Louquética

Incontinência verbal

domingo, 16 de março de 2025

O tempo e as idades

 




O lado bom de ser novo é a disposição física e a aparência da pele. Há pessoas, como eu, que se achavam pouco atraentes quando jovem, embora não faltassem pistas em contrário.

Outro aspecto positivo de ser novo, é poder andar de patins e usar as roupas que mais se quer usar, sem passar pelos crivos do etarismo. Vivemos em sociedade, de modo que é sempre desagradável ouvir aquelas pessoas da ida comum e os vídeos no Youtube determinando o que uma pessoa de mais de 40,50 ou 60 não pode fazer, não pode usar, não pode ter.

Não tenho saudades de minha juventude, excetuados os pontos que levantei.

Aos 17 anos eu era muito infeliz e insegura. Aos 19, tudo era triste, com cara de finitude e imprecisão. Antes dos 17 anos, não preciso sequer declarar a infelicidade de não mandar em mim mesma, de não arbitrar sobre mim mesma, sem sequer poder decidir a escola onde eu queria estudar ou a roupa que eu queria vestir. Talvez por isso eu veja no casamento a repetição dessas mesmas condições, porque é necessário acordo com o cônjuge. Seria preciso alguém ser muito importante para mim, a ponto de me fazer renunciar à minha liberdade. Tem quem goste, porque ter liberdade é arcar com o peso das escolhas, responder por si – nessas horas faz falta uma religião, porque é sempre conveniente colocar a culpa no Demônio e nas tentações.

Só me considerei livre quando tive meu primeiro emprego efetivo. Aí, sim, adulta e livre. Livre do olhar social, nunca estamos.

Por ter medo de cirurgias e pouco dinheiro disponível para elas, jamais fui sedentária, o que me poupa de experimentar tantos dissabores de estar envelhecendo. Acho fundamental conservar um aspecto jovial.

O relógio biológico não gira em sentido anti-horário. Mas, há várias formas de se vivenciar a realidade do cronômetro.

Sou a favor de preenchimento com ácido hialurônico, sou a favor de intervenções superficiais e de jato de plasma (é pouco usado, por ser barato, mas é como um maçarico que, em pontinhos, faz o equivalente uma queimadura leve na pele, forma uma casquinha, um hematoma; e sai, deixando a pele renovada em poucos dias). Acho botox uma péssima opção, de efeito cosmético, doloroso, de curtíssima duração, o que não quer dizer que eu seja contra a opção dos outros. Cada um faça o que bem entender, mas não se iluda.

Eu nunca faria uso, tanto pelo preço quanto pela dor e pelo pífio resultado, de bioestimulador de colágeno. Que negócio ilusório! Porém, parabenizo quem vende esses serviços e convence às pessoas de que vale a pena.

O rosto é fachada da gente, é o que vem primeiro, é o que se mostra primeiro. Num mundo etarista, quando a aparência da gente é jovem, somos bem acolhidos. Todavia, muita gente, ao descobrir que a idade daquela pessoa é bem maior do que o que o rosto indica, desiste do relacionamento. Isso justifica a preocupação em esconder a idade.

O tempo não traz rugas, mas não traz maturidade. Continuamos entre adultos infantilizados, temos medos infantis, somos imaturos com os sentimentos. Mas, não podemos, como crianças, simplesmente, ficarmos 'de mal' com os inimigos. Fazer as pazes consigo mesmo é fundamental.  


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