Hoje
eu dei alguns abraços em pessoas desconhecidas, por recomendação do palestrante
do Centro Espírita (kardecista) que frequento. Estranho, isso. Não que não seja
bom, nem que não seja necessário: há os mais efusivos, os frios, os tímidos, os
chocados...Quisera eu que a espontaneidade prevalecesse. Acho que o aperto de
mão, sincero, abrevia os desconfortos.
Falei
disso porque fujo de visitas e de participar de amigo secreto, coisa que se
multiplica nessa época do ano.
Odeio
almoços e encontros de confraternização, seja com quem for: acho artificial,
esquisito, recurso impessoal travestido de bom momento de fraternidade e
amizade. Nunca fui dessas coisas de dar beijos no rosto do inimigo e cumprimentar
desafetos. Por mim, troco de calçada. Entretanto, eu jamais seria indelicada a
ponto de não responder a um cumprimento, a um aperto de mão, apesar de que
quanto mais eu tenha respeitado e gostado de uma pessoa, menos eu tenha
condições de perdoar e reatar uma relação com ela. Até meu amigo mais puro em termos de
coração, JN, é assim.
O
tempo foi me corrompendo. A maturidade também: observem bem que, conforme ouvi
de um depoente do AA (eu não bebo álcool, mas fui acompanhar um dependente, para
incentivá-lo a se tratar), há coisas que a gente não faz a um inimigo e que,
todavia, faz a um ente próximo ou a um amigo. Então, se alguém gosta da gente,
nos tem amor de amigo e ofendemos essa pessoa seja por palavras, injúrias,
descaso, negligência, nossa ofensa será sempre maior, porque somos amigos.
Aos
inimigos, toda ofensa seria compreensível, já que há ali um desamor.
Assim sendo, quem é nosso amigo se ofende e se fere se a gente faz algo cujo prejuízo
será nosso. Não gosto de que meus amigos maltratem a si mesmos com vícios, maus
hábitos, tendências ruins, escolhas irresponsáveis – e posso dizer que,
respeitando as escolhas particulares, se eu pudesse, faria minhas amigas se
casarem com gente melhor do que as atuais companhias; faria minhas amigas lerem
e serem mais dadas aos livros do que ao Facebook; eu varreria o discurso derrotista
fantasiado de superioridade daquelas que dizem que não querem cursar mestrado e
doutorado (sabemos que isso é medo de perder, é preguiça de estudar e medo de
passar e medo de passar e não conseguir escrever); eu diria para irem à
academia e serem mais fortes que a preguiça e certamente ouviria coisa parecida
delas para mim - claro que não no tocante ao doutorado, pois já tenho; nem à academia, que já frequento...
Eu
deveria ter ouvido meus amigos em várias circunstâncias em que sucumbi a certos
relacionamentos ruins que eu tive; assim como deveria ter feito muitas coisas
que abreviassem meus sofrimentos, mas não fiz.
Falei
dessas coisas todas também observando o quanto não temos atitudes gratuitas:
esperamos que alguém nos peça, para então darmos (do abraço ao presente; do
conselho à ajuda financeira àquele que está em dificuldade, porque mesmo quem
ganha mil reais, pode tirar 50 e dar a um amigo gratuitamente, para que ele não
se sinta constrangido em pedir, nem humilhado em aceitar; do chocolate à caixinha
de chá, passando por aquelas músicas que você sabe que ele gosta e que pode
baixar e dar em arquivo...No meu modo de ver, todo mundo pode, de alguma forma,
presentear). Podemos dar a dica do concurso ao desempregado e dar o estímulo
para que estude; podemos indicar caminhos e alegrar o outro, ou simplesmente
ouvir...Ou simplesmente calar.
Já
falei desta minha amiga e vou repetir: Conceição recebia minhas dores, quando
eu caía. Quase sempre ela me dizia: “Você já sabe que fez o errado. Agora vamos
ver o que fazer para resolver”. Isso era na adolescência. Ela não me dava lição
de moral: via que eu já tinha a lição. Como amiga, oferecia o reparo. Presente
lindo.
Mesmo de longe, presenteie com coisas silenciosas, sem exibições ou ostentações com orações, mensagens, dicas ou um convite para dançar. Não somos tão pobres. Sempre que nossa vergonha ou timidez inibe o encontro ou a ação, cabe pensar porque nosso receio é maior do que a vontade. Desta resposta vira uma avaliação do quanto o outro importa para nós.
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