Louquética
Incontinência verbal
quarta-feira, 29 de março de 2017
Meu tempo
Tenho muito o que fazer e vivo fazendo. Coisas que ultrapassam as formalidades, coisas que não divido nem quero compartilhar ou dar satisfação a ninguém...Mas quase nunca compreendem isso.
Não gosto de responder ao 'tá aonde?', 'tá fazendo o que?', porque é quase geral a revolta dos que querem que eu esteja disponível ao telefone ou nas redes sociais quando solicitada por eles.
Não gosto e dar explicações.
Também tenho meu momento de desligar tudo ou de silenciar a casa, para coisas íntimas minhas (sim, mente tarada, pode ser sexo, pode ser me masturbar, pode ser orar, pode ser pintar os cabelos, experimentar roupas, ler livros, estudar...).
Percebi que gostam de controlar o meu tempo...
Pior: não levo celular ao supermercado, ao centro espírita, ao salão de cabeleireiro, a atividades profissionais, à academia...Não tenho a vida tao excitante a ponto de permanecer colada ao celular à espera de mensagens...
Gosto de dar estratégicas sumidinhas, também.
Às vezes, o sábado à noite, supostamente badalado, é um filme a dois, colado, num sofá...
Às vezes é um pastel por aí ou uma solitária sessão de cinema...ou até simples passeios noturnos de carro.
A vida é minha e eu uso...usufruo. Mas, às vezes, estou simplesmente ocupada mesmo
Depois de muito amar...
Eu não sei de onde as pessoas tiraram ideia de que o amor é uma fonte inesgotável. Não é. No máximo, é uma fonte renovável mediante muito artifício, muita novidade, muita particularidade e, até mediante processos de reciclagem.
As pessoas se transformam. Às vezes, se desfiguram. Geralmente a gente começa a namorar um príncipe...Com o passar dos tempos, com desleixos acumulados ou velhas desculpas (do tipo: 'você já me conheceu assim), as coisas pioram.
Se a admiração se renovar, o amor vai junto, se renovando;
Se uma situação extrema aparecer, talvez seja ali, na dificuldade, que o amor se reintegre. Mas, infinito, nenhum amor é.
Os grandes amores que motivaram casamentos, das pessoas que eu conheço, acabaram em escandalosas disputas judiciais, recíprocos desrespeitos, depreciações publicas e um maldizer de outrem que me faz perguntar o que faz a pessoa converter um ser especial e amado num inimigo a ser combatido, essas coisas e esses lastros de ódio, quando não, de arrependimento, quando ambos lamentam explicitamente ("como eu pude amar esse ser; como eu fui casar com 'aquilo'), descambando em ojeriza tão feroz que despersonaliza o ex-cônjuge, que passa a ser simplesmente chamado de o/a ex.
Casamento é para gente forte.
Tem gente que só é feliz casada, custe o que custar.
Mas a gente vê o desespero, o despreparo e o desamparo dessas pessoas: costumeiramente, têm assumido medo de envelhecerem sozinhas, medo da solidão, medo.
Outros sustentam o insustentável, negociam a manutenção da união - unir o que não está junto...manter perto quem não está junto, para não ter que vender a casa..ah, tantos sapos a engolir pelas aparências, pela economia, pela sobrevivência psíquica dos que desenvolveram dependência emocional...Traições, trocas de chumbo, vinganças, violência verbal...Fora os casos de amor unilateral, porque o amor sempre acaba primeiro para um do que para o outro...
Casamento feliz e exceção. Quase sempre se sustenta pela inteligência e não por amor...Amor sempre acaba - o maior, o mais bonito, o mais puto, o mais singular...todos acabam.
Acho que o poeta que eu
Brigamos há 10 dias. Na ocasião, eu disse que não declarava um amor que eu não reconhecia em mim. Pronto: estamos entrincheirados desde então.
Aceito a perecibilidade do amor!
Válido por tempo indeterminado. Sujeito a alterações.
segunda-feira, 6 de março de 2017
Despreparo emocional
Para
matar a curiosidade discreta de muitos, esclareço que continuo com o mesmo
poeta de sempre, agora sem saber se gosto muito ou se amo um pouco. Bicho
complexo, aquele ser humano. Mas, importa é que ele remexe minhas fibras
emocionais e reabilita minha capacidade de sentir, coisa que somos
desencorajados hoje em dia.
A
propósito, não sei onde vamos parar com estas políticas culturais do viver que,
ao estimularem o pegue e não se apegue, cria seres neuróticos incapazes de
viver experiências completas de afeto. O resultado a gente vê nos jornais:
rebanhos de gente que não aceita o fim dos relacionamentos e se converte em
assassino, suicida, sequestrador, matador dos próprios filhos. Aliás, nesse
tocante vi dois casos recentes: no primeiro, um homem pobre, jovem, pouco
escolarizado, que fez dois filhos pequenos reféns, sob a ameaça de uma faca.
Desse, eu confesso, tive uma piedade infinita, porque ele chorava, falando
coisas incompreensíveis, mas por contexto, desesperadoras. De personalidade
ciumenta, via-se o claro adoecimento emocional dele...Só cabia ter piedade. No
fim, ele não matou ninguém, foi recolhido à cadeia, mas era caso de
psiquiatria, psicologia, psicanálise...
Num
segundo caso, o escroto assassino premeditou tudo, deixou carta de vingança
contra a ex-mulher, afirmando que ela não teria a guarda (já concedida pela
Justiça) das crianças, nem o colocaria jamais na cadeia. E esfaqueou as
crianças, jogando os corpos pela janela; suicidando-se em seguida.
Claro,
são casos extremos, mas muito recorrentes.
Numa
escala global, o mundo assiste aos adolescentes e adultos jovens incapazes de lidarem
com perdas, decepções, frustrações...Não tiveram liberdade de vivência
emocional, porque o povo estava pregando o desapego, isso que chamam desapego.
Assim, a cultura geral incentiva o coração frio, a superficialidade dos
contatos e estimula as pessoas a se esquivarem de emoções reais a fim de também
se desviarem das dores dos amores rompidos, das separações, das angústias, como
se realmente houvesse a possibilidade de escolhas, bastando acionar um
dispositivo interior de garantia de não-envolvimento.
Quando
o sistema é burlado, paciência: ninguém sabe lidar com aquilo, nem tem
maturidade emocional para atravessar as tempestades. Ótimo para a indústria
farmacológica, que ensina a curar dores com Rivotril e desatenção com Ritalina.
Mundinho
doente. Doentio.
Também
fiquei com GP por um ano, sem sentir nada por ele, mas não por conta desses impositivos
da cultura. Meu exemplo reitera o fato de que não temos escolhas: acontece de a
gente gostar e acontece de a gente não gostar de alguém. Fosse por deliberada
vontade, sempre escolheria os melhores amores potenciais.
Ensinam,
porém, isso, de que ‘pegue e não se apegue’ ou, como disse uma despeitada ‘amiga’
minha, ‘madeirou, largou’, como se pudéssemos abreviar o significado das
experiências ou subestimássemos o lugar das pessoas em nossas vidas, dizendo de
antemão que não há vagas, que nunca passará daquilo, do instante, do
momento...e se o momento for bom e alguém quiser prolongar ou repetir? –
porque, por caminhos cruzados nas relações sociais, um amigo dela se interessou
por mim e eu correspondi, Foi um encontro social sem maiores consequência. Não
obstante, não dei estímulo ao flerte porque estou com o poeta, sem que quero e
de quem eu gosto e se um relacionamento está bom, não vou jogar fora a menos
que o desgaste seja natural. Deixei, pois, no plano das tentações – e nos
acostumamos a ouvir e crer que não se pode criar expectativa. Bem, se é para
viver sem expectativa, morra logo, porque até a expectativa de vida anda sendo
mensurada estatisticamente há anos.
Acho
tudo isso de uma burrice espantosa.
Querer
controlar tudo.
Medo
de perder o controle.
No
fim, adultos despreparados emocionalmente é o quociente dessa divisão.
A
vida dói tanto. Vai pensando que sara quando casar...Vai pensando que
estabilidade no emprego e relação estável conferem imediata garantia de vida
estável...Não funciona assim não. Ajudam, lógico. São preferíveis, lógico. Mas
não há como se desviar de angústias, de realidades próprias ao existir.
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