Não me queixo do ano
que está acabando, apenas reclamo do cansaço das causas acumuladas. Posso dizer
que de setembro para cá foi época de cansaço mental, de desgastes psíquicos e
encargos emocionais. Nada se compara aos meus dez dias frequentando (vivendo, permanecendo)
um hospital para ficar com meu tio doente. Isso significou oferecer a ele
segurança, dar garantias e assistência psicológica de que o mundo dele não iria
desintegrar e que ninguém da família iria decidir por ele os rumos de seus
pequenos bens. Mas, até este fatídico novembro, muita água rolou sob a ponte da
minha vida.
E deixei o hospital,
suas filas, burocracias, negligências e tragédias, sem trazer meu tio comigo –
ele morreu após uma cirurgia.
Não sou uma pessoa
alienada a ponto de agradecer pelas tragédias, mas sou grata mesmo a Deus por
ter sobrevivido a tantas coisas – prejuízos materiais, acidentes terceirizados,
porque foram coisas que resvalaram em mim e, portanto, foram causas indiretas
de perdas materiais e, claro, meu luto amoroso que me faz defrontar comigo
mesmo no espelho, a duvidar de minha sanidade, porque não faz o menor sentido
gostar de quem não tem o mínimo qualitativo emocional, isto é, maturidade. Aprendi que, de fato, renunciar causa o maior
peso ao ser humano. Entendi melhor porque dói escolher entre duas pessoas, entre
várias opções de qualquer coisa. Devo frisar que o pessoal do poliamor resolveu
isso simplesmente acumulando gente. Decerto, não sai de graça. A estrutura
emocional que gira nessa assumida ausência de estabilidade, é para quem
aguenta. Se a dois a gente já não tem estabilidade nem garantias, já corremos o
risco de sermos trocados, deixados e preteridos, imagine quando se envolvem
mais pessoas. Entretanto, é ótimo viver na sinceridade e tanto não precisar mentir,
quanto não ouvir mentiras. Poliamor não exclui o respeito. Porém, ao invés de
escolher uma pessoa, fica-se, em comum acordo, com quem está e quem mais vier.
Enfim, pelo cansaço
também estou avaliando largar umas coisas. Também entendi que há distinções
severas entre a perseverança, a persistência e a teimosia. Sob esta última está
minha (e nossa) necessidade de renúncia.
Renunciar é difícil,
sim. É dizer não àquilo que a gente quer e deseja. É um exercício terrível que
justapõe o que se quer, o que se pode, o que convém e o que é melhor para a
gente. Renunciar é desistir, mas uma desistência consciente, nobre porque faz
parte da autopreservação, mas não menos dolorosa.
Fim de ano não é fim de mundo. É somente rito de passagem.Deixa o calendário rodar