Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 13 de novembro de 2018

A outra parte do jogo



Todo inferno, para mim, são as angústias. Ninguém está livre delas. Elas sempre nos espreitam, embora haja tanta gente querendo dopá-las com cerveja.
Eis-me de novo à Psicanálise.
Não deixei o consultório por me achar acima das angústias: é que elas mudam de cara, de casa psíquica...
Por mais que estejamos felizes, plenos, em paz...são meras tréguas de validade indefinida.
Às vezes a gente desvia das próprias angústias, para ajudar os outros e para isso fomos feitos.
Hoje em dia lido melhor com as angústias dos outros, apesar de eu nunca ter sido indiferente. Já me envolvi com as angústias alheias, em demasia, por uma empatia não com a causa, mas com os sintomas.
Da velha casa, de que tanto me queixei neste blog, das ruínas, dos escombros, não ficou nada. Tudo resolvido. Quando a psicanálise du tudo que podia dar, veio a vida real e me trouxe uma parte desconhecida de minha família materna, como a peça final do quebra-cabeças que nunca me distraiu.
Tudo certo.
Tudo em paz.
Até as pazes com Deus, finalmente, veio: entendi que tudo foi o que deveria ter sido. Sem sortes, sem privilégios, sem preferências...tudo justo.
Minha causa na psicanálise agora é outra, toda minha. Como seres relativizados e relacionais, encontrarei minha família, de novo, nas estradas da minha questão atual.
Sei é que adoro ser sozinha.
Sei que preciso estar sozinha.
Queria apenas ter o direito a isso.
Acho que se eu fosse criada pela família de minha mãe, teria sido muito infeliz, porque tirariam minha liberdade.
A família paterna, negligente, me deixava livre. Pude estudar. Poderia ter me drogado, por exemplo...Mas, pude estudar, como poderia qualquer outra coisa, já que os perversos olhos punitivos de minha madrasta eram também de extrema negligência.
Se a gente bem soubesse que a liberdade vale qualquer preço, não se prenderia à toa.
Eu me arrependo profundamente das poucas vezes em que forcei uma barra, em que inventei romances para preencher vazios, em que me enrosquei com gente que não tinha nada a ver comigo, gente repulsiva e disponível, que me distraía das angústias reais ou que, descaradamente, aceitava o pacto e gostava de ser usada.
Pelo menos, nunca fui de maltratar ninguém. Porém, meus desafetos são claros.
De quem não gosto, não gosto.
Causa-me o maior mal-estar com um dos casos do passado, hoje amigo ou gente de meu convívio, vem recordar detalhes de noites perfeitas, de filmes, músicas, cheiros e gostos de momentos fugazes e errados para a minha consciência...
Também tenho vergonha do segundo homem que quase amei: depois de textos caudalosamente escritos, visceralmente escritos numa sinceridade absoluta, acabado o interesse, jamais gastei mais que meia dúzia de palavras com ele.
Há que se dizer, fiz por onde: ele saiu de meu pensamento e a atenção é proporcional ao interesse. Não me interessa mais. Nenhum deles. Acho que, como passado, os que não viraram meus amigos, sobreviveram em meu interesse por conta de revanches vingativas...passou. Não me interessam mesmo.
Sigo com o Poeta, que às vezes quer mudar o ritmo do jogo, que pensa que dá as cartas...ora, não sabe ele: quem corta sou eu!


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