Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Tristes trôpegos

 


Estamos todo tristes: nós, os de cá, os meus próximos e eu. Inclusive os meus mais próximos que moram longe – se tem uma coisa que a filosofia dos para-choques de caminhão ensina direito, é esse negócio de que a amizade supera distâncias. Assim, no afeto estamos juntos.

Por certo, não temos depressão patológica (até porque, ela é bastante singular, embora algumas pessoas gostem de se dizer depressivas, para ganhar afagos e atenção e, fundamentalmente, para capitalizar um suposto estado de angústias), mas notamos o peso da tristeza.

Voltei a fazer caminhadas sistemáticas, porque eu fiquei de março a julho em quarentena severa e, aos poucos, foi me dando pavor de não fazer o corpo se mexer. As academias abriram, mas, lá eu não vou. Só que parece que eu fiquei com energia acumulada mesmo: andar três quilômetros não dá para nada, para mim. Aí, tenho feito de 6 a 10km, geralmente, 3 vezes na semana. Alterno com exercícios em casa. Julgo que, se assim não fosse, eu estaria deprimida.

No período anterior, chovia mais, não dava para sair caminhando.

Como eu já declarei, nunca me faltou o que fazer durante a quarentena: reuniões, lives, TCC (tenho um para fechar domingo, que me foi entregue hoje), livros...E a casa? Excedendo o trabalho doméstico, que nunca falta, que nunca acaba e que sempre se renova, fizemos o jardim (tarefa que nunca acaba, porque implica no cultivo de bougainvilles, em pintar pneus, pallets, vasos, decoração, etc); fizemos um deck de madeira, que levou todos os meus vinténs e dentro de casa também sigo arrumando as coisas.

Junto agora todas as coisas que parecem dispersas: ao caminhar, vejo o mundo de outro jeito, como se fosse um outro lugar. Não há mídia que me faça acreditar em NOVO NORMAL. Não é normal caminhar de máscara, com a respiração reduzindo ou o ar ficando quente...E olhar as pessoas, em filas persistentes, tentando existir, tentando ser e durar...

Não volto à academia neste ano. O NORMAL não vem por decreto. Não é normal nada disso que vivemos agora. Estabelecimentos abertos e abarrotados de gente, não vão tornar as coisas normais – pelo menos para mim, ando com muita estranheza, cautela e distância e ai de quem ousar me visitar! Preciso de distância.

Estar em casa não me incomoda. Só não é normal. A praia não seria normal agora, por exemplo...

Tempo?  Não tenho, não. O fato de romper a rotina e a normalidade, não implicou em que eu tivesse tempo. Meu dia acaba logo. Meu dia não dura nada.

Achei que somente eu tinha essas angústias: vejo as pessoas agirem normalmente, naturalizarem tudo...aí vem meu amigo contar que vai ao psicólogo na terça, e um outro, a reclamar tristezas e, ao olhar, estamos aos montes, todos tristes. Vou fazer trocadilho com Claude Lévi-Strauss, na obra Tristes Trópicos, sem querer desmerecer o ensaio antropológico, mas apenas para dar um título condizente com nossa caminhada trôpega, vacilante, no terreno da tristeza.

Outro aprendizado, com velhos sentimentos em novas circunstâncias – está difícil ser normal.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário