Minha amiga vive
buscando grandes amores no Tinder. Recentemente, um grande amor de único
encontro levou o celular dela e nunca mais apareceu.
Semana passada, outro
grande amor caiu na besteira de citar o próprio nome completo; jogamos no
Google, e lá estavam os registros de processo enquadrado na Lei Maria da Penha; e outro, por um indiciamento por roubo de carro e estelionato.
Não sou conservadora,
acho que quem quer amor e quem quer sexo tem que buscar mesmo. Há lugares mais
propícios e outros em que a gente já sabe o tipo de gente que irá encontrar,
lá, onde a exceção é raridade.
Um dos maiores erros
é crer que só a gente mente. Ora, se você, que é essa pessoa espetacular, ímpar
e exemplar, mente e faz armações, imagine as demais pessoas?
Acontece, porém, que
minha amiga que mente muito – finge que trabalha, finge profissões que ela nem
sabe de que se trata; finge que é pobre (breve adendo: eu apoio isso. A
prosperidade não deve estar estampada na cara, no carro, na casa. Elegância,
sim. Ostentação, jamais. Exibir o poder financeiro ou capital só atrai
exploradores, invejas, parentes interesseiros. Antes contar misérias a ter que
suportar aqueles que invejam nossas poupanças e nossos hábitos de só comprar à
vista)...E os caras vão logo fingindo que querem coisa séria, propõem mudar o
sobrenome dela, chamam-na de ‘meu amor’, forjam que são homens de família e,
para tanto, metem uma foto com a mãe, com os filhos; se propõem a ir à
Igreja...
Aí ela quer fugir
deste amor estelionatário, que, por sinal, tem um sexo ruim e foi pouco
agraciado pela natureza no tocante ao órgão sexual, mas que diz ‘ meu amor’ tão
bonitinho, que ela se deixa ficar em conversas virtuais eternas.
Porém, ele sabe onde
ela mora e ameaça ir lá, caso ela desista dele.
Acho isso uma regra
de ouro: nunca levar qualquer affaire, peguete, ficante, caso ou rolo à própria
casa.
Até no filme “Entrevista
com o vampiro”, há uma cena em que Tom Cruiser reclama com Kristen Dunster, por
ela ter deixado um cadáver na sala: “nunca traga vítimas para casa!”. À parte
gracejos, não interessa se você é homem ou mulher; se é convencido ou se se
acha acima do bem e do mal: não há sexo que valha tanto risco. Imagine: meter
desconhecidos em casa, sob o risco não apenas de roubo, mas de que a pessoa
volte sem ser convidada; que devasse sua intimidade. E o mundo está cheio de
loucos e de gente grudenta.
Tem gente que nós
não queremos contato nunca mais. Mas, e se a pessoa forçar a coincidência,
passando por nosso caminho? Já passei por isso com dois perseguidores diferentes
– gente que me viu em rede social, copiou lugares que eu frequento e, posteriormente,
se colocou em meu caminho.
Com o poeta foi
assim, mas por meios saudáveis: ele me viu numa foto, com um amigo em comum (escritor).
Veio atrás. Esperou três meses até que eu aceitasse o convite. Aceitei o
convite, a conversa e, um dia, o encontro. Encontrei e não larguei mais, há
quase quatro anos.
Houve um tempo em
que um amigo apresentava ao outro; as pessoas se encontravam, sem Tinder, sem
Glinder, sem Badoo, sem Par perfeito... – esses meios acabaram comportando
apenas pessoas casadas em busca de aventuras; paraíso das mentiras e dos
golpes, de fotos com efeitos num cardápio humano de sabores previsíveis e
preços lamentáveis. Amores de procedência duvidosa, amores falsificados para dores de cabeça verdadeiras.
Voltando à amiga, ela
quis ocultar do analista, por vergonha, que prossegue saindo com desconhecidos
e criando amores eternos de três dias. Eu aconselhei que não o fizesse.
Se ela mentir para o
analista, o problema continuará. E se ela reconhece que há problema, precisa
resolver. Se não causasse angústia, estaria tudo bem. Mas, ela sofre.
Encontrar namoros
não está fácil mesmo, para ninguém. Ser bonito ajuda, atrai, mas não determina
que você vai descolar ninguém.
Quem não foi
favorecido pela beleza, precisa colocar em foco outros atrativos – charme,
inteligência, elegância, bom humor...
Não é porque não se é bonito, que não se
vai usar um bom perfume, roupas bonitas, cuidar de si...desleixo não atrai.
Simplicidade é diferente de desleixo, tanto quanto humildade é diferente de
pobreza.