O
outro, esse ser que a gente gosta enquanto par amoroso, ah, dá um trabalho! É um
cercar de delicadezas, um medir de circunstâncias, uns cuidados!!!
Ele
me pediu para escrever sobre o livro dele. O problema é que o livro dele é um
livro de esforços, uma coisa esmerada, medida e comedida que me pareceu pouco
encantadora. Livro bom, mas bom pelo esforço e não pela espontaneidade da
escrita. Não é o meu livro preferido dele... Não é como o que eu mais gosto, o
terceiro.
Ele
sabe coo eu gosto do outro livro. Gosto como fã e como professora. Gosto
humanamente.
Tentei
escrever e não me rendeu mais que dois parágrafos. Não posso fazer isso com o
homem que eu gosto e também para mim, a espontaneidade está ameaçada.
Como
recusar a um pedido de confiança desses? Ele nem deve saber que a gente, que
escreve cientificamente (aqui não, né, gente? Aqui a escrita é torta, acelerada
e sem estribeiras) também precisa de inspiração.
Odeio
escrever por obrigação.
Quem
faz artigo, trabalho acadêmico, prefácio, resenhas e escritas obrigatórias sabe
muito bem porque o negócio empaca.
No caso de trabalho acadêmico, inclusiva da tese, vai a minha dica para desempacar: escreva espontaneamente. Escreva o seu pensamento. Interprete o que você leu e expresse isso de maneira clara, com suas palavras. Depois, sim, vá catar citações que tenham a ver com o seu ponto de vista.
Não seja trouxa: citação a gente não traz, joga e larga lá. A gente escolhe de acordo nosso pensamento. É como convocar testemunhas de defesa, então, você tem que ler e encontrar quem defenda pontos de vista afinados com os seus.
A testemunha não pode falar sozinha e pronto. Logo, aproveite o que foi dito, retome e só então siga com sua análise.
Está difícil? Divida o tempo. Escreva duas horas por turno, num dia. Sente e tente. O resto do tempo você mata pulga no gato, mexe no smartphone, vê TV, faz fofoca, sai para dançar, reza, fala mal dos outros, toma um sol...
E se foi cobrado em leituras, vai lendo e escrevendo simultaneamente. Fazer fichamento ajuda a fixar as ideias, mas para quem tem pressa na escrita, não dá.
Introdução e conclusão são coisas a fazer por último, para sair tudo bem feito. Nada de repetições vazias: na introdução você faz promessas e na conclusão você mostra que cumpriu. Pronto! Beijos para a ABNT e bola para a frente!
Pois é. Já enrolei há muito tempo. Aí, no
Dia dos namorados, vem ele me pedir para escrever sobre o livro dele...um livro
complexo em tudo...E minha vontade era dizer: um livro chato! Era dizer, ‘cara,
você errou!’. Dividisse o livro em dois, em três...e parasse de invencionice inútil
e previsível com aglutinação de palavras...
Mas
faz é tempo que o livro está feito.
Quando
a gente se conheceu, o livro já estava no penúltimo poema... E ele foi fazendo
uns ajustes absurdos, para dar enquadramento formal. Aff! Ficou meio enlatado,
porque não é mesmo o caso de dizer ‘óbvio’. Até o lançamento, há muitos meses,
ele foi mexendo aqui e ali, tomou uns venenos estruturalistas e fez um livro
para poucos. Não por ser hermético, mas por ser um livro de voz baixa.
Não
vou dizer mais do que isso por aqui. Acabei de ter a resposta para mim mesma: é
um livro de voz baixa, que cochicha para mim coisas inaudíveis, não tem
eufonia...
Ele
repetiu um clichê: deixou o melhor para o final. Não sei como enrolar para só
falar da parte boa do livro. Não sei. Acho que meu desamor vai aparecer e isso
não é justo com o esforço, com o esmero, com o capricho...
Deve
ser muito difícil para ele ver que talvez o livro mais maduro seja o que veio
antes...sei lá...Será que ele percebe? Mas não sei escrever apenas para
elogiar. Isso ele não espera de mim...Mas espera uma justa leitura...
Depreendam aí, meus queridos, que o livro dele está no mercado há meses - quase um ano - e bem prefaciado e bem posfaciado...Vem ele e reclama comigo da insubsistência dos pareceristas em questão.
Uma justa
leitura, agora, consubstancia uma saia justa para mim.
Por
quanto tempo poderei enrolar? Não sou disso. Está escrito!
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