Uma amiga me
presenteou com uma sessão de tethahealing. Fui desarmada, sem sequer ir
dar buscas, porque não queria ir com conceitos prévios, preconceitos.
Primeiro, aceitei de
coração aberto o presente. Entendi a intenção.
Parece uma sessão de
psicanálise, misturada a uma sessão mediúnica, com um pouco de umbanda e, como
não poderia deixar de ser, constelação familiar.
Eis o que o mestre
perguntou: “Você já fez constelação familiar?” Não pestanejei e dei minha resposta
clássica: “minha família não tem estrelas” (por dentro, eu só pensava no
meteoro e nas estrelas cadentes que tenho como parentes recém-descobertos).
Fui mais artificial
do que todo o processo: fiz de conta que aceitei com surpresa, mas achei um
verdadeiro mosaico, um patchwork de procedimentos religiosos.
O mestre
olhou minha aura e constatou algo em minha garganta (acertou: eu somatizo os
sapos engolidos, não é ironia); o mestre disse que eu tinha encostos
espirituais – e aí, como espírita, eu disse logo que não há quem ande sozinho;
que os espíritos se deixam atrair por similitude e todos os pormenores,
conselhos e soluções que a doutrina espírita explica...
Houve um festival de
lugares-comuns, do mais puro clichê (ou sou eu que já corri muitas estradas e
vi repetição barata em tudo), cujo ápice foi: “Por que sua amiga se motivou a
te presentear com esta sessão?”. Eu respondi a causa. Ele seguiu: “você
reconhece que tem atitudes repetitivas?” Acontece que não, eu não repeti. A
causa de agora é totalmente nova e desconectada de outras situações prévias.
O comportamento dele
foi que pareceu ensaiado demais, roteirizado, parecendo querer induzir minhas
respostas...
Não invalido a
experiência porque, acima de tudo, tinha a postura amorosa da minha amiga.
Sabe, eu penso que quando alguém me dá um presente qualquer, ali está a parte
material, está o tempo da pessoa, na procura do objeto, está o dinheiro gasto,
está ela mesma, ao se ocupar de mim. Então, valeu a tentativa de me dar
alentos.
Se um ser humano
treinador de toda espécie consegue adestrar a mente alheia, de modo a construir
na pessoa as respostas de confiança de que ela precisa, para mim, está valendo.
Mesmo que seja
mentira, está valendo. É tipo placebo: não tem nenhum princípio ativo ali, mas
se você acredita, te cura.
De tudo isso eu acho
o mesmo que da autoajuda: vivemos com medo, angústias, impotência,
insuficiências, queremos consolos e respostas. As técnicas mais picaretas vão
responder ao quadro, tanto quanto as técnicas mais sérias e científicas poderiam
fazê-lo.
Crime seria fazer
crer que se pode prescindir de psiquiatra, psicólogo, remédio, tratamento médico,
por uma solução alternativa. Todo o resto é complementar. O exercício de falar
de si, da família, dos problemas, em desabafos coordenados, ajudam a resolver
os nós na garganta (os sapos engolidos).
Claro que o
charlatanismo existe descaradamente. Se colocar um adjetivo científico ao lado,
aí é que é sucesso: quântico, físio, neurocientífico, cerebral, psico... para
dar credibilidade e chamar clientes.
Para mim, foi uma
experiência nula, a tal ponto que não gerou a vontade de prosseguir. Foram duas
horas de terapia ecumênica e aqui aproveito para dizer outra coisa: já topei
com mil pessoas dizendo que iam à terapia e com duas mil que se diziam
terapeutas. Sem a menor maldade, indaguei: e qual a sua terapia? A pessoa não
sabia responder. Era terapia em terapia – ou seja, tanto poderia ser
psicanálise quanto origami e artesanato. Nem as pessoas em terapia, nem os
pretensos terapeutas sabiam o que era terapia.
A gente cuida da
planta ou faz joguinhos e diz que é terapia (terapia, ocupação, não fazem o terapeuta
ocupacional, viu? Aproveitando para brincar com a vulgarização do termo), mas é
higiene mental.
Sinceramente, acho
que a gente, como qualquer outro animal, pode ser adestrado, pode sofrer
lavagem ou sujeira cerebral. E somos mais vulneráveis quando desesperados e
fragilizados. Se estamos perdidos, qualquer farol é a luz do fim do túnel...o
problema é a cegueira temporária do deslumbramento.
Os problemas humanos
não são resolvidos como macarrão instantâneo. E se fosse, que gosto ruim tem
aquilo...
Gostaria de dormir
com angústias e acordar com felicidade, gostaria de tudo” do bem, do bom e do
melhor” para ontem, mas não funciona assim.
Para quem estiver na
dor e no desespero, o que funciona é parar, se lamentar, chorar se der vontade.
Esta é a parte humana do desabafo. Depois que a cara inchou de choro, é hora de
pensar em como resolver.
Se não houver modos
imediatos de solução, resta pensar que a vida já lhe trouxe outros problemas e
todos passaram e você continuou.
Se rezar te faz bem,
reze. Tem em quem confiar? Converse. Não tem jeito? Simplesmente desista, viva
seus lutos e invista em outras lutas.
Falo com conhecimento de causa, com relato pessoal: Eu amei por dois anos e sete meses o Ex-Grande Amor da Minha Vida, que, simplesmente, foi a experiência mais dolorosa que eu já tive. Dores que me laceravam, transformando a vida numa nuvem fria de uma noite eterna de angústia de perdas. Fui à analista, fui à Igreja (eu era católica, na época), fiz promessas, saí, viajei, namorei gente avulsa...me ocupei, para nem ter tempo de sofrer – mas, sofri e chorei. Até que passou.
Hoje, mal tenho lembranças - a lembrança virou um bloco compacto mesmo, não consigo lembrar de momentos a dois, de coisas pontuais ou singulares (graças a Deus).Dos lugares em que trabalhei, especialmente da vida militar e da escola básica no interior, mal tenho lembrança de nomes de pessoas ou situações – para ser sincera, nem de Aracaju eu me lembro, da universidade federal em que trabalhei... E assim é: tudo passa e a gente passará. Só não dá para existir e não ter problemas e angústias: elas vão, vem, se modificam, mas acompanham a vida.