Continuo na mesma:
sou uma das pessoas para as quais a quarentena não significou descanso ou ócio.
Não sobra tempo para a escrita, o dia consome-se numa rapidez improdutiva
absurda, de modo que faço em seis horas o que antes fazia em duas e meia.
Ah, as lives! Live,
para mim, é uma invenção do demônio, para perturbar a paz dos cristãos.
Fiz uma, medeei
duas. Assisti três de bom grado e fui a outras tantas por obrigação moral de
dar o like de apoio. Mas, não gosto mesmo de lives, por achar enervante.
Minha vida segue sem
festa e sem praia. Não acredito em novo normal, porque não é normal respirar de
máscara nem contabilizar centenas de mortos por dia num único país. Aliás, este
país não é normal, de forma alguma.
Dos relacionamentos,
em geral, o meu passou umas crises, depois se recuperou e agora segue
convalescente. Houve gente sortuda, que descolou namorado. Outras tantas
pessoas do meu círculo, perderam seus pares: convívio e paranoias, tédios
infinitos...
Fiz algo fora do
comum: voltei à academia. Não aguentava mais a vida atrofiada nas jaulas do
espaço doméstico. Tentei as caminhadas e as corridas, mas eram exercícios
tristes numa cidade doente, esquisita, que fechava portas cedo e aglomerava
gente demais.
Voltei em 08 de
setembro à academia. Fui com medo e tudo. Até o terceiro dia, os protocolos
foram rigidamente seguidos. O preço da mensalidade aumentou em trinta por
cento, para compensar sobre nós o período de fechamento.
No quarto dia, já se
revezavam alunos em aparelhos, o álcool já escasso, nem de longe era concentrado a 70 por
cento. Então, por medo, caí fora de lá antes de completar um mês.
O lugar com academia
de respaldo era o SESI. Extremamente protocolar e burocrático, me obrigou a
jornadas em cardiologistas e clínicos, a fim de prover o atestado de que estou
apta à prática de esportes. Gastei dez a quinze dias nessa luta. Agora, estou
no SESI. Valeu a pena. Hoje, por sinal, fiz spinning e adorei a
professora, que nos dá segurança e observa mesmo nosso desempenho. Odeio
negligência.
A musculação lá segue o básico, mas tudo é higienizado periodicamente, minuciosamente, em padrão alto de limpeza.
Assinei vários documentos atestando que sei dos riscos apesar dos cuidados. Gosto da responsabilidade deles. Se fossem mirar nos lucros, seria um lugar de maior insegurança e negligências mortais.
Este meu adendo foi,
exatamente, para dizer isso: há uma inflação que deixa o básico a preço de
supérfluo, por conta de especulação por lucros; e há o comerciante de todas as áreas,
que quer compensar perdas estourando preços e reduzindo quantidades e
qualidades. Agora, façam as contas: o básico está a preço alto – leite, óleo,
arroz, produtos de limpeza, higiene pessoal (creme dental a preço de ouro;
papel higiênico a preço de diamantes) – os empregos estão escassos, as perdas
salariais se acumulam...o que esperar destes efeitos a longo prazo? Já estou
com medo de 2021.
Todo dia reinvento a vida somente para seguir vivendo, porque nada é como antes...acho que nem eu sou como antes. Foram experiências pesadas, aprendizados e muito isolamento mesmo, sem abraços, sem festas, sem passeios, como se o mundo não fosse o mesmo...e não é. O mundo acabou: é Outro, já...