Louquética

Incontinência verbal

sábado, 17 de maio de 2025

A tristeza dá trabalho e o trabalho dá tristeza


 

Até aqui, vivi muitos lutos recentes e ainda me surpreendo por, constantemente, sonhar que o meu tio está vivo. Não é simplesmente sonhar com alguém que já morreu: é sonhar que, como em um filme de mistérios, ao término do percurso a personagem estava viva e que tudo fazia parte da trama. Sempre assim: no final, meu tio está ali, foi tudo um engano, os médicos se enganaram, o hospital se equivocou, eu tirei conclusões apressadas. Isso indica que esse luto ainda está se processando em mim e, tudo bem, tem um ano e meio que ele morreu.

Por outras razões, das quais, a consciência de que vendo meus dias de vida a preço baixo a um trabalho numa escola horrorosa, de contexto horroroso, com capatazes em lugares de diretores, tenho me sentido triste além da conta.

Assim como qualquer um de vós, acompanhei gente que capitalizava sua suposta depressão. Gente invejosa, mal-amada, condoída, dentre uma tantas supostamente sensíveis, imitadoras de artistas, que gostavam de atenção e de obter indulgências para suas maldades porque, afinal, coitadinhas, sofrem tanto com depressão...especialmente no meio acadêmico, onde pululam esses estelionatários do psiquismo humano. Quem nunca encontrou um, revise a memória.

Ciente disso, não ouso dizer que estou deprimida, mas tive um predomínio pesado de sensação depressiva. Uma tristeza diferente, uma percepção igualmente diferente sobre a vida e seus elementos de sustentação material; dos laços que nos atam à vida e nos fazem levantar da cama e seguir um rumo.

Meus lutos se somaram: a analista, vítima de câncer; as duas amigas, vítimas de câncer; meu tio; meu amor que se acabou e que me trouxe a triste leveza de não amar ninguém, as diferenças físicas que o tempo vai desenhando em meu corpo são outra parte de lutos. Decerto, gosto da minha aparência e da minha vitalidade, mas muita coisa muda, sim, e me predispõe a restrições, a despeito da pressão alta, por exemplo

Não voltarei ao mesmo psicanalista. Acho que foi um percurso encerrado. Fiquei com ele por um ano. Não quero voltar.

Por falar em percurso, não sei o que me dá, que realmente não desejo voltar a certos caminhos. E quando eu puder largar a escola básica, para onde, aliás, eu jamais desejei voltar, vou saborear o ‘nunca mais’ como a mais intensa vitória que eu poderia ter.

Interessante: eu não quero amar mais ninguém. Já deu: tive dois grandes amores. Ponto final!

Quero encerrar minha carreira o mais rápido possível e viver de criatividade vaga, mexendo em plantas, lendo livros, avançando no balé, prosseguindo na academia, vendo o mar de vem quando, com a terna vontade de dançar, sem largar a mão dos meus amigos, sem renunciar ao bom sexo com o homem que eu não amo, mas com quem me entendo muito bem...e conhecer outras estradas.

 

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