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Incontinência verbal

quinta-feira, 2 de julho de 2020

O prazer do sabor

Comidas Típicas da Itália: conheça as delícias de cada região » Tua Itália  - Tudo sobre a Itália

Hoje me peguei com saudades de comer um pão funcional, que é vendido numa cidade aqui perto, chamada Conceição de Feira. Pão funcional é um pão com uma função e, por isso, ele varia sabores, conforme ingredientes – linhaça, milho, sete grãos, mel – mas, para mim, a função do pão é alimentar e ser gostoso. O citado pão é muito gostoso. E ainda tem uns que levam erva-doce (aproveitando, meu povo, esclareço: erva-doce não é funcho. Não obstante o nome científico diferente, já que erva-doce é pimpinella anisum, e este anisum é da família do anis; e funcho é foeniculum vulgare, percebo diferença no sabor e semelhança no cheiro. Acho funcho levemente salgado).
Estamos na onda da reeducação alimentar, como se fôssemos analfabetos em comer...na paranoia dos alimentos funcionais e um monte de coisa da moda, perdendo completamente o sentido da alimentação, deixando o prazer e pegando o sacrifício para ver se deixamos nossas gorduras fora da vida e não as gorduras trans transbordando das laterais das roupas.
Estamos, com o isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19, aprendendo a cozinhar mais em casa. Isso vai fazer diferença daqui a um tempo.
Num dos recentes episódios do programa de culinária da Rita Lobo, de quem sou fã, porque ela é excelente apresentadora, doce, carismática, competente e linda, além de ter excelente didática de ensino para as receitas, um ser humano pediu: “Rita, faz umas receitas low carb!” – ou era fitness, sei lá. E ela deu uma resposta linda, falando que ela não faria isso, porque retiraria sabores. Um brigadeiro feito de coisas que não sejam leite condensado e chocolate em pó, não é um  brigadeiro. E que, portanto, para baixar as calorias e manter a originalidade dos pratos, bastava a pessoa se conter na hora de se servir. Ou seja, consuma seu chocolate, mas saiba comer pouco; consuma seus queijos e salgados, mas saiba moderar.
O problema geral é este: uma comida com sabor faz com que se coma mais; uma comida com sabor de isopor é uma obrigação para manter o corpo funcionando (ah, funcional, funcionalidades).
Há ilusões gustativas maravilhosas – eu mesma gosto de coisas feitas com casca de banana, por exemplo – mas a maioria prescinde do sabor, sem a menor necessidade, afinal, o que um tempero acrescenta, de significativo, em calorias? Então, tomate, manjericão, cebola, alho...ah, acrescentam sabor, sim.
Uma vida sem sal não me apetece. Sal doa sabor a tantas coisas!
Uma vida de aspartame, sem açúcar, Deus me livre! Chá sem açúcar? Nunca! Café sem açúcar? muito menos. Retiraria o prazer dos sabores. Mas, eu imagino que quem corta o açúcar deve ser por usar muito, porque não é possível que se use mais de duas colheres de chá de açúcar para uma xícara de 150ml de café...
Não viveria sem manteiga também. E quando vejo as paranoias com alimentos, penso que talvez o povo que conta calorias seja igual aos viciados em álcool, que põe a culpa no gelo por ter ressaca.
Já disse antes: amo gengibre. Não vejo sacrifício em tomar sucos detox de nada; e nem é para desintoxicar, mas pelo sabor. Couve, num suco, não dá sabor de nada e ainda tem muitos bons nutrientes – cálcio, dentre eles; e ferro – então, se puser beterraba, couve, gengibre, abacaxi, eu devoro sem coar e, neste caso, sem açúcar. Questão de paladar.
Reitero que nossas alergias alimentares, com certeza, são culpa da indústria.
Desde a bíblica Santa Ceia se ouve falar em pão. Decerto, a fermentação da Antiguidade era natural, mas trigo, sal e gorduras sempre alimentou à humanidade, o que não justifica o número absurdo de gente com alergia a glúten.
Leite sempre fez parte das dietas de praticamente todos os povos em todos os tempos e, se não bastasse, somos mamíferos. Somente agora o povo tem alergia à lactose. Precisa ser gênio para concluir que os modos de conservação, as embalagens, as químicas, modificaram os alimentos e fizeram com que eles se tornassem isso que temos?
E nem falei de carnes, mas é tanto acidulante, conservante, emulsificante, espessador, corante, aroma idêntico ao natural – em que pesem hormônios nos animais para forçar o crescimento e o abate e agrotóxicos em produtos agrícolas – que a consequência está aí. Com isso, a comida fica estranha.
A forma de cozinhar também entra nesta conta, mas vou ficando por aqui na análise e na crítica.
Depois que passei a fazer meu pão, como menos pão porque a saciedade é rápida. Além dos ingredientes serem altamente nutritivos. Talvez a melhor dieta seja a mais natural e artesanal possível – a vida não permite, eu sei, porque vivemos de fast-food e não de slow food – e estou louca para ter um fogão a lenha, porque adoro sabores defumados.
Horta eu já tenho e novamente falo que tomate de supermercado tem gosto de isopor; o de casa tem sabor e aroma, o que ajuda a comer certinho também, mas comer certo não é uma obrigatoriedade ‘insossa’. Espero não ter a necessidade de que alguém venha me ensinar a comer, para eu me reeducar: analfabeto alimentar é um título que eu penso não ostentar mas, ainda assim, me proponho a aprender. Nenhum conhecimento merece desprezo.

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