Não que a amiga
seja, de fato, amiga, mas assim vou tratar sobre ela em respeito ao tempo que a
conheço: me surpreendeu que tenha partido dela o pedido de separação e que,
finalmente ela descobriu quem era aquele marido.
Disseram os mais próximos
que ela já sabia há algum tempo e que apenas esperou consolidar suas certezas.
Pois bem, ela pediu o divórcio e aqui vem umas coisas que interessam a todos
nós: o marido não quer sair da casa e começou um jogo de gato e rato, inexplicável.
Não vou perder tempo
relatando o óbvio: o ódio, as provocações, as armadilhas jurídicas, os cinismos,
tudo partindo dele, no caso. A parte,
contudo, que nos interessa é a que toca na dignidade.
Gente, quem ama
sofre. Sofre como um viciado, sempre dependente, sempre pagando qualquer preço
por um pouquinho, só mais um pouquinho daquilo que lhe traz tanta satisfação e
sem o qual a sensação é de morte. Entende-se.
Porém, uma vez que o
ser amado leva ao seu conhecimento, claramente, com todas as letras e palavras,
que NÃO LHE QUER MAIS, como insistir num convívio?
Será preciso dizer que se você manda mensagem para alguém e esse alguém não lhe responde (ou leva dias até isso), essa pessoa está lhe comunicando, através do silêncio, que não quer conversa com você? A atenção é proporcional ao interesse.
O que mais um ser
humano precisa fazer para o outro entender que não deseja mais o
relacionamento?
Sempre achei feio quem
foge e não assume os términos, mas acho ainda mais preocupante quem ouve a
comunicação de término e insiste em ficar ali, ao lado de quem não pode ir
embora, por ser a dona da casa.
O Cara é
interesseiro, apesar de ter dinheiro e ganhos pessoais, mas antes de tudo, ele
tem uma total falta de dignidade. E isso é coisa para olhar e aprender a não
reproduzir por aí.
Um mal-entendido,
uma briga temporária, valem um diálogo e valem a tentativa de não ruptura.
Todavia, o pedido de separação, a declaração verbal de que não mais se quer a
relação, deveriam ser suficientes para evitar o litígio e cada um seguir seu
rumo.
A todo momento a
gente ouve a mídia comunicar os feminicídios e reproduzir os boletins de
ocorrência onde consta ‘que não aceitava o fim do relacionamento’. E não
aceitar o fim é forçar quem não lhe quer a querer a estar com você, porque só o seu
querer importa. Que gosto terá um relacionamento forçado?
Delongar o mal-estar
do convívio, ver-se em situações íntimas do lar, dividindo espaços com quem não
lhe quer, valerá mesmo a pena?
Quem tem juízo, se
toca da realidade. Coloca a viola no saco e vai tocar em outra freguesia.
O ciclo da
humilhação está ali, a dignidade já foi pisoteada, o vale-tudo não valerá de
nada.