Se fico sem
escrever aqui, sinto falta, de verdade.
Porém, o tempo
anda escasso demais, devido, principalmente, ao meu trabalho.
Sigo trabalhando
em Salvador, chegando tarde à minha casa, em Feira de Santana...Mas, é sempre
um prazer chegar em casa. O que lastimo é ter que ir de ônibus, gastar com
táxis e não ter a independência gostosa de dirigir: é que dou aula à noite e
temo a BR 324, na escuridão solitária da noite. Velho medo de um problema mecânico...até
que a concessionária que administra a estrada apareça, eu já pirei, exposta a
tudo. Portanto, pago o preço.
Queria mesmo era
contar que encontrei a pessoa certa, o homem dos sonhos, um bom candidato a
namorado.
É que cheguei à
cantina da universidade com um guarda-chuva na mão. A funcionária me
interpelou: “Nossa! Está chovendo?” e eu respondi: “Em Feira, estava. Aqui,
não!”
Nisso, um cara
se intrometeu, a me perguntar se eu era de Feira e se predispor, após dois
minutos de conversa, a ver possibilidades de traslado com os alunos.
Conto que me
abri igual a uma jaca mole que cai do terceiro andar. Porém, isso ocorreu
porque eu achei que ele fosse gay. Só faltei oferecer meu batom emprestado...
Dei meu número
de telefone a ele, a propósito de troca de informações sobre transporte direto,
pouco imaginando o que daria. Resultado: ele não é gay, é espírita,
inteligente, atencioso, carinhoso e investiu pesado em mim.
Entendi a mim
mesma após uma grande metáfora (ou terá sido meu mentor espiritual, na
verdade): fui comprar pão. Resolvi ver o balcão de salgados. Como a
funcionária, insistisse, aceitei levar um pedaço de sanduíche natural. Pedi um
pedaço pequeno. Ela me deu um volume imenso...Peguei a fila...Pensei. Procurei
pretextos...Larguei lá. Percebi que eu não queria.
Assim fiz com o
homem dos sonhos: eu não quis.
Estou bem com
meu Poeta. Gosto dele. Nem meu corpo nem meu coração negociam: não fico com
‘quem é melhor para mim’, como se estivesse a calcular perdas e ganhos...
Tenho ego,
gostei do paparico, do flerte, da situação...
Embora eu não
ame o Poeta, gosto sinceramente dele.
O que descrevo,
a respeito da gostosa sintonia sexual com ele, também conta, mas tem uma
diversidade de coisas que mexem com os meus sentidos: é aquele cheirinho dele,
que eu adoro levar comigo, impregnar minha memória olfativa com esse aroma; é o
cabelo que eu gosto de pegar e que é uma carícia para as minhas mãos; é a pele,
cujas imperfeições me encantam, porque, quando há espinhas, parece que há
açúcar granulado e eu rio da impaciência dele com isso.
A verdade é que
mudei bastante, não por exigência ou interferência do Poeta, mas porque há
pessoas que chegam até nós e abrem nossos caminhos.
Ele abriu meus
caminhos psíquicos, por meios traumáticos, associações traumáticas que me
fizeram deslindar coisas recalcadas no inconsciente. Não foi porque o Poeta foi
mau comigo, mas porque havia coisas nele que me lembravam ou me reportavam a um
passado que eu apaguei.
Logicamente, ele
é uma pessoa cheia de defeitos. Assim como eu.
Combinamos em
alguns defeitos e temos diferenças inegociáveis. Mas, é isso: não faço escolhas
afetivas...Na verdade, sempre que eu estive sozinha, querendo companhia, fosse
qual fosse a natureza do contato, nunca achei ninguém. Fazia buscas inúteis.
Porém, meus relacionamentos se deram por homens que vieram, que apareceram, que
tropeçaram em mim, que me buscaram...No caso do Poeta, ele veio por causa de
uma foto minha com um amigo dele, num lançamento de livro deste último.
Já me veio um
homem junto com a chuva, numa manhã de segunda-feira, na UFBA, quando declinei
dos sapatos e calcei sandálias ridículas, colocando o conforto acima da
elegância; e essa foi uma história linda, embora curta. Então, pelo menos
comigo, a busca nunca dá resultado se empreendida por mim mesma. Todavia, se me
acham, tudo dá certo.