Louquética

Incontinência verbal

domingo, 30 de novembro de 2014

"Ela" e as partes íntimas


Fico olhando nas mensagens terceirizadas, isto é repassadas, que recebo, o quanto os homens se expõem em fotografias íntimas. Íntimas é eufemismo para a mais absoluta exibição de pau ereto que o planeta já viu. Pelo menos, os exibidos literalmente confiam no próprio taco...e com a banalização das 'partes' expostas no mercado da conquista sexual, os que não mostram caem na suspeita de não corresponder a um 'mínimo' esperado.
Assisti, neste fim de semana, ao filme "Ela", de Spike Jonze, tão comentado, tão indicado ao Oscar...E, sim, com razão: é um excelente filme. O assunto gira em torno da relação do homem com a máquina, mas o problema nem é este: é que a máquina simula emoções humanas, expressa coisas humanas e faz com que o protagonista se apaixone por um Sistema Operacional, assim: inteligência abstrata sem corpo físico, uma voz feminina, um programa personalizado, acesso automático aos e-mails da pessoa e muita capacidade de responder às carências humanas (lógico, foi criado para isso).
O filme mostra as pessoas sempre conectadas, próximas umas das outras no metrô e nos ambientes sociais, mas distantes emocionalmente. O outro está logo ali, à sua frente, sozinho. O outro está logo ali, do outro lado da parede, no apartamento vizinho, pensando em suicídio, tomando anti-depressivo, à procura silenciosa de companhia. mas ninguém bate à porta de ninguém.
Joaquín Phoenix interpreta o protagonista de forma bem convincente e talentosa. Interessante é a forma como ele acessa às salas de bate-papo, como as pessoas se expõe em seus desejos mais esdrúxulos, como a mulher que faz sexo virtual com ele e pede para ser estrangulada com um imaginário gato morto que está ao lado da cama... E se no fim todos gozam, o sintoma maior da enfermidade da vida social se anuncia nessa incapacidade de acesso direto ás pessoas: tudo fica melhor com o anonimato, todo o simulacro é vivido como verdade, à distância, à base de ilusão ampla, plena e ilimitada.
E como uma coisa leva à outra, pensei no rapaz que se exibia para a minha amiga pelo what's app: jovem, lindo, saudável e bem dotado. Ele poderia ter qualquer mulher que quisesse, pelo menos teoricamente...Entretanto, apesar de ter alguma namorada, perde tempo e corre risco distribuindo fotos do pau por aí.
Em ambos os casos - na ficção e na vida - a incapacidade latente de lidar com sentimentos, pessoas, complicações, complexidades..

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Era doce e acabou...


Já me queixei da falta de um amor e já ouvi minha amiga dizer que meu perfil no Facebook esboça a minha carência. Lógico! Gosto de um homem que não gosta de mim. Não obstante, não vou importunar a pessoa nem forçá-la gostar de mim e tampouco tratar como opção do ego dele, ferir ao meu ego.
Há pouco o meu ex, FJ, esteve em mi ha porta. Nove e meia da noite e FJ escandalizou em minha rua, gritando meu nome no portão, numa fissura inexplicável. Atendi a contragosto.
Ele reclamou que eu o tratei mal na vez anterior, quando ele surgiu do nada em meu portão. Expliquei  que não havia o que conversar, que realmente eu não o queria em minha casa nem em minha vida. Pronto! só isso: acabou.
Já há um tempo sei que ele e outro me stolkeiam no Facebook. Presumem que se eu não tenho namorado, estou à disposição ou sou presa fácil. Não funciona assim, mesmo por que eu gosto de V. Não estou disponível se meu coração está ocupado.
FJ disse que eu não tinha argumentos para ele, que ia embora para o Rio de Janeiro na terça-feira e etc., pediu para entrar, eu não permiti e ele então perguntou por que eu tinha mágoas dele e por que era tão grande. Não tenho magoas dele, necessariamente: é que acabou. E quando acaba, paciência. Já tem um ano. Ele precisa processar o término.
Sinceramente, tenho identificador de chamadas por causa dele, para me prevenir e me afastar. Ele ligou de novo, mil vezes. Eu não atendo. Não quero contato.
Também me apareceram dois ex-namorados entre a quarta-feira e hoje. Não gosto disso, não é motivo para me vangloriar: as pessoas vivem suas relações. Depois que termina é que vão avaliar o que ficou para trás? o tempo passa, o amor acaba, o interesse muda. Não quero. Especialmente o que mexeu com o meu orgulho, incapacitando minha possibilidade de sonhar, ao dizer que eu não criasse expectativas, após nosso terceiro encontro - nós, mulheres, passamos por isso. Não quero. Não estou disponível. A resposta é não.
O terceiro deles me cansa. Gente que eu amei e cujo amor passou, me cansa. Uma vez superado, não tem retrocesso.
Caso FJ insista demais, vou pedir uma medida protetiva. Não quero ele. Ele viu que eu sequer quero olhar a cara dele.
Não importuno  a pessoa que eu gosto. Se eu pudesse, colocaria outdoors pelo caminho de V. e diria o quanto eu gosto dele, que desejo ele e que significa muito para mim. Se eu pudesse, estamparia em camisetas o quanto é grande e verdadeiro o que sinto, diria dos lugares que eu queria que a gente fosse juntos, discutiria música, política e filosofia e finalmente daria todos os abraços acumulados nestes seis meses de paixão e amor contido e recolhido. Porém, se V. não esboça nenhum movimento que me leva a me julgar correspondida, deixou-o em paz. Calo meu amor por ele. Calo o afeto no silêncio do respeito ao outro. Recolho meus ciúmes não declarados, porque acho que ele deve ter alguém, e vivo.
Não quero o passado em meu portão, nem quero incomodar com meus amores a quem não me ama.
Respeitar é também saber deixar em paz e aceitar a decisão de quem não nos quer.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Amor à primeira 'lida'


Zero Um não atendeu meus telefonemas ao longo do dia e eu, apesar de uns graus de angústia, resolvi aproveitar a 'deixa' para me livrar dele.
Ora, se a casa caiu e o inquilino era inoportuno, vou fazer outros alicerces e buscar outras morada.
Ao volta do trabalho resolvi ir à livraria, espairecer comparando livros. Somente um eu planejei a compra. Os demais viria conforme o acaso. E assim foi. Escolhi um que se chama Parafilias, cujo autor é Alexandre Marques Rodrigues, uma obra contemporânea que reúne contos pautados pelo sexo, pelo erotismo, mas pelos dramas coletivos da vida urbana. Abri, li um pouco, gostei e levei. Já na fila do banco, li dois contos.
O outro, do acaso, que comprei, foi bem por uma escolha engraçada mesmo. Fiquei invocada com o título, pois que o livro estava vizinho de outros de meu real e primeiro interesse. Este, na linha duvidosa, tinha o título: Tudo o que você queria saber sobre uma amantes e...tinha medo de perguntar, do Uruguaio Marcelo Puglia. E eu não ia comprar um livro porque era engraçadinho e podia até ser auto-ajuda ou psicanálise de banheiro. Mas, por brincadeira e interesse fui a uma sessão do livro, o capítulo III - As amantes e seus signos, com as sub-sessões: Conquistando,  características e cuidados.
Se tem uma coisa de que gosto, é ser ariana. Adoro meu signo. Adoro o nome do meu signo (Áries) e lá fui eu ver o que estava escrito. Eis os principais fragmentos:
"A AMANTE DE ÁRIES - 21 de março a 20 de abril
(...) a ariana não é chegada  a "Mauricinhos vazios" ou playboys; prefere os homens inteligentes, aqueles que têm alguma coisa para dizer (não é necessário discursar sobre a teoria da relatividade ou a baixa do índice Dow Jones).
CARACTERÍSTICAS E CUIDADOS - A ariana não precisa de um homem ao seu lado para sobreviver ( provavelmente muito menos de um amante).
São muito chegadas num romance. Você somente vai conquistar seu coração se for, por exemplo, um herói medieval, desmontado do cavalo com uma brilhante armadura. Se não tem vocação para herói, suba no cavalinho e saia de mansinho.
ter uma amante ariana é ótimo, se o que você quer é se separar da sua esposa. O que é dela, é dela. E você já em dona.
(...) Uma coisa boa pelo menos. Raramente você será traído por uma mulher de áries; são muito sinceras para ficar com duas pessoas ao mesmo tempo (tão sinceras que podem contar tudo para sua esposa, a qualquer momento).
(...) Não se esqueça de que, apesar daquele sorriso lindo e sedutor, ela se magoa com facilidade; no caso de uma amane, isso pode ser fatal.
Sinceramente, há mais 11 signos, continue procurando, pois a ariana não é indicada para ser sua amante." (pp. 36-37)
Aí comprei o livro.
Tenho que admitir que me identifiquei, o autor está certo, o cara acertou tudo. Ganhou a leitora!
Adoro livros. Achei um bom pretexto, porque ali está uma base de ironia, humor, verdades, brincadeiras...Divertido e interessante, bom para me desviar de angústias.


domingo, 2 de novembro de 2014

Ouvinte oculto


Depois que a casa cai, não adianta chamar engenheiro credenciado no CREA. Estava eu falando ao telefone com uma amiga, contando das aventuras amorosas, eróticas e intelectuais que vivi há uma semana, quando fui a um congresso em Pernambuco, quando o meu querido Zero Um, distante e descartado de minha história entrou sorrateiramente em minha casa e pegou setenta por cento da parte mais pesada da história.
A verdade é que mandei ele pastar há um tempo. Aí ele começou a aparecer, estava doente e carente. Como eu pouco fico em casa ultimamente, parei de brigar. ah, quer aparecer, apareça. Quer ficar, fique. Ele, então, um cadáver ambulante, mais sono do que gente, uma presença muda consumida pelo abuso cumulativo do álcool. Desperta mais piedade do que ódio.
Acontece que as concessões feitas fizeram com que ele presumisse meu interesse e reconciliação. Nada feito!ms eu jamais tripudiaria sobre o cadáver de quem gosta de mim...E ele ficou arrasado ao saber que eu estava de flerte maciço com Vítor.
Outro dilema: Vítor é hiper-mega-maxi-plus inteligente. Formado em Direito, Letras, Filosofia e sei lá mais o quê, doutor e professor efetivo de uma universidade federal badaladíssima. E eu me sinto rasa como um pires, perto dele.
O menino tem conteúdo, é lindo, gentil e cavalheiro. Por conta disso tudo, meu amigo de quem partiu o convite para o congresso, ficou sugerindo que Vítor era gay. Tal manobra foi feita para que eu ficasse com quem meu amigo queria que eu ficasse, isto é, com um amigo dele, que vou chamar de N.
O tempo passou e se tem uma coisa difícil, durante um evento acadêmico, é conseguir ficar a sós com alguém: igual a quando estou na universidade em que dou aula. Não tem chance de privacidade, onde quer que você vá, no banheiro, no pátio, no estacionamento, há sempre um aluno, um chefe, um conhecido, um parente do amigo do vizinho do funcionário da universidade ou seja lá que porcaria seja, para empatar os planos de ter um interregno secreto com alguém. E assim foi!
Umas vezes eu não entendia N., nem os olhares, nem a sugestão para que eu voltasse com parte do grupo antes de concluída alguma atividade coletiva, como os passeios; ora ele se exasperava e me olhava como se eu fosse um bife com batata frita, apetitoso e suculento. Era assim uma cara de desejo de comer.
Nestas ocasiões, eu e Vítor meio distantes. Suponho que ele tenha sido, também, envenenado para ficar longe de mim...
E nos distanciamos na véspera de eu ir embora.
E N veio com tudo e ficamos juntos. Eu sei lá o que me deu... Mas tudo secreto, arranjadinho arrumadinho. E quando eu digo que ele veio com tudo preciso explicar: eu estava indo com o amigo JP ao salão, dar um trato no cabelo. Passei no hotel para pegar um Bepantol e coisas pessoais para tomar banho na casa do JP que é vizinha ao salão.
Ao descer com as tralhas, JP falou que N queria falar comigo e blablabá. Dez minutos depois ele chegou, numa pressa, num desespero, numa fúria, cantando os pneus do carro - e nem eram 18 horas ainda, sendo que uma hora depois teríamos que estar no evento. Talvez esse cronometro explique tudo.
Acho que eu nem disse nada e partimos para o beijo.
Depois juntei A com B e fiquei virada nas setecentas com os dois: ora, JP e N, amigos de Vítor de longa data, me induzirem a pensar que o cara era gay, só por interesses particulares deles. poxa, que traidores!
Acabou que Vítor veio falar comigo, fugimos do evento para tomar um café gelado e desta parte em diante da narrativa do vivido e do relatado para minha amiga, Zero um ouviu e sabe de tudo.
Magoadíssimo: ouviu que Vítor me deu chocolates, que tínhamos muitas coisas em comum, que eu fiquei impressionada e etc. O problema é o 'etc' das coisas.
Gostei muito da viagem e já fazia um tempo que eu não namorava em congressos. Valeu a pena. Infelizmente, o dano colateral foi magoar Zero Um, que não merecia tomar conhecimento de coisas deste tipo.
Fui, vi e vivi.