Louquética

Incontinência verbal

domingo, 16 de março de 2025

Apagou-se? Acabou-se!

 


Eu quis tanto esquecer meu segundo amor – espero que tenha sido o último nesta existência. Quando, muito recentemente, percebi que esqueci, me senti muito estranha. Pior foi passar por isso estando ao lado dele, porque a gente se reaproximou em dezembro.

Realizei sonhos de uma vida toda à espera de que pudessem acontecer, com ele (viagens, réveillon, aniversários, filmes, músicas e livros compartilhados, dentre tantas outras coisas)

Agora, ao perceber que o amor passou (ficou um gostar), observei o vazio deixado. Era como um pedaço de mim, que ali faltasse.

Devo dizer que compreendi que mesmo um amor não-correspondido nos preenche, ocupa um lugar em nós. Um amor sem correspondência é uma falta, mas é uma falta que nos nutre de força para sonhar, esperar, desejar, projetar, ocupar nossa mente, ser uma parte de nossa vida.

A correspondência de que falo não é somente sinônimo de que a outra pessoa não nos ame, mas que não tenha sentimentos minimamente proporcionais aos que a ela dedicamos. Isso, sim, é ser mal-amado.

Depois de outro tempo, percebi que há mesmo várias manifestações do amar, vários modos de amar e, para a minha decepção, há quem nos ame e não tenha cuidado ou carinho por nós.

Amor é só um fator dentre muitos para sustentar uma relação. Um pai amoroso pode ser negligente; uma mãe amorosa pode ser individualista; um marido amoroso pode ser infiel; uma esposa amorosa pode ser egoísta...a gente é que superestima o amor. Amor é muito, mas não é tudo. Faltam afetos coadjuvantes, atitudes auxiliares, fatores complementares.

Quantas idiotices a gente faz por amor! Se você for uma pessoa normal, vai reconhecer que já fez papel de idiota, que fez besteiras e até se comportou como burro, quando amou – e não me venha com as idiotices de separar amor de paixão. Nada mais desanimador que um amor sem empolgação; E a empolgação é a paixão, é o desvario maravilhoso deste estado de amar.

Este luto de defunto vivo, que é deixar de amar e estar com o ser antes amado, é esquisito e doloroso. Eu me sinto como se estivesse voltando para a minha casa. A casa vazia, só minha – sem vozes ou sombras de ninguém.

Ele me disse: ‘você está diferente!’

Eu disse: ‘eu também achei!’

Tive vontade de esfregar este troféu do ‘eu não te amo mais’, na cara dele. Mas, eu não estava feliz com aquela vitória. Decerto, entre amar e não amar, eu opto por não amar. Não quero mais. É cansativo e desgastante.

Porém, não amar é também difícil e desafiador. Não ter um objeto amoroso é não ter em quem pensar antes de dormir; é como um desenho animado em que o protagonista vence o inimigo (E se o Coiote pegasse o Papa-Léguas? E se Tom matasse Jerry?). Daí a humanidade precisar pensar em um duelo final entre o Bem e o Mal, não é? Combustíveis da fé, elemento motivador.

Deixar de amar é voltar para a casa vazia, é voltar para si mesmo e voltar-se para si mesmo. Aquele tempo que eu gastei olhando para o outro, na direção do outro, agora me obriga a olhar para mim – e arrumar essa casa não é fácil. Cada cômodo, uns incômodos, até que tudo se acomode.


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