Na faixa de maturidade psíquica que alguns de nós se encontra, já é possível admitir e aceitar que sempre conviveremos com a falta.
Também já fiquei
indignada pensando em gente que tem tudo, tipo os tantos cantores de que a
gente teve notícia de cometer suicídio.
Se esse povo com
inteligência, dinheiro, talento, beleza e fama, não aguenta o peso de existir,
ficamos cá, do outro lado da realidade, imaginando ‘se eu estivesse no lugar
dele, com tudo que ele tem, seria muito feliz’. E também imaginamos por que
mesmo tendo tanto, porque eu sequer mencionei a juventude, ainda assim as
pessoas vivem numa infelicidade explícita, correm para vícios, morrem cedo –
Kurt Cobain; Chriss Cornell, Amy Winehouse, dentre outros.
Igualmente, quando
vejo mulheres bonitas, jovens, ricas e poderosas bradando a traição sofrida, vejo
que na vida real estão todos sujeitos aos mesmos destinos, comuns à humanidade.
Também penso, quando
nas minhas dores, como seria bom haver remédio para esse tanto de capivara
psíquica.
Minha amiga foi
pedir ao analista um jeitinho de se envolver com um homem, mas sem se
apaixonar. Ele disse que isso não é possível, porque não há escolhas. Pode
ocorrer paixão ou não ocorrer. Zero garantias.
Sou favorável a corridas,
dança, atividades físicas, em geral, para esses quadros – rejeição sofrida,
término de relacionamento, perdas, lutos, tristeza e angústia – porque ajuda a
impulsionar estados dopaminérgicos. Não acho, contudo, que depressão se cura
com lítio, que os troços dos sofrimentos possam ser resolvidos com
antidepressivo e anti-qualquer coisa. Ficar dopado (embriagado, dopado, delirante em crenças
fundamentalistas) só vai anestesiar a dor. Daí, o efeito passa e é preciso se
anestesiar de novo. Eis o vício.
Sou a favor da
sublimação. O senso comum diz isso de uma maneira grosseira, sugerindo que se ‘procure
um lote para capinar’, ‘uma roupa para lavar’. É recomendável se ocupar, a fim
de dar descanso para o pensamento, que se fixa apenas numa causa, num objeto,
num objetivo.
Acho um desrespeito
a indústria farmacêutica e seus representantes da categoria médica, sugerirem
que somos movidos a hormônios, a substâncias químicas – sim, elas exercem
influência – enquanto somos mais complexos do que isso.
Porém, tem que viva
em fuga, quem mude de assunto, quem queira curar dores tomando cerveja, ou
traçar compensações por meio de exageros em sexos vazios, em compras, em desequilíbrios
disfarçados de aquisições materiais... são tantas as encenações de cura.
No fim, não podemos
nada, de fato. Na hora da dificuldade psíquica (todo tipo de dor existencial),
não sabemos quanto vai durar, não determinamos o fim. Determinamos a dignidade
nossa no meio da questão. Portanto, medimos se vale a pena passar por
humilhação para mendigar amor, seja do par ou dos pais; e desde que o Outro não
os corresponda, de que valeria ficar com alguém, forçando a que ele queira o
que ele não quer; sonhando em fazer o outro lhe ter amor? Nossos problemas vão
além disso: esbarram na busca por reconhecimento, em esperas por gratidão...e
tudo que vem do outro também é incerto. Isso vale mesmo uma vida?
Largar, declinar,
desistir, não são derrotas. Até quando valeria insistir? Quando tempo estamos
dispostos a viver em função desse detalhezinho que, se obtido, dará uma alegria
temporária, até que nossas faltas sejam novamente evidenciadas? A vida é
jornada e é batalha, conforme nos ensinou a Odisseia. Mas, creio eu que a vida
é busca – buscamos, encontramos, buscamos outras coisas, encontramos, perdemos,
buscamos de novo num looping infinito.