Talvez
devêssemos mesmo guardar uma certa distância das pessoas, para evitar devassar
as verdades de cada uma. O excesso de intimidade vaza as películas das verdades
ocultas, das verdades encobertas...
Se agora
reclamamos das inimizadas extra e intra-familiares, foi porque finalmente enxergamos
aquele preconceito outrora abafado, louco para sair pela boca afora, mas impedido
pela educação, pela vigilância do politicamente correto. Mas ele estava ali. Bastou uma eleição, uma identificação ideológica e o monstro saltou para fora da cela.
Também na vida a
dois, seria preciso que não desejássemos saber de tudo, conhecer tudo sobre o
outro...nossa curiosidade nos suborna, faz tirar a pele do cordeiro e encarar o
lobo, o chacal devorador, que silenciado, dorme oculto nas sombras dos bons
relacionamentos.
Já desfiz uma
amizade tristemente, porque o amigo, do sexo masculino, interpretou minha
educação e descontração como sendo uma declaração de amor. Tenho vergonha até
de falar, mas só tive um amor na vida. A vida tem muitos amores, sim. Mas
aquele amor que bate, modifica e transtorna o ser, só tive um.
Amor não anda
livre pela esquina, aos montes...
Gostar do Poeta,
eu gosto. Amar não anda fácil.
De repente vem o
desconforto da má interpretação e, para evitar novas confusões, nem ‘bom dia’
eu dou mais ao amigo citado. Deus me livre! Ainda mais, que nada nele me
atrairia como homem – ficou, pois, na admiração pela inteligência e
criatividade, apesar dele não ser feio. Amigo é amigo, não flerte.
De outra amiga,
fica a consideração em meu coração: gosto dela, vou gostar eternamente... Mas,
hoje em dia é preciso bem pouco para que eu perceba o pouco-caso, a
distância...Então, viajei para cidade em que ela mora, curti o que havia a
curtir, mas não a procurei nem a procuraria jamais.
De outro modo,
há também os laços desfeitos que te libertam das pessoas ‘pesadas’. São os
amigos interesseiros, oportunistas, que estão mais interessados em terem alguém
para dividir a gasolina do que partilhar a amizade real. São aquelas pessoas
mofadas, que nunca fazem nada por nós, nunca saem, nunca partilham, exceto em
causa própria, incluindo a gente nos programas e nas viagens apenas para
reduzir o impacto financeiro dos gastos.
Meus amigos
reais permanecem em minha vida. Pode ter a crise que for, eles estão comigo no
desemprego ou na fartura, na alegria e no transtorno, dando força durante a
fraqueza e dando porrada na hora em que não me emendo e insisto num erro. Estes
são meus irmãos verdadeiros, a família real, fora da consanguinidade, não há distância
que afaste ou derrube.
Acho que
precisarei muito dos meus amigos, agora que o Brasil revela sua simpatia por um
tirano. Serão quatro anos ainda mais difíceis para o cidadão comum,
especialmente para os que não se deixam levar pelas parcialidades que atraem os
incautos. Mas, enfim, estive do lado certo do front. Fair play!