Andei em contato com ex-colegas de trabalho, do tempo
em que fui militar. Encontro por acaso, num show da Legião Urbana, há uns
quinze dias e me colocaram no grupo do povo.
Que o Brasil está dividido, todos sabem. Mas, o nível
da lavagem cerebral a que a coisa chegou, é estupenda. Todos fascinados,
comprando briga, abdicando do respeito, abrindo mão da racionalidade...
Claro
está que o “Coiso” vencerá as eleições. Chamamos o candidato da extrema direita
de “Coiso” para não promover o nome dele na internet.
Por mim, quem quiser que vote na sua própria avó. Para
um país que suportou Michel Temer, nada mais surpreende. O caso é observar
gente que estudou História, Geografia, Sociologia, votando no Coiso e afirmando
os preceitos do programa de governo dele, que nega o mal da Ditadura, que
defende o armamento da população (opa, devo dizer que, sim, isso é bastante
inteligente: a segurança pública fica a cargo de cada um. Interessante isso,
porque já resolve um problema para o Governo Assim, cada um que se defenda);
que subestima as mulheres e os negros, os nordestinos, os pobres...
Desta vez, porém, apesar do citado aglomerado de gente
cônscia que votará nele (no Coiso), finalmente nenhum FDP poderá colocar a
culpa na classe média – porque, no Brasil, até desastres naturais são culpa da
classe média, se o bolo não crescer, a culpa é da classe média, tudo na política é responsabilidade da classe média. Enfim, tem
pobre, negro gay, nordestino, mulher, todo mundo declarando votos para o Coiso.
É uma paixão daquelas bem cegas, é uma síndrome de Estocolmo coletiva.
Por outro lado, o que tem no outro ângulo do cardápio?
Gente que teve a oportunidade de governar e perdeu o poder da noite para o dia;
gente moderada e gente exasperada; gente clichê e gente delirante, de modo que
fica mesmo difícil apostar em renovação.
Ainda que o Coiso não ganhasse, nada mudaria para
melhor com um novo presidente. De fato, acho até que o resultado das eleições é
um dado secundário, frente a um dado maior, expresso no quanto os brasileiros
querem ter porte de armas, sim; querem liberdade para dizimar ladrões; querem
declarar abertamente seus preconceitos (para eles é mera opinião) contra
homossexuais, mulheres e negros; e os pobres concordam com isso, até endossam
opiniões conservadoras. Este é o país real que o politicamente sufocou, achando
que basta evitar palavras, basta vigiar declarações, que o racismo acaba, que a
homofobia acaba. Este é o povo, que também anda cansado dos mesmos e pensa
estar elegendo outros.
Embora eu não vá votar no Coiso, embora eu não pense
assim, também sou povo. Minha família é povo (e que povo ruim), meus alunos são
povo, meus amigos são povo...o povo é isso, essa massa rude e heterogênea de
gente que pensa salvar o barco do naufrágio cuidando apenas do seu próprio
lado. Tenho pena de nós... Tenho pavor os meus parentes e amigos fanáticos.
Confirmadas as expectativas, é tempo de aturar as
trevas.
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