Tem uma filosofia de
para-choque de caminhão, que diz que “amigo não é aquele que enxuga uma lágrima
e, sim, aquele que não a deixa cair.
Ora, já declarei
minha chateação contra quem persegue nosso direito ao choro. Odeio explicar as
razões de minhas tristezas, engolir minhas lágrimas ou ter que adiá-las para
evitar testemunhas.
Agora, a perseguição
é outra: não posso ficar em paz, quietinha, muda, fora de redes sociais, longe
do telefone celular, porque toda hora tenho que explicar meu sumiço.
Gostei de meu réveillon.
Gostei ainda mais de não ativar dados móveis e ir para uma área onde o sinal
era quase inexistente.
Está tudo bem: sem confusões, sem tristezas, sem desesperos. Acho que as pessoas se acostumaram com ostentação de felicidade. Não: a felicidade pode ser muda, silenciosa, contemplativa.
Não tenho uma vida
excitante a ponto de justificar o grude nos aparelhos. Odeio saudar quem eu não
gosto e formalizar votos de feliz ano novo a gente cretina ou insignificante.
Claro, tem gente
ruim, escrota e cretina que eu gosto, apesar dos péssimos adjetivos. Mas, entre
gostar e querer contato, vai uma distância incomensurável.
Fica a mesma dica:
se você precisa perdoar uma pessoa escrota, faça o seu possível. Se conseguir,
não esqueça que vocês não precisam manter o convívio contínuo.
Hoje em dia eu me
sinto uma total imbecil por ter arrastado uns contatos assim, ad eternum.
Nuns casos, por
piedade, porque a pessoa já não tinha amigos e poucos eram os próximos que queriam proximidade com ela.
Em outro caso, a
pessoa viveu um verdadeiro ostracismo familiar, com todo mundo guardando
distância e com justa razão: trata-se de um ser humano péssimo e venenoso que,
se não ferir diretamente quem chegar perto, vai articular situações e plantar a
discórdia, de modo a fazer ferver a dissensão, as brigas, as calúnias. Para dar
um exemplo, essa figura convenceu uma pessoa de que havia outra a tramar ardis
e atentados contra a vida do ‘visitante’.
Mas, lá fui eu,
atender ao “setenta vezes sete” perdões que devemos dar.
Voltei envenenada,
não porque não estivesse imune ao veneno ou desconhecesse onde estava o
antídoto, mas por notar que foi, de fato, a última vez em que fui visitá-la. Nunca
mais volto lá.
Pareço e sou uma
pessoa de “nunca mais”. Nunca mais, em minha vida, é muito verdadeiro e mais
constante que “para sempre”. Pouco sei sobre ‘para sempre’.
Não precisamos
disso. Ninguém precisa. Decerto, obrigações sociais nos submetem ao contato com
quem não queremos. Basta não prolongar. E se pudermos romper o laço, melhor
ainda.
Outro ponto é evitar
repetir más experiências. Se não foi bom sair com tal pessoa ou realizar
qualquer atividade com ela, não é necessário passar por tudo de novo, a menos
que se dê o benefício da segunda chance.
Também não vale ir
onde não se deseja, comer aquilo de que não gosta, só para não causar
desconforto nos outros.
Já entrei nessa: no fim
das contas, almocei arroz e alface, para não declinar do almoço oferecido
coletivamente (um cardápio horroroso e pesado que me obrigou a me servir apenas
do que era possível comer, em meio a tanta porcaria sem sabor). Saí com fome
para não sofrer linchamento social e parecer metida a besta. Não faço isso
nunca mais.
Quem quiser que
venha me obrigar a gostar de açaí, a gostar do Rio de Janeiro, a achar calça
sarouel bonita, a usar espadrilles, a querer ter filhos, a ouvir pagode! De
igual maneira, nunca obriguei ninguém a ter os mesmos gostos que eu. Contudo, é
difícil que me deixem em paz: há sempre alguém querendo me converter.
Bicho com vontade
própria é fogo!
Então, não quero
atender a ligação apenas porque não quero conversar. O povo faz um alarido,
mesmo eu previamente tendo feito a advertência de que quero ficar quieta e
sozinha. Não há nada de errado nisso. É a paz do encontro comigo mesma.
O poeta pouco
entende disso – ele, pelo menos, subestima. Coloca a etiqueta da frescura ou de
algo depreciativo, mas me deixa em paz.
O que há de errado
em querer ficar sozinha?
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