Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cinderela in the city


Algumas histórias reais nem parecem reais...vou contar uma delas hoje.
Eu havia ido a Campinas, participar de um congresso de leitura e apresentar uma comunicação.
Diga-se de passagem que eu nunca havia estado em Campinas. Se não me surpreendi com o frio, maior espanto eu senti ao ver tantos garotos de programa nas esquinas.
Tórax lindos, atléticos e branquinhos: do jeito que eu gosto, em oferta aos transeuntes. O mercado do sexo em minha cidade é invariavelmente marcado por travestis e prostitutas, sendo a presença masculina no sentido heterossexual do termo inexpressiva - na verdade, nunca vi.
Então, ao contrário da repulsa, me causou encantamento.
Olha só, num mundo masculino um instante em que vi a venda de prazer direcionada às mulheres (não dá para dizer se exclusivamente para as mulheres, mas o importante é que era pelo menos também para nós).
Não achei feio, achei encantador. Quantas Ave-Marias devo rezar? Como vou me redimir moralmente disso?
Não pensei nos contextos dele, não fiz volteios sociológicos nem investigações mentais sobre causas e consequências. Achei que o menino enfeitava a rua: Todos os prazeres, nenhum pecado. Preço, a combinar.
Mas, sim, isso foi na minha primeira noite por lá.
Quarta-feira seria minha apresentação, no Instituto de Economia da UNICAMP. Em termos práticos, longe para caralho!
Minha educação cartográfica e meu senso de orientação são proporcionais ao meu raciocínio matemático, isto é, algo entre a casa de 0 e de -1...
Aí, ao me notar perdida, encontrei um educado estudante nissei que me conduziu ao longínquo lugar certo.
Pessoa simpaticíssima, encetou um flerte comigo a que eu não rejeitei, mas não alimentei. Ficamos na postura gentil e polida.
A comunicação foi numa sala bem aparelhada e tão fria quanto a platéia formada apenas pelos próprios apresentadores das cinco sessões de comunicação agendadas para aquele horário.
Meu Deus! Pensei no quanto ralei para escrever meu texto.
Pensei no quanto li para produzir algo respeitável e submeti ao crivo extremamente fatal de uma professora do doutorado. No final das contas, não só aturei os lugares-comuns das vazias comunicações que se seguiram à minha, como saí com uma sensação chata de que aquilo tudo não valia a pena.
Então, tentei achar a labiríntica saída pois eu tinha que encontrar o meu amigo João às 15h30min.
Lá fui eu, sem pensar em absolutamente nada. Nem acreditei nisso. às vezes eu paro, ao acordar, e fico umas duas horas na cama só pensando. Literalmente, paro para pensar! Experimentei ali, o vazio.
Passei por um descampado onde havia umas pessoas sentadas. Nem prestei atenção nelas.
Ao dobrar na direção de onde eu pressupunha (erroneamente) que era a saída, veio um rapaz correndo atrás de mim e se jogou em minha frente, apressando-se em me pedir uma informação.
A informação que ele queria era referente ao fato de eu usar salto alto e andar com naturalidade...ora, tenho um namoradinho fetichista e percebi logo o fetiche de meu interceptor. Não fui rude, respondi ao questionário dele e, quando a conversa apertou, fiquei vermelha de vergonha ao perceber o flerte.
Mais educado foi ele ao me dizer: "Eu gostaria que nós tivéssemos um amigo em comum para me apresentar a você, mas não tenho. Então, corri até aqui para te conhecer"...
Ele adora saltos altos.
Explicou que o sapato, sozinho, nada significa - e, no caso, eu dava sentido àquilo que eu calçava. Era, assim, o conjunto: sapato, eu, meu andar, minha postura; que singularizavam o fetiche dele. Aí ele se tornou, para mim, Felipe. E fez-se o homem.
Daí para frente a gente se conheceu como se conhecessem as pessoas que se relacionam há pelo menos dois anos. Nas poucas horas (se é que excedeu mesmo uma hora) em que a gente conversou, andou, deu as mãos, tudo foi falado. E nada aconteceu.
Ou eu sou muito idiota ou não estou numa fase má e, por isso, achei tudo lindo!
Adoro homem que tem iniciativa.
Fugi dele depois, nem sei por que...talvez aquele medo que nos protege das coisas perigosas, talvez outros medos maiores, mas "A vida só se dá para que se deu/para quem amou/ para quem chorou/ para quem sofreu". Tenho meu direito ao encantamento e, principalmente, adoro os homens!

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