Dizem que há
formadores de opinião e, claro, há. Eles não são apenas as celebridades do
mundo televisivo, da intelectualidade letrada e dos que se intitulam digital
influencer, mas os professores, os líderes espirituais e as diversas
personalidades públicas de que se tem conhecimento. Como professora, fico com o
pé atrás. Dentre os tais, a gente pode muito pouco. Mas, enfim, vamos ao pomo
da discórdia mais diretamente: que sociedade fraca é esta, que não consegue
formar uma opinião independente, particular?
Sei que somos
expostos a mil influências (os digital
influencers perceberam isso e se auto-intitularam formadores de opinião),
que não somos ninguém sem nossas citações, sem a bagagem de leituras e o
repertório cultural construído ao longo do tempo, mas, vamos admitir: não é
difícil influenciar gente preguiçosa mentalmente, gente vulnerável
psicologicamente e gente de personalidade fraca. Qualquer idiota que diga
qualquer idiotice – as fake news confirma o que eu digo, porque as pessoas nem
sequer param para pensar se a informação faz sentido, as lendas urbanas,
reafirmam isso também – seja ouvir disco ao contrário para perceber a voz do
Demônio, seja mil misérias de imbecilidades que vão de questionamentos à
ciência, até aos que ainda acham que comer manga com leite é fatal. Temos uma
sociedade fraca do juízo. Isso facilita para quem quer dominar.
E são muitos os
ídolos imbecis.
É cada idiota de
poucos neurônios que vão virando ídolos, exemplos, referências!
Nas universidades, o
orientando é induzido a ser um reprodutor do pensamento do orientador, que, por
seu turno, estimula ainda mais a inércia mental, a dependência do aluno, de
modo que o infeliz sai da universidade como um seguidor do
guru-professor-orientador. Nas brigas internas, confundem-se ambos como se
fossem um só. A depender do orientador, esse seu aprendiz se tornará professor
ali na mesma instituição, a fim de perpetuar a si.
O pensamento
independente é difícil mesmo: requer autonomia. Gente autônoma é prejudicial à
manutenção do status quo e não é à toa a necessidade de pregar para
convertidos.
Também já fiz esta
confusão, mas é que o coitadinho do orientando dos outros, realmente, não tinha
uma ideia própria. Era tamanha a admiração pro sua orientadora, por ele
endeusada, mitificada e idolatrada, que ele virou uma reprodução de sua matriz,
sem personalidade alguma, sem nenhuma condição de criar nada que não fosse o
espelho dela.
Filiação perigosa e
ruim. Mas provavelmente é isso: a vida acadêmica se torna extensão da vida
familiar – e também neste caso, há orientandos socando-se pelas cozinhas,
catando intimidades, em velada chantagem, por saber demais sobre seu mentor.
Laços de dependência
que se multiplica por gerações.
Os avulsos, os sem
apadrinhamento algum, são desacreditados, mas é neste ponto que quero chegar:
certos eventos cobram vínculos institucionais. Há uns anos vi raros inscritos
em congressos assim designados: “pesquisador independente”. É muito similar a
ser trabalhador autônomo, isto é, você faz tudo, não tem garantias nem
segurança, nem um nome de instituição que te dê respaldo, mas você prova que
faz pesquisa e textos sem o amparo de uma universidade, o que significa que
quem está fora, sem emprego na universidade, sem cargo ou função de estudante,
também deve ter seu espaço de produção científica reconhecido.
Isso, sim, é ciência
marginal; é formação de opinião independente!