Louquética

Incontinência verbal

domingo, 4 de setembro de 2016

Separar e superar


O ser humano adora uma magia. Não é à toa que acredita em tudo quanto é coisa que lhe apareça e que pareça feita sob medida ao seu próprio desespero.
É uma tal de autoajuda daqui, para trazer a felicidade em 120 páginas; é uma ginástica passiva dali, para fazer emagrecer sem esforços; é um remédio de lá, para resolver traumas, medos, insônias e angústias, é uma simpatia, reza ou magia para atrair o que é bom sem fazer por onde...
Aí, hoje em dia, falando em fórmulas prontas, é que entendo quando uma amiga me disse ter passado 2 anos se preparando para romper um noivado.
Se querem uma receita para uma boa separação, ela não há. Mas, pelo menos, tem aquelas medidas que a pessoa toma para fazer possível alcançar a meta. Não dá para vencer a angústia sem assumir as rédeas da própria vida e se submeter a algum processo de exploração/viagem psicológica; não dá para emagrecer sem condicionar o metabolismo; não dá solucionar problemas reais com soluções surreais. O mesmo caminho se aplica à separação. O que se pode fazer?
1) Tentar fazer sozinho (a) coisas que costumeiramente só se faz a dois. Então, veja seu filme, faça a sua viagem, compre o que for, enfim, faça sem a presença do parceiro. Isso lhe dará um parâmetro muito importante acerca de sua dependência dele (a).
2) Permita que a pessoa faça algo sem você e, de preferência, que ela se ausente por alguns dias. Assim, se o ciúme e a carência não corroerem seu coração, você poderá avaliar esta ausência enquanto sinônimo de alívio ou de saudade;
3) Pense muito acerca de como era a sua vida antes dessa pessoa e desse convívio. Atribua uma nota a isso.
4) Observe fatores específicos do convívio: a) o que melhora com esta pessoa  b) o que piora com essa pessoa; c) que alternativas eu tenho para viver sem essa pessoa; d) a que coisas renunciei para estar com essa pessoa; e) o que perdi para ou com essa pessoa.
5) Um relacionamento é feito por duas (ou mais) pessoas. Logo, se não dá certo, você também tem responsabilidade no caso. Avalie o que você fez e de que forma contribuiu para que as coisas chegassem a esse ponto.
6) Mentalmente, planeje sua vida - metas, sonhos, perspectivas - sem a pessoa em questão. Aqui você verá se sabe ou não viver sem ela. Racionalmente, sabemos que viverá, sim. Porém, aqui se mede a capacidade de suportar uma angústia de separação.
7) Esta pessoa de quem você deseja se separar possui que elementos positivos? As coisas que determinaram a entrada dela em sua vida ainda existem? Se não existem, a que se deve o fim?
8) Como você realmente se sente ao estar com essa pessoa? Se notar que se sente mal, não acredite em sua avó. Não é melhor viver mal acompanhada do que só, mas ao contrário: antes só do que mal acompanhado. Você tem a si mesmo (a), aos amigos, familiares...Amor a gente tem espalhado em vários segmentos de nossa vida. Amor romântico é que é difícil. Mas olhe se não foi você quem deixou de amar ou quem se permitiu cair no tédio. Seja honesto (a) consigo, caia fora da relação. No começo, a pessoa chora muito; depois chora menos; depois não chora mais. O coração aperta, todos os sintomas a gente conhece, mas vale a pena atravessá-los e chegar a um vazio fértil, que é onde a gente nota a falta, o vazio, mas suporta por saber que ali é um lugar vago que não pode ser preenchido por qualquer pessoa, só para tapar um buraco.
9) Se não tem jeito, se é o outro que quer a separação, não insista: a pessoa não lhe tem amor. Poderá ter pena. Você aceita migalhas? Não matam a fome. Podem até matar você...Então, viaje, ponha um oceano de distância, se mude, faça um afastamento geográfico que lhe ajude no afastamento emocional. Largue a vida da pessoa e o faça respeitosamente. Aliás, brigue; ponha os demônios para fora, lave a roupa suja; ou peça perdão, peça desculpas, mas resolva as pendências emocionais, para não ter recaídas. Deixe a pessoa em paz. Largou, largou. Esqueça as investigações.
10) O passado em comum sempre vai existir. Se você rasgar a fotografia ou destruir os presentes ganhos, nada mudará o que já foi vivido. Equilibre a memória a dois. Imponha a si a disciplina de não alimentar a saudade. No começo, sim, a gente lê novamente as coisas, exuma o passado, chora...Mas isso tem prazo certo.
11) Saia...se você quiser. Não deixe de ir a um show porque o seu par não vai ou porque a relação acabou. Sua tristeza vai estar com você aqui ou em Nova Iorque; seu cenário interior, turvado por tristezas, será o mesmo aqui ou em Paris. Porém, sair te expõe a novas situações, deixa menor lugar para recolhimentos chorosos e, seja como for, dispersa a fixação do pensamento no fato.
12) A melhor resposta é gostar de si. Esta tal de autoestima não é cuidar do corpo e da cara: é cuidar bem de si mesmo (a). Esse cuidado diz que não se deve delongar uma infelicidade, um mal-estar. Se a relação te intoxica, saia logo dessa. E fique bonito (a), para encarar a bad  com ar de vencedor (a). Se a gente estiver acabado por dentro, não precisa externalizar isso.
13) Prepare-se para eventuais repetições de padrão: o normal é que você vá, aos poucos, procurando substituto (a) para o parceiro (a) que tenha coisas em comum com  pessoa de quem se quer se separar. Pode ser semelhança física, de hábitos, de preferências...E você tenderá, também, a repetir seus atos e seus erros. Hora muito importante de avaliar a si mesmo.
14) Meça suas fraquezas. Pode ser a fraqueza jurídica, de não aguentar uma separação formal e seus trâmites; o medo de dormir só; a usura pelo dinheiro e pela qualidade de vida; a dificuldade para dividir; o egoísmo que não permite deixar o outro em paz, seguindo um rumo próprio; ou as dores de cotovelo por se sentir substituído (a). Seja franco (a) consigo mesmo (a). Localize sua fraqueza e vá resolvê-la.
15) Aceite suas fraquezas: avaliou, viu que não aguenta se separar? então não se separe. Aguente. Engula sapos e se aceite. Procure sua forma particular de baixar a temperatura do inferno e toque a sua vida sem reclamações.
16) Não aceite conselhos como verdades absolutas: a vida é sua, é você quem sabe de si. Assuma a responsabilidade por suas escolhas e faça o máximo para ser feliz.
17) Saiba escrever novos capítulos, ainda que seja na mesma história. E no mais, boa sorte!

2 comentários:

  1. MARA VIE,

    excepcional postagem!!!

    Um abração carioca.

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    1. Grata, Paulo!Outro abraço para ti, da mesma ordem: paulistano, radicado na Bahia (KKK!).

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