Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Escreveu, não leu...

Tinta usada em antigos papiros contém cobre... - Antigo Egito



Não é a primeira vez que me pego afogada em trabalho desprazeroso, apenas para ajudar a um amigo que está sempre sendo explorado pelos próprios sonhos, porque ele inclui pessoas em projetos, revistas, cursos de mestrado, mil e um periódicos redundantes em tema mas, as referidas pessoas, gostam de ver seus respectivos nomes figurando nas redes de produção científica, entretanto, não cumprem prazos.
Peguei um texto horroroso para revisar. Horroroso, mal de escrita...um amontoado de pronomes relativos, intercalados a expressões científicas da moda, que precisa ser reescrito por quem o revisa (eu), pois não tem sentido algum e chega a uma conclusão óbvia. Trabalho quadruplicado para mim e não obstante o labor, o desprazer me deixa lenta, em assumida má vontade. Moeda horrível para endossar o cheque da sobrevivência acadêmica de um doutor incompetente na linguagem escrita. A gente se pergunta como foi que o ser humano citado conseguiu escrever uma tese!
Meu ex-namorado, formado em química, escrevia muito mal. Dá-se o desconto pela área de atuação, mas desconto não é isenção.
Num texto informal, de internet, a gente escreve com leveza e certo desleixo semântico.  Muitas vezes, eu sequer volto ao texto para acrescentar o que falta de termo ou letra, ou para remover o que excedeu e se repetiu...Todavia, na escrita formal, a gente anda na linha, especialmente porque deseja ser compreendido.
Uma das grandes desculpas das pessoas medíocres, desonestas, fraudulentas, preconceituosas e criminosas, quando flagradas em áudio e vídeo, é alegar que a filmagem foi tirada de contexto. Como maridos flagrados em traições, jogam o “eu posso explicar, não é nada disso que você está pensando, isso não foi bem assim”. Sabemos que são meras desculpas de quem só pede desculpa para se livrar de processos ou perdas (perda de contrato comercial, se forem artistas; perdas de mandato, se são políticos; perda de dinheiro, de prestígios, etc). Imagine no mundo da escrita, o quanto as coisas podem ser...
A propósito, manipulam muito os sentidos de declarações, de textos, de livros...E como a preguiça é cômoda, vamos repetindo o que dizem que foi dito nos livros que nunca lemos – aqueles, muito citados e pouco lidos.
Confirmo, com declarada inveja, meu despeito para os que vivem a quarentena em clima de férias, sem compromissos, sem horários, sem regras.
Tirei o domingo para ver dois filmes no Canal Brasil e senti a maior culpa pela recreação: deixei o texto maldito de lado, atrasei a leitura e a devolução...
Senti vontade de dormir como se não houvesse amanhã, de não atender ninguém por meio algum e ficar na caverna, nesse frio de 17 graus em Feira de Santana, na noite de hoje, 29 de julho de 2020. Tive esta mesma vontade ontem. Nada feito. Aliás, expressão errada, já que estou sempre fazendo coisas.
No Facebook eu não dou as caras há quase um mês.
Fiz uma conta no Instagram a fórceps, há uns 15 dias, por obrigação, a fim de acompanhar cursos e lives. Mas, lá eu pouco estive.
Odeio as lives que se multiplicam em convites chatos, intimidatórios, cheios de cobrança...
As que me interessam, perco a data e o horário.
Deus me livre de lives: já estou morta de tanto ser importunada por elas.


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