Parabéns para quem descobriu
que a Terra é redonda e que o tempo não retrocede. A Terra. O tempo. Porque há
pessoas de pensamento quadrado e há gerações que retrocedem no tempo, em termos
de mentalidade e comportamento, rejeitam avanços em leis, direitos, costumes.
Acham que ‘antigamente tudo era melhor”. Concordo com elas, afinal, para um
torturador e um ditador, nada melhor do que um tempo em que se podia torturar e
matar tranquilamente, sem ser incomodado por leis e denúncias ou ameaças de punição
– sossega, no Brasil ninguém nunca foi punido por isso.
Era tão bom antes,
sem gente correndo atrás de direitos trabalhistas! Hoje em dia, para sorte de
quem tem saudades da escravidão, pelo menos há o sub-proletariado que se
convenceu de que é patrão de si mesmo, que faz seus horários...
É de espantar que as
pessoas não olhem para quem rege a orquestra do caos. Os maestros em que se
vota ou com os quais se é indulgente.
Especialmente no
plano da política, as pessoas votam apenas por simpatia. E eu, cá, pensando nas incontáveis
vezes em que votei em gente que eu não gostava, que sequer beneficiaria minha
classe trabalhista específica (que governo favoreceria professores?), mas que
era o melhor em sentido global! E uns seres humanos com as desculpas mais nonsense,
mais distantes da lógica, vota em palhaços que destroem o circo após o
espetáculo do enriquecimento pessoal.
Há tantos abismos
interiores a se misturar com as crises externas, essas de nosso tempo e de
nosso contexto histórico!
De fato, vivemos de
fé e de remédios. Há que se rezar por um governante menos monstruoso do que o
anterior; há que se rezar para que a Polícia não nos confunda com o ladrão; e
que o ladrão não nos confunda com a polícia; que não fraudem nossas contas; que
o nosso alimento contenha menos veneno; que a guerra no país vizinho não gere
aumentos em nosso itens de consumo; que a indústria não leve a água que nos
resta e acabe com o ar de que precisamos...
Não olhamos maestro:
odiamos o migrante, o imigrante, o refugiado, o que tem outro gênero, o Outro,
que sempre será a causa de nossas misérias.
A partitura do caos
é culpa do pobre, do negro, dos LGBTQIA+, do nordestino, do venezuelano, do
chinês, só não é culpa do maestro, de nosso político favorito.
E, no fim, rezamos
por um remédio que nos faça dormir – porém, sem sonhar, porque aprendemos que
sonhos são ilusões e ‘não se pode criar expectativas’; e queremos um remédio
para manter a atenção e reter memória; e remédios para emagrecer, sem precisar
de esforço físico; e remédios infinitos para não ser triste, para não sentir
faltas e nem sequer sentir a si mesmo...qualquer remédio que cure as coisas
intrínsecas à vida, anestesiando as dores, as faltas, o ego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário