Louquética

Incontinência verbal

domingo, 23 de dezembro de 2018



Parece um padrão, de tão repetitivo que é. Predomina mais entre as mulheres que entre os homens e todos nós conhecemos alguns casos bem próximos: as pessoas vivem o máximo possível de luxúrias, se deleitam sem pudores no sexo, se largam no álcool, nas drogas, nas badalações, nas atitudes ilícitas, nas irresponsabilidades desenfreadas e nas mais altas inconsequências e, de repente, um dia, alegam que ouviram um chamado de Deus. Pronto: vão limpar a ficha numa religião qualquer, mas nas protestantes sobretudo. O passo seguinte é condenar nos outros tudo aquilo que elas já fizeram.
A seguir, se tornam fiscais do sexo alheio, controladores da liberdade, das ações e das atitudes e, em boa parte do tempo, vão cometer tudo que cometiam antes, porém escondidas sob o véu da hipocrisia. Só encerram a carreira de mundanidades quando estão velhas, fora de circulação.
Oram como os grandes fariseus: gritando, se exibindo, colocando Deus antes de tudo, em suas palavras mas nunca nas atitudes reais.
Em minha rua tem dessas pessoas.
Em minha família tem dessas pessoas.
Elas estão por toda parte.
As que fazem trânsito religioso são ainda piores: condenam amanhã as atitudes da religião que as abrigavam hoje. Tornam-se detentoras de verdades absolutas, monetarizam seus arrependimentos e as ressacas espirituais que carregam porque, depois de muita peregrinação entre segmentos espirituais e em pecados paralelos (ah, elas acreditam em Pecados), colocam culpa nos outros, são supostamente bastante íntimas de Deus, senão por fé, por medo do Inferno.
Acreditam no jejum, que fazem alardeando, como se fosse uma greve de fome em favor da humanidade - certamente por pensarem que Deus ganha muito se elas declinam da gula, do que ganharia se, ao invés de passar fome para se exibir para os outros, dessem comida a quem realmente tem fome. Desse tipo aí, tem na minha rua, na família, entre os meus amigos...
Estou falando nisso porque estou no meio do período mais hipócrita do ano, onde essas coisas se repetem.
Para alguns, tudo isso é necessário: os rituais fazem com que eles creiam mais em si mesmos. Uma fé ostensiva, para os outros verem, podem convencê-los de que tudo aquilo é verdade: precisam do rito, dos símbolos e das testemunhas.
Mas, também conheço poucas mas verdadeiras pessoas religiosas. É que elas são discretas: não estampam fé em camiseta, nem em adesivos de carro, não esfregam na cara dos outros a oração feita em favor deles, nem fazem caridade para aparecer em coluna social.
Desses não há em minha rua.
Desses não há em minha família. Mas, asseguro que existem.
São respeitáveis, amorosos, caridosos, tudo naturalmente. Acho que Deus deve morar neles, até porque não se tornaram o que são por arrependimento, por hipocrisia, por dor, para limpar a ficha, por medo do Inferno...Por isso são poucos. Mas, é gente em que boto fé!

Nenhum comentário:

Postar um comentário