Louquética

Incontinência verbal

sábado, 3 de setembro de 2016

Da Justiça, a clava forte



Mas, que tipo de ser ignorante e fútil seria eu, se passasse incólume ao impeachment da Dilma e a toda trama política por que passa o Brasil? É que achei que não valia a pena encetar tais discussões. No fundo, a gente já sabe: debater, discutir, lutar, para quê, se o desfecho já tem fisionomia certa? Trocando em miúdos: era preciso um pretexto para expulsar a presidente. Pronto! Já está feito. O caso nem é esse. O caso aqui não é tanto o triunfo dos maus, mas a omissão dos bons.
Tive pena de Chico Buarque. Tive pena dele por ele ver que precisa ter pena de nós, de nossa geração inerte...Aqueles que enfrentaram um Ditadura devem ter extrema piedade de nós, que nos conformamos a uma. De todos os argumentos de defesa da presidente, acho que o mais forte foi um presente à ignorância coletiva: a afirmação de que cumprir um rito, seguir um cerimonial não desfaz o golpe.
Não estou dizendo que o Partido dos Trabalhadores não errou, não furtou e não se envolveu nas corrupções de que participou. Uma coisa é o Partido, outra coisa são os seus integrantes. E contra Dilma nada consta que desabone sua vida financeira e sua conduta como cidadã.
Irada eu fico: sou trabalhadora. O partido usou o santo nome da minha classe trabalhadora, forçou uma identificação a partir disso. Aqui no Brasil, o trabalhador é o oposto do ladrão, do vagabundo. Apostamos na identificação positiva e nos vimos traídos.
O Partido dos Trabalhadores se apegou ao poder. Usou a mesma desculpa que os chefes de Departamento das Universidades usam: a clássica história de que precisam ficar mais no poder, a fim de concluir trabalhos a longo prazo, de reformar, de melhorar, de dar seguimento a um plano qualquer. E da mesma maneira que os diretores de Departamento, alegam que fazem isso pela coletividade, não pelo dinheiro, pois que este nunca vale a pena.
Mas todo mundo quer ser Diretor e todo mundo quer ser Presidente.
Dilma deveria ter se tocado já nas eleições, cuja aprovação foi por um índice apertado. Isso é um indicativo considerável do que vem pela frente.
Aqui nós não reparamos nos vices. Olha no que deu. Isso , menos para nós, eleitores, que para a própria presidente.
Aqui, vão-se os anéis e ficam as alianças (políticas).
Mas demos vergonha ao Chico Buarque. Nosso silêncio de perdedores foi além da conta, foi a conta da inércia...Um corpo tende a permanecer em repouso mesmo que forças poderosas ajam sobre ele. Mudamos as leis da Física. Se algo poderia mudar, né?
Vão atribuir os barulhos de protestos ínfimos aos professores universitários, à esquerda radical e outros gatos pingados,,,Eu estou com o Chico Buarque: "Esse silêncio todo me atordoa/ Atordoado eu permaneço atento"...
Só sei que o feijão anda caro e a vida não anda valendo nada.
Talvez a vida esteja melhor para os que odiavam Dilma e para os quais tanto faz a figura substituta, seja Temer, seja o Demônio. Contanto que não seja a Dilma... E para esses, talvez a vida esteja mais feliz - normal haver a dissidência, mesmo que seja uma dissidência néscia.
Nunca falo dessas coisas a não ser em companhias específicas, as que têm argumento, seja pró ou contra.
Junto-me aos outros, focalizo a minha vida, percebo que o único lugar em que minha opinião vale alguma coisa é em minha própria vida. E esta, então, sempre cheia de coisas a resolver, a decidir, a fazer...Esqueço Dilma: tenho que presidir minhas misérias e minhas glórias; tenho que governar minha vida.



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