Louquética

Incontinência verbal

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Caso de amizade


Não sei o que há de ofensivo em se declarar que se gosta de certo homem como amigo. Não entendo como isso pode ferir o orgulho masculino a ponto de quebrar, inclusive, os elos da amizade.
Quando eu era criança, sim, dizer que se gostava de um homem como amigo – bem como a recíproca, isto é, quando eles diziam gostar de uma mulher como amiga – era um modo discreto de expressar o desinteresse e sob o desinteresse o indicativo de que aquela pessoa era pouco atraente, pouco desejável, algo deste tipo.
Fico com Caetano Veloso “E sei que a poesia está para a prosa/assim como o amor está para a amizade/e quem há de negar que ESTA lhe é superior?”. Amores passam mais que amizade, sendo ambos igualmente importantes... Mas, sem querer enrolar ninguém, respondo em meu nome que não são escolhas isso de gostar como amigo ou gostar como homem. Talvez seja esse o problema: gostar de um homem como homem é, por certo lado, gostar de todas as potencialidades que um homem pode oferecer e não, necessariamente, circunscrever isso ao plano fraterno da amizade. Ah, pobrezinhos, não era para ferir.
Até hoje eu não sei o que me levava a sentar ao lado determinadas pessoas ao invés de outras tantas. Nem sei se esse negócio que dizem que “o santo não bateu” com o santo de outrem, se isso faz sentido. Temos empatias e antipatias, coisas que atraem e que nos põe perto de certas pessoas e coisas que afastam...
Sei o que me atrai num homem. Mas tenho em minha vida homens desejáveis que são somente amigos e nunca passarão disso. Cito aqui o Léo Bernardes, Wagner,Du, Ricardo e uns três ou quatro da categoria ‘mais ou menos’ que eu não posso dizer os nomes se não eles vão saber o nível de atração (ou não) que eles exercem sobre mim. São só amigos e ser amigo, ter amigo, é tudo. Vai pular aí a parte física do sexo porque menos por moralismo do que para evitar ressaca moral, não se deve ter sexo com os amigos. A amizade vai para as cucuias e nunca mais as coisas serão como antes. Amizade tem contato, tem abraço, tem amasso, tem beijinhos e paparicos, dengos de todo tipo, atenção e briguinhas, tem viagens juntos e tem ciúmes, tem carnaval e festa, tem despesas divididas e comentários risíveis das trapalhadas conjuntas. Não é muito? Fora que com os amigos a gente fala de tudo, inclusive dos amores.
Tem gente que não tem jeito: é amigo. E digo aos homens: não se confundam com a nomenclatura, pois o P. A. que é sigla de Pau Amigo não quer dizer que a mulher lhe considere amigo, mas que para ela você se circunscreve ao rol dos transantes, ou seja, os homens para sexo sem compromisso, sem cobrança, sem esperança de futuro. Se for amizade mesmo, não tem sexo não e isso explica porque algumas mulheres preferem a sigla HDM, que é Homem De Manutenção, caso em que é necessário o contato para manter o sexo quando não se tem namorado ou parceiros sexuais de outra categoria. Tudo isso com cuidado, proteção, respeito e nenhuma intenção de menosprezar a amada classe dos homens heterossexuais do sexo masculino – que, volto a frisar, têm que ser assim descrito porque hoje em dia falar apenas Homem pode significar os vários tipos flexíveis que há no mundo e que são polissexuais/pan-sexuais e transam com qualquer coisa que se mova (ou que sequer se mova porque tem uns que transam com cada múmia!!!).
Xico Sá fala que há o macho jurubeba, isto é, o homem macho heterossexual do sexo masculino que é sem frescura, que gosta de sexo EXCLUSIVAMENTE com mulher, entenderam? Mas já nem sei se estes existem mesmo ou se são lendas urbanas. Do jeito que estamos, já tem homem HIPERATIVO e homem HIPERPASSIVO: vale a pena testar antes de usar porque é capaz de a gente dormir com o Paulão e acordar com a Zuleica – o mundo já não tem índios Papachanas; predominam os Aquidaoânus e sei que por este contexto é até ridículo dizer que há homens de quem gostamos apenas como amigos. A safra já está escassa e ainda acontece de nossa seleção pessoal excluir uns para incluir estes mesmos no rol dos amigos.
Mas com amigo se pode falar de sexo sem os interstícios da mentira: ali a gente comenta performances, tamanhos, hábitos, faltas, excessos e até preferências. Não acho que tenha que haver tensão sexual entre amigos, não. Aí já não é amizade. Amizade tem as pequenas malícias, mas não as maldades. E deixo aqui minhas desculpas aos meus poucos amigos heterossexuais que possam ter me entendido mal e minhas sinceras desculpas por gostar como amigo de alguém que, se fosse por escolha, merecia ser muito amado.

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