Até aqui, vivi
muitos lutos recentes e ainda me surpreendo por, constantemente, sonhar que o
meu tio está vivo. Não é simplesmente sonhar com alguém que já morreu: é sonhar
que, como em um filme de mistérios, ao término do percurso a personagem estava
viva e que tudo fazia parte da trama. Sempre assim: no final, meu tio está ali,
foi tudo um engano, os médicos se enganaram, o hospital se equivocou, eu tirei
conclusões apressadas. Isso indica que esse luto ainda está se processando em
mim e, tudo bem, tem um ano e meio que ele morreu.
Por outras razões,
das quais, a consciência de que vendo meus dias de vida a preço baixo a um
trabalho numa escola horrorosa, de contexto horroroso, com capatazes em lugares
de diretores, tenho me sentido triste além da conta.
Assim como qualquer um de vós, acompanhei gente que capitalizava sua suposta depressão. Gente invejosa, mal-amada, condoída, dentre uma tantas supostamente sensíveis, imitadoras de artistas, que gostavam de atenção e de obter indulgências para suas maldades porque, afinal, coitadinhas, sofrem tanto com depressão...especialmente no meio acadêmico, onde pululam esses estelionatários do psiquismo humano. Quem nunca encontrou um, revise a memória.
Ciente disso, não
ouso dizer que estou deprimida, mas tive um predomínio pesado de sensação
depressiva. Uma tristeza diferente, uma percepção igualmente diferente sobre a
vida e seus elementos de sustentação material; dos laços que nos atam à vida e nos
fazem levantar da cama e seguir um rumo.
Meus lutos se
somaram: a analista, vítima de câncer; as duas amigas, vítimas de câncer; meu
tio; meu amor que se acabou e que me trouxe a triste leveza de não amar
ninguém, as diferenças físicas que o tempo vai desenhando em meu corpo são
outra parte de lutos. Decerto, gosto da minha aparência e da minha vitalidade,
mas muita coisa muda, sim, e me predispõe a restrições, a despeito da pressão
alta, por exemplo
Não voltarei ao
mesmo psicanalista. Acho que foi um percurso encerrado. Fiquei com ele por um
ano. Não quero voltar.
Por falar em
percurso, não sei o que me dá, que realmente não desejo voltar a certos caminhos.
E quando eu puder largar a escola básica, para onde, aliás, eu jamais desejei
voltar, vou saborear o ‘nunca mais’ como a mais intensa vitória que eu poderia
ter.
Interessante: eu não
quero amar mais ninguém. Já deu: tive dois grandes amores. Ponto final!
Quero encerrar minha
carreira o mais rápido possível e viver de criatividade vaga, mexendo em
plantas, lendo livros, avançando no balé, prosseguindo na academia, vendo o mar
de vem quando, com a terna vontade de dançar, sem largar a mão dos meus amigos,
sem renunciar ao bom sexo com o homem que eu não amo, mas com quem me entendo
muito bem...e conhecer outras estradas.