Estamos todo
tristes: nós, os de cá, os meus próximos e eu. Inclusive os meus mais próximos
que moram longe – se tem uma coisa que a filosofia dos para-choques de caminhão
ensina direito, é esse negócio de que a amizade supera distâncias. Assim, no
afeto estamos juntos.
Por certo, não temos
depressão patológica (até porque, ela é bastante singular, embora algumas
pessoas gostem de se dizer depressivas, para ganhar afagos e atenção e,
fundamentalmente, para capitalizar um suposto estado de angústias), mas notamos
o peso da tristeza.
Voltei a fazer
caminhadas sistemáticas, porque eu fiquei de março a julho em quarentena severa
e, aos poucos, foi me dando pavor de não fazer o corpo se mexer. As academias
abriram, mas, lá eu não vou. Só que parece que eu fiquei com energia acumulada
mesmo: andar três quilômetros não dá para nada, para mim. Aí, tenho feito de 6
a 10km, geralmente, 3 vezes na semana. Alterno com exercícios em casa. Julgo
que, se assim não fosse, eu estaria deprimida.
No período anterior,
chovia mais, não dava para sair caminhando.
Como eu já declarei,
nunca me faltou o que fazer durante a quarentena: reuniões, lives, TCC (tenho
um para fechar domingo, que me foi entregue hoje), livros...E a casa? Excedendo
o trabalho doméstico, que nunca falta, que nunca acaba e que sempre se renova,
fizemos o jardim (tarefa que nunca acaba, porque implica no cultivo de bougainvilles,
em pintar pneus, pallets, vasos, decoração, etc); fizemos um deck de madeira,
que levou todos os meus vinténs e dentro de casa também sigo arrumando as
coisas.
Junto agora todas as
coisas que parecem dispersas: ao caminhar, vejo o mundo de outro jeito, como se
fosse um outro lugar. Não há mídia que me faça acreditar em NOVO NORMAL. Não é
normal caminhar de máscara, com a respiração reduzindo ou o ar ficando
quente...E olhar as pessoas, em filas persistentes, tentando existir, tentando
ser e durar...
Não volto à academia
neste ano. O NORMAL não vem por decreto. Não é normal nada disso que vivemos
agora. Estabelecimentos abertos e abarrotados de gente, não vão tornar as
coisas normais – pelo menos para mim, ando com muita estranheza, cautela e
distância e ai de quem ousar me visitar! Preciso de distância.
Estar em casa não me
incomoda. Só não é normal. A praia não seria normal agora, por exemplo...
Tempo? Não tenho, não. O fato de romper a rotina e a
normalidade, não implicou em que eu tivesse tempo. Meu dia acaba logo. Meu dia
não dura nada.
Achei que somente eu
tinha essas angústias: vejo as pessoas agirem normalmente, naturalizarem
tudo...aí vem meu amigo contar que vai ao psicólogo na terça, e um outro, a
reclamar tristezas e, ao olhar, estamos aos montes, todos tristes. Vou fazer trocadilho com Claude Lévi-Strauss, na obra Tristes Trópicos, sem querer desmerecer o ensaio antropológico, mas apenas para dar um título condizente com nossa caminhada trôpega, vacilante, no terreno da tristeza.
Outro aprendizado,
com velhos sentimentos em novas circunstâncias – está difícil ser normal.
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