Hoje me peguei com
saudades de comer um pão funcional, que é vendido numa cidade aqui perto,
chamada Conceição de Feira. Pão funcional é um pão com uma função e, por isso,
ele varia sabores, conforme ingredientes – linhaça, milho, sete grãos, mel – mas,
para mim, a função do pão é alimentar e ser gostoso. O citado pão é muito
gostoso. E ainda tem uns que levam erva-doce (aproveitando, meu povo, esclareço:
erva-doce não é funcho. Não obstante o nome científico diferente, já que
erva-doce é pimpinella anisum, e este anisum é da família
do anis; e funcho é foeniculum vulgare, percebo diferença no sabor e
semelhança no cheiro. Acho funcho levemente salgado).
Estamos na onda da
reeducação alimentar, como se fôssemos analfabetos em comer...na paranoia dos
alimentos funcionais e um monte de coisa da moda, perdendo completamente o
sentido da alimentação, deixando o prazer e pegando o sacrifício para ver se
deixamos nossas gorduras fora da vida e não as gorduras trans transbordando das
laterais das roupas.
Estamos, com o
isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19, aprendendo a cozinhar mais
em casa. Isso vai fazer diferença daqui a um tempo.
Num dos recentes episódios
do programa de culinária da Rita Lobo, de quem sou fã, porque ela é excelente
apresentadora, doce, carismática, competente e linda, além de ter excelente
didática de ensino para as receitas, um ser humano pediu: “Rita, faz umas
receitas low carb!” – ou era fitness, sei lá. E ela deu uma resposta linda,
falando que ela não faria isso, porque retiraria sabores. Um brigadeiro feito
de coisas que não sejam leite condensado e chocolate em pó, não é um brigadeiro. E que, portanto, para baixar as
calorias e manter a originalidade dos pratos, bastava a pessoa se conter na
hora de se servir. Ou seja, consuma seu chocolate, mas saiba comer pouco;
consuma seus queijos e salgados, mas saiba moderar.
O problema geral é
este: uma comida com sabor faz com que se coma mais; uma comida com sabor de
isopor é uma obrigação para manter o corpo funcionando (ah, funcional, funcionalidades).
Há ilusões
gustativas maravilhosas – eu mesma gosto de coisas feitas com casca de banana,
por exemplo – mas a maioria prescinde do sabor, sem a menor necessidade,
afinal, o que um tempero acrescenta, de significativo, em calorias? Então,
tomate, manjericão, cebola, alho...ah, acrescentam sabor, sim.
Uma vida sem sal não
me apetece. Sal doa sabor a tantas coisas!
Uma vida de
aspartame, sem açúcar, Deus me livre! Chá sem açúcar? Nunca! Café sem açúcar? muito
menos. Retiraria o prazer dos sabores. Mas, eu imagino que quem corta o açúcar
deve ser por usar muito, porque não é possível que se use mais de duas colheres
de chá de açúcar para uma xícara de 150ml de café...
Não viveria sem
manteiga também. E quando vejo as paranoias com alimentos, penso que talvez o
povo que conta calorias seja igual aos viciados em álcool, que põe a culpa no
gelo por ter ressaca.
Já disse antes: amo
gengibre. Não vejo sacrifício em tomar sucos detox de nada; e nem é para
desintoxicar, mas pelo sabor. Couve, num suco, não dá sabor de nada e ainda tem
muitos bons nutrientes – cálcio, dentre eles; e ferro – então, se puser
beterraba, couve, gengibre, abacaxi, eu devoro sem coar e, neste caso, sem
açúcar. Questão de paladar.
Reitero que nossas
alergias alimentares, com certeza, são culpa da indústria.
Desde a bíblica
Santa Ceia se ouve falar em pão. Decerto, a fermentação da Antiguidade era
natural, mas trigo, sal e gorduras sempre alimentou à humanidade, o que não
justifica o número absurdo de gente com alergia a glúten.
Leite sempre fez parte
das dietas de praticamente todos os povos em todos os tempos e, se não
bastasse, somos mamíferos. Somente agora o povo tem alergia à lactose. Precisa
ser gênio para concluir que os modos de conservação, as embalagens, as químicas,
modificaram os alimentos e fizeram com que eles se tornassem isso que temos?
E nem falei de
carnes, mas é tanto acidulante, conservante, emulsificante, espessador,
corante, aroma idêntico ao natural – em que pesem hormônios nos animais para
forçar o crescimento e o abate e agrotóxicos em produtos agrícolas – que a
consequência está aí. Com isso, a comida fica estranha.
A forma de cozinhar
também entra nesta conta, mas vou ficando por aqui na análise e na crítica.
Depois que passei a
fazer meu pão, como menos pão porque a saciedade é rápida. Além dos
ingredientes serem altamente nutritivos. Talvez a melhor dieta seja a mais
natural e artesanal possível – a vida não permite, eu sei, porque vivemos de
fast-food e não de slow food – e estou louca para ter um fogão a lenha,
porque adoro sabores defumados.
Horta eu já tenho e
novamente falo que tomate de supermercado tem gosto de isopor; o de casa tem
sabor e aroma, o que ajuda a comer certinho também, mas comer certo não é uma
obrigatoriedade ‘insossa’. Espero não ter a necessidade de que alguém venha me ensinar
a comer, para eu me reeducar: analfabeto alimentar é um título que eu penso não
ostentar mas, ainda assim, me proponho a aprender. Nenhum conhecimento merece
desprezo.
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