Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Para quem tem fé


Acho que andei mentindo. E foi para mim mesma: meu diário está largado há um tempo e isso não foi necessariamente uma escolha, mas uma decisão tomada inconsciente, por conta da eterna vigilância das pessoas em geral, quando veem à minha casa, e por causa do outro lá, com quem tenho um rolo mal resolvido que se arrasta há umas três encarnações.
Pior é que me fez falta: escrever, desabafar, constatar que o escritor (qual mesmo) estava certo ao dizer que cada pessoa tem a vida pública, a vida privada e a vida secreta, e ver que os meus segredos pairam na minha cabeça, por medo que o registro deles seja compartilhado.
A triagem espiritual, um verdadeiro CSI das vidas anteriores e da vida presente me encanam: poxa, a gente luta para segurar um segredo, guarda a sete chaves, desvia de testemunhas, compra alguns silêncios...E vai um médium e plaft! toca no assunto e te dá indiretas. Eis o preço de estar me tornando espírita.
Descobri muito sobre religiões nestes meses passados. Mais ainda quando estive em Porto Alegre: havia um tempo que eu via a insuficiência de algumas explicações, que me conformava pouco com a lógica radical da causa e do efeito, num circuito de vinganças e compensações pós-mortem até à dita evolução, que preconizam os espíritas kardecistas; também me senti desconfortável na Umbanda e se aceito a construção arquetípica dos orixás (sim, eles me ensinam muito), não me me articulo com outras obrigações e ideias; da vida católica, então, ficou o saldo do marianismo, em que creio; os aprendizados de Jesus, de Deus, do Espírito Santo, em sua força explicativa que alimenta a minha fé.
Caí, portanto, no lugar comum, vindo a afirmar: A gente não escolhe a religião. A religião é que escolhe a gente. E a religião da gente deve ser aquela que nos faz sentir bem, que se permite entender e que nos entende.
Pois é. Fiquei surpresa com a forma como os Espíritas Universalistas aceita o corpo e as aflições do corpo, como entendem o sexo, como entendem a vida e as Encarnações e como deixam claro o que se pode fazer numa existência para consertar certas coisas e romper com outras, que estão impressas em nossa alma e que repetimos, inconscientemente.
Na noite que passou ate sonhei com isso: por que temos tantos complexos com o sexo? É só sexo. É só o corpo pedindo prazer. Por que é sujo? Por que é feio? Por que tem que ser escondido? Por que tem que ser negado? Por que incorporamos as coisas mais negativas sobre ele?
Sim, temos responsabilidades e moralidade. Temos instintos e temos escolhas.
E daí? Por que acreditamos que o mundo espiritual nos condena por  causa do sexo? por que ele se relaciona imaginariamente com a expulsão do Paraíso?
Pensei nisso tudo à medida que sonhava.
Por meu perfil espiritual, sou tímida e auto-repressora agora, porque já usei e abusei do corpo, em outras Encarnações, para fins de moeda de troca, ascensão, dinheiro, poder...Ai radicalizei: vim nesta vida, como professora, tímida e pudica.
Certeza eu não tenho de nada. Mas aceito a lógica proposta, os pactos e os preços.
Recebi cartas psicografadas e desenhos feitos por médiuns do Centro Espírita de Porto Alegre. Aceitei. Encontrei outros irmãos de caminhada nos amigos que lá fiz. Medo eu tenho. Acho que tenho que cuidar de minha vida e cada um tem que cuidar de sua própria morte, não viver enchendo o saco da gente que tem medo de dormir no escuro.
Outras coisas não me convencem, porque desafiam a Inteligência que Deus tem: uma pessoa morrer criança e vagar no mundo espiritual com a mesma idade em que morreu não seria justo. O que uma criança, na conformação mental de criança, pode entender acerca do que houve? acerca de que passos dará? sim, todas as religiões têm falhas e insuficiências, umas, então, têm explicações ridículas e inverossímeis. A maioria é inverossímil. Estou me tornando...para ser, tenho que estudar e me formar espírita, em termos de compreensão.
Vamos la. Estou aqui para aprender.

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