por demais a sério e, devo
dizer, tive três semanas de trabalho intensivo; precisei pôr os pés em
Salvador, após 23 meses sem ir lá; o que significou um estado de tensão, enfrentar
a BR 324, dirigindo sob as condições já esperada, sozinha, no fim da madrugada.
E assim o fiz, por duas vezes. Missão cumprida.
Encerrei minhas
aulas e minhas cadernetas há pouco e finalmente acabou o semestre. Hora de
arrumar a casa, poder ler um livro gratuitamente, no sentido de ler pelo lazer
e pelo prazer.
Termino esse ano sem
namorado. Tentamos e não deu: meu Rei de Espadas era muito infantil (a ponto de
esconder a idade, quando não havia como ocultar seus cinquenta e tantos anos
presumíveis pela cara e pelo currículo). Foi muito bom estar com ele, mas a
estabilidade durou pouco. Ele precisava de uma mãe, tinha um Édipo ali que me
cobrava coisas que eu não devia. Por um tempo, as neuroses dele eram amparadas
pelos meus desejos, porque funcionavam, para mim, como um ganho secundário.
Nossas conversas eram boas, nossas trocas eram boas...até que as trocas
começaram a resultar em prejuízos, porque eu dava bem mais do que recebia...e
um dia, vi a inadimplência afetiva e, então, terminei.
Terminei e nem
acreditei que terminei porque, se tem algo que me surpreendeu em mim, em 2021,
foi minha capacidade de encerrar, fechar portas, terminar e dizer ‘não’. E foi
um terminar tão contundente, que deixei na casa do Rei de Espadas um livro
imenso, importante, amado e caro e jamais voltaria atrás do livro, para não
gerar qualquer pretexto de contato com a Majestade.
Excepcionalmente, desfiz
minhas inscrições nos canais dele no youtube; desfiz a amizade no Facebook;
bloqueei no whatsApp e se virtualmente a gente se esbarra mudamente, é
por conta de um grupo de discussões políticas. Nunca fiz isso na vida. Nunca
cortei ninguém assim. Contudo, dali não poderia sobrevir amizades, nem se
reconstituir o contato, porque nosso contexto de término foi de extremo
desrespeito dele por mim.
Até tal momento, eu
não sabia qual era o meu limite. Sempre me achei emocionalmente frágil,
parcimoniosa, aberta à negociação...Mas, quando me vi desrespeitada, concluí
que nenhuma palavra promoveria a reparação moral a que eu faria jus; e
instantaneamente, como num trauma imediato ou algo assim, houve um corte
profundo em meus sentimentos. Foi um acabar sem lágrimas, embora não sem sofrimentos.
Até que passou rápido, porque a elaboração e o processo de um luto é looping
de altos e baixos constantes...mas, passou.
E, cito novamente,
outro encerramento igualmente maravilhoso foi sair da Revista Científica onde
Yves me explorava num serviço não-remunerado, em troca de supostos títulos
acadêmicos que nunca viera. Trabalho de normatização e normalização (colocar a
revista nas normas da ABNT), revisão ortográfica e textual; e emissão de
eventuais pareceres. Tenho um currículo robusto, mas nossas atuações perdem
validade nos baremas de universidades após transcorridos cinco anos. Então,
isso explica certas escolhas. Na vida real, meu nome não é o que aparece no
blog. Sou Mara, mas tenho um nome completo de que o Google e o Lattes se
encarrega de mostrar ocorrências. Acho que aqui é um espaço gostoso por causa
do relativo anonimato, porque quem vem cá, vem voluntariamente e minha censura
interior é menor por isso. Eu seria uma Youtuber fracassada, porque não vejo
graça em convocar seguidores. Aliás, falar para desconhecidos é até mais confortável,
porque o tipo de julgamento é outro.
Bem, vou aproveitar
o dia feliz, porque a felicidade é andarilha, passa rápido por onde anda –
preciso recebe-la bem, porque desejo que ela volte sempre.
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