Louquética

Incontinência verbal

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Goela abaixo

 


Pessoas apaixonadas são capazes de muitas loucuras. Desejar e ter é mesmo enlouquecedor!

Muitas pessoas entram em disputas ou ouvem e aceitam que “devem lutar por um amor”. Conselho mais inadequado não há. Se um amor precisa de luta, você já perdeu.

Se a promessa de ‘trago a pessoa amada de volta, em três dias” desse certo, que sensação horrorosa não despertaria esse artifício de forçar quem não lhe quer a estar com você. Já pensou no contrário? Imagine você, ao lado de quem não lhe interessa, de quem você não gosta?

Mas, quem ama não quer saber da vontade do ser amado. Quer é que a pessoa lhe corresponda à altura. E se não lhe corresponder, que seja forçada a ficar com quem não quer.

As lutas por amor se justificavam, sim, outrora, quando as famílias eram inimigas, quando um pai se interpunha contra um casamento de filha/filho por conta de castas, status quo, sobrenomes e posses. Era a luta de honra, para se provar a dignidade.

Luta em termos de disputar com outra pessoa o coração de alguém, além de descabido é ridículo. Se a coisa exige esforço, força, luta, não estamos tratando de sentimentos reais e espontâneos.

Para a mulher, a coisa é um tanto pior, devido à cultura e educação patriarcais. Entende-se muito mal o preceito bíblico de que ‘a mulher sábia edifica o seu lar’. Puxo aqui a música de Francisco, el hombre: “Você é seu próprio lar”

Essa suposta mulher sábia não é aquela que engole tudo para sustentar um casamento fracassado, para prender a si um homem que já não a quer; não é aquela que espera o marido cansar da amante. O lar vai além da casa.

Essa coitada é a que ouve e aceita que ‘o que o homem não encontra em casa, vai procurar na rua’, isto é, ela deve se submeter ao que não é o seu próprio gosto e desejo, se não, o maravilhoso marido vai procurar amantes. Coitada: não sabe que os desejos não cabem em um casamento. E vamos, pois, falar sobre isso, embora não se resuma às mulheres em um casamento.

Acredito eu que sexualidade é algo particular, privado e individual no sentido daquilo que agrada a cada um. Preferências, fantasias, fetiches, orientações sexuais, tudo isso é particular e não cabe julgamento, desde que não ponha a vida de ninguém em risco, nem represente violência que não seja ajustada em comum acordo, aqui me referindo àqueles tantos seres humanos chagados em práticas desse tipo. Em resumo, em termos de sexo, o que não é contra a lei, cada um tem plena liberdade de usufruir sem precisar pedir permissão ao vizinho.

Todavia, me causou triste perplexidade quando vi uma moça ensinando a fazer garganta profunda, em postagem replicada nos comentários de um blog que eu gosto e frequento, que, por seu turno, é blog de humor.

A moça ensina que, para a garganta profunda, se deve estar de estômago limpo, vazio, e procurar ficar relaxada (o), introduzindo o pênis lentamente na boca, até preencher a garganta, pois o normal seria ter ânsia de vômito.

Ela explicou minuciosamente o sacrifício incômodo. Eu só pensei que era impossível uma pessoa sentir prazer em estar com algo na garganta, a ponto de vomitar, só para agradar um parceiro.

Se fosse bom para ambos, se fosse uma fantasia compartilhada, com alguma contrapartida positiva, tudo bem.

O mesmo se aplica a qualquer outra prática que as pessoas em geral, mas as mulheres em particular, se permitem, apesar de desprazerosa ou incômoda, só para agradar o parceiro ou por achar que assim se fará amar. Não, são duas casas diferentes: a do amor e a do prazer.

Mulheres ficam com homens que não lhes dão prazer. Homens, ficam com as mulheres que amam e com as que lhes dão prazer. E não misturam as casas. Por isso, raramente eles desfazem o casamento para poderem ficar com as amantes. Não, eles ficam com as duas.

Mulheres renunciam ao prazer com maior facilidade.

Mulheres também traem, claro. O que mudam são contextos e causas.

A pessoa, quando bonita, terá maior facilidade de ser desejada sexualmente. Não têm garantia de amor – olha quanta gente feia você deve conhecer, que é amada, casada?

Aparência ajuda em muita coisa, é capital simbólico que abre portas. Porém, não define que gente bonita será gente amada.

Não me lembro de ter visto ou ouvido falar de homens querendo aperfeiçoar a si mesmo com vistas a agradar uma mulher. Isto indica o quanto somos dependentes deles, o quanto investimos para sermos amadas, preferidas, ou seja, de alguma forma, entramos em disputas não assumidas.

Para não perdemos a leveza do bom humor, repito o que aprendi com um chefe que tive, que costumava dizer que “sapiência é a capacidade de engolir sapos”. Não tenho nada a ver com as decisões de terceiros, mas tenho olhos abertos quanto a tantas coisas que nos querem fazer engolir goela abaixo - em qualquer sentido que vocês queiram entender.