Está me faltando tempo para escrever, mas,
eis-me aqui, no aperto, para tratar sobre a vida. A começar pelas coisas
engraçadas e trágicas, meu analista atual não sabe que é meu ex-analista. Fui a
ele por recomendação de uma amiga, também analista, que por conta de nossa
amizade não poderia me atender.
Para começo de conversa, analista com fé cristã é uma incongruência. É preciso se garantir muito, a ponto de não cruzar as fronteiras, porque são coisas antagônicas a religião e a Psicanálise (Freud escreveu O futuro de uma ilusão, lembram? E a ilusão vocês sabem qual é), porque arregimenta noções de culpa, perdão e muita coisa e ideias inadequadas com o necessário processamento e elaboração de questões internas. E eu sou espírita kardecista, logo, creio em Deus. Porém, na psicanálise, não dá.
Então, meu
analista K. se vangloriou de ter lido Augusto Cury, reproduziu que “Jesus
Cristo foi o maior psicólogo que existiu” (verbos no passado porque eu quis) e,
na terceira sessão, para me dar um exemplo, saiu pulando na sala, porque achou
a linguagem verbal insuficiente.
Citou, feliz, um livrinho de autoajuda de
casal neurótico (As cinco linguagens do amor) e me fez perguntas de bolso,
questionando o que para mim era mais difícil dizer: “EU TE AMO”; “VOCÊ ME
INSPIRA” e outras três igualmente rasas, sendo que eu nunca disse a segunda a
ninguém. A bem da verdade, me senti palhaça.
Com uma personalidade sedutora (termo que
deve ser entendido na perspectiva da psicanálise e não como a ideia de que ele
seja galanteador, assediador ou conquistador), fala muito de si, conta de seus
15 anos de casamento e dos encontros com os amigos de longa data. A ideia dele
é aparecer e ser reconhecido. Achei deveras inconveniente, não vi minhas
angústias se resolvendo e lancei mão de um balaio de gatos para me
desvencilhar, de modo que disse que não voltaria, mas deixei de acrescentar o
NUNCA MAIS.
Acrescentando, afirmo que tenho estado
indecisa e triste. Triste porque vivo indecisa, com pouca visão sobre as
coisas, sobre a minha vida. Apesar do namoro recomeçado e das vezes em que me
vejo feliz por ter uma excelente companhia para sair, noto que muito me falta.
Não me sinto amada, nem tratada como eu deveria. Aí, estou carente. Carecer é não
ter, é sentir falta de alguma coisa ou de alguém. E eu sinto. Desde que acabou
minha relação com o Poeta, as noites mudaram, as madrugadas ficaram chatas. E dói
não por ele, em si, pois que não nutro nenhum sentimento amoroso; mas pelas
aventuras boas dos encontros, do sexo bom e pleno...Aliás, como é difícil achar
afinidade no sexo com um homem. Por eu ser tímida, não tomar bebida alcoólica e
pouco sair, fica difícil penas em encontrar um homem compatível comigo. Mas, amor é sorte...queria fazer uma aposta certa.
Outro problema: independentemente de minha
posição política, eu gostaria muito de ter algo de bom para falar do governo atual, gostaria de
poder fazer um elogio, mas, como, se a incompetência impera? bem, além de tudo, a inflação está comendo meu dinheiro,
minhas condições materiais. Se muito eu tenho conseguido guardar, não passa de
600 reais por mês.
A inflação aqui de casa – porque, gente, índice
de inflação de instituto de estatística e de telejornal não trata do dia-a-dia
de gente real tipo eu – está lascando. Comida principalmente. Acho que quem se
alimenta direito está na faixa da ostentação. Pão a quase 20 reais o quilo; frutas,
temperos, nada custa menos que 5 reais o peso mínimo; produto de limpeza está a
preços exorbitantes e papel higiênico, do pior tipo, 13 reais por 12 rolos –
sendo que um rolo tinha 30 metros, mas hoje em dia tem 20.
Produtos de higiene pessoal, nem se fala.
Viver pode ser o maior barato, mas não está barato não.
Toda semana, cem reais de gasolina, no
mínimo.
Faço uma outra graduação, então, pago
Faculdade.
Faço psicanálise, então, pago a um ser humano que me veio com “As cinco linguagens do amor”, o que me mostra o tamanho de meu desperdício.