Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Cinco vezes ocupada...


Por muitas vezes tive a intenção de escrever, mas não deu. Na hora das escolhas, priorizo o aspecto profissional e, neste tocante, o bicho está pegando devido às inumeráveis atividades de final de semestre.
O famoso muro das lamentações acadêmicas está aberto às queixas: quem não cumpriu o que lhe cabia, após a reprovação, responsabilizou a mim, que sou professora, o fracasso na nota. A nota é sempre um atributo do aluno, depende dele e não do meu mau humor. Poderia, sim, estar condicionado à minha suposta falta de critérios, mas tenho critério e explicito cada um deles.
Meus alunos brilhantes e queridos de Leitura e Produção de texto cometeram um plágio vergonhoso. Quando um deles foi questionado, ficou na desculpa da falta de tempo...Que pena! zero no quesito ética.
Encerrei, feliz, uma turma excelente, de Literatura VI, formada majoritariamente por alunos de Biblioteconomia e de História: ali construimos outros laços e outras relações bastante diferente da frieza comum ao Ensino Superior e, por isso, fizemos nossa festinha de encerramento, discutimos coisas, expusemos opiniões e, sim, valeu à pena.
Nunca perdi numa disciplina. Porém, sei que não é fácil.
Ontem, por exemplo, fui resolver a última pedra de um muro simbólico de que costumo falar. Saí fracassada da batalha. Ser vencida não é fácil. Qualquer expressão de nossa impotência não é fácil, seja em que contexto for.
Nunca ensinei ninguém (e tão pouco defendi) a ser um bom perdedor. Fairplay é outra coisa: é o jogo limpo; é admissão de que há alguém melhor que nós em algum fator e é preciso reconhecer as qualidades alheias bem como não desqualificar a vitória alheia. Eis o fairplay.
Depois de uma batalha cansativa, dei de cara com R., no centro da cidade. Havia já uma ou duas horas desde que caí no ringue, rendida aos perversos golpes de auto-flagelação na inútil guerra contra os ultimos escombros do muro e se há uma coisa que eu faço quando não estou bem, é andar. Andei, dei de cara com ele e o tratei com a formalidade que trataria ao menos íntimo dos viventes.
Poxa, que horror! Eu disse: "Oi, R, tudo bem?"... E ele me disse: "Beleza!", sem que nenhum de nós parássemos para cumprimentos mais dignos de namorados recém separados...
Não sou assim fria.
Devo ter provocado calafrios de pavor nele, como causei em mim mesma.
Justifico-me dizendo que eu nao estava bem, que não sabia o que dizer, que o impaco com o muro sempre me destroi, que perco o rumo...
Mas fiz isso: saí sei lá de onde, em nivel  de distância, e caminhei na direção de minha casa, porque precisava pisotear minhas angústias, meu nervosismo...E nem me ocorreu que R. se parece tanto comigo que seria óbvio que ele devolveria o comportamento que eu tivesse com ele.
Também sou assim: espero ser chamada e, se não for, não chamo; espero ser convidada, e se não for, não apareço; espero bilhetes de acesso e se eles nao existem, não transgrido e nao penetro no ambiente alheio. Coisas de arianos. Ele do dia 09 e eu do dia 12 de abril.
Tem dias que os meus defeitos caem na lente de aumento: por que cargas d'água eu tratei R. como se ele fosse qualquer um
Estou cansada e ocupada: com o semestre, com o muro que eu resolvi mexer em minhas instâncias simbólicas e com o medo que tenho de fazer escolhas erradas, se é que tenho as múltiplas escolhas que penso.

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