Não escrevi antes por total falta de tempo.
Se me aparecia um pequeno intervalo, eu o dedicava a urgências acumuladas.
Como todas as outras
pessoas, estranho os dias de confinamento. Gosto deles, decerto, seja porque
não me sinto sozinha, seja porque não vejo problemas em me manter isolada. Solidão
é um fato normal, comum, que nunca me assustou de verdade. Talvez, também por
ainda não ter experimentado o ócio – nossa quarentena começou em torno do dia
20 – e exercer minha função de professora nas burocracias dos preenchimentos
infinitos dos diários e atividades incorporadas anteriormente, como os cadernos
de campo que trago para corrigir em casa, os trabalhos de conclusão de curso –
não senti o peso real das coisas da vida urbana.
Tanta gente vive sem
shopping, sem cinema, sem praia, em cidades minúsculas, em muitas das quais até
já estive...não seria eu a sofrer exatamente por isso. Sofro e não nego, pela
falta da academia. Por alguns poucos produtos de franquia de chocolates ou do lugar
que vende meu queijo favorito e que não abrem agora, sim, sinto falta.
A atividade física
já ultrapassou, em minha vida, a questão estética. Incorporei ao meu viver. Gosto
de gastar energia e se não me apetece muito puxar ferro e levantar peso, me
adaptei e gosto como hábito.
Tenho mais medo dos
momentos furtivos em que saio de carro na rua deserta para ir ver o poeta – pouco,
bem pouco, porque matamos a saudade em conversas virtuais ao longo da semana –
porque se algo ocorrer, ficarei em reais apuros na cidade deserta. A cidade
deserta nunca é esvaziada de perigos. Os maus não tiram férias nem respeitam
quarentena.
Tenho livros e
filmes para ver. Tenho declaração de imposto de renda para fazer. Serviço doméstico
não falta.
Tenho muito livro
espírita para ler, um jardim para cuidar, bichos para cuidar e brincar e no
somatório das coisas, o que me deixou perplexa foi pensar que sexta era
quinta-feira.
Também acho
esquisito o povo sem noção, que quer desafiar verdadeiramente o perigo do
vírus, mesmo com todos os exemplos, testemunhos e comprovações.
Será que pensam que
os mortos não estão mortos?
Será que acham que
há um complô mundial para uma ilusão coletiva?
Ultimamente o Brasil
se mostrou um país de seres delirantes, no geral, incapazes de reconhecer a incoerência
em suas próprias posições.
Brasil é um país de
maus.
Inventam epítetos,
hinos, louvores de enaltecimento, mas somos gente de pouca sensibilidade e
nossos governantes refletem o que somos. Falo aqui da coletividade, da
identidade coletiva, não dos indivíduos isoladamente, porque eles são mistos. Porém,
a predominância é do perfil monstruoso, preconceituoso, hipócrita, corrupto...
nossa pátria-mãe é aquela mãe hipócrita que diz ‘meu filho não mente’, enquanto
sabe que o filho é dissimulado, mentiroso, desonesto.
Não creio que o
isolamento vá durar. Mas, tem sido uma grande lição. Não achei ruim, achei
disciplinador. Falo como passado, talvez porque no domingo da semana que vem
seja meu aniversário e eu esteja a ver a vida passar, os anos correndo...no
fundo, minha casa me diverte. Cada livro é como se eu tivesse um amigo
inteligente para me contar uma história ou me ensinar alguma coisa – estou em
boa companhia e ainda escolho a trilha sonora.
Durmo e durmo feliz –
adoro dormir. Só meu relógio biológico está em modo preguiça.
Raramente como
errado, mas hoje, que resolvi fazer uma receita de pão enviada por uma amiga,
ah, exagerei.
Vou ver se pulo
corda. Não quero que meus músculos diminuam...
No momento, o
exercício é outro: parar em casa.
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