Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Maestros do caos


 


Parabéns para quem descobriu que a Terra é redonda e que o tempo não retrocede. A Terra. O tempo. Porque há pessoas de pensamento quadrado e há gerações que retrocedem no tempo, em termos de mentalidade e comportamento, rejeitam avanços em leis, direitos, costumes. Acham que ‘antigamente tudo era melhor”. Concordo com elas, afinal, para um torturador e um ditador, nada melhor do que um tempo em que se podia torturar e matar tranquilamente, sem ser incomodado por leis e denúncias ou ameaças de punição – sossega, no Brasil ninguém nunca foi punido por isso.

Era tão bom antes, sem gente correndo atrás de direitos trabalhistas! Hoje em dia, para sorte de quem tem saudades da escravidão, pelo menos há o sub-proletariado que se convenceu de que é patrão de si mesmo, que faz seus horários...

É de espantar que as pessoas não olhem para quem rege a orquestra do caos. Os maestros em que se vota ou com os quais se é indulgente.

Especialmente no plano da política, as pessoas votam apenas por simpatia. E eu, cá, pensando nas incontáveis vezes em que votei em gente que eu não gostava, que sequer beneficiaria minha classe trabalhista específica (que governo favoreceria professores?), mas que era o melhor em sentido global! E uns seres humanos com as desculpas mais nonsense, mais distantes da lógica, vota em palhaços que destroem o circo após o espetáculo do enriquecimento pessoal.

Há tantos abismos interiores a se misturar com as crises externas, essas de nosso tempo e de nosso contexto histórico!

De fato, vivemos de fé e de remédios. Há que se rezar por um governante menos monstruoso do que o anterior; há que se rezar para que a Polícia não nos confunda com o ladrão; e que o ladrão não nos confunda com a polícia; que não fraudem nossas contas; que o nosso alimento contenha menos veneno; que a guerra no país vizinho não gere aumentos em nosso itens de consumo; que a indústria não leve a água que nos resta e acabe com o ar de que precisamos...

Não olhamos maestro: odiamos o migrante, o imigrante, o refugiado, o que tem outro gênero, o Outro, que sempre será a causa de nossas misérias.

A partitura do caos é culpa do pobre, do negro, dos LGBTQIA+, do nordestino, do venezuelano, do chinês, só não é culpa do maestro, de nosso político favorito.

E, no fim, rezamos por um remédio que nos faça dormir – porém, sem sonhar, porque aprendemos que sonhos são ilusões e ‘não se pode criar expectativas’; e queremos um remédio para manter a atenção e reter memória; e remédios para emagrecer, sem precisar de esforço físico; e remédios infinitos para não ser triste, para não sentir faltas e nem sequer sentir a si mesmo...qualquer remédio que cure as coisas intrínsecas à vida, anestesiando as dores, as faltas, o ego.

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