Aprendemos a lição
de um modo errado: achamos um absurdo que uma pessoa que tenha tudo possa vir a
ter angústias, depressão, transtornos psicológicos. Reafirmo que não é porque
se tem tudo, que não se sente falta de nada.
Claro, as
necessidades causam transtornos também. Fica difícil ser feliz quando há ordem
de despejo, telefonema de credores, situações de humilhação, de necessidades
materiais...
Às vezes, ter
recursos materiais não poupará ninguém das dores da existência, mas já ajuda no
suporte e na aquisição da ajuda profissional da psiquiatria, psicanálise, ou do
que for.
Seja por uma
questão física, quando a pessoa se sente fora dos padrões, se acha feio, gordo,
etc., mesmo pelas poucas correspondências afetivas, amores ou vontades
contrariadas, sentimentos de luto e tudo o mais que pode afetar um ser humano e
fragilizá-lo, seja como for, a gente procura causas e motivos.
Quando a pessoa não tem
a causa aparente, queremos tirar a legitimidade da dor daquela pessoa.
Hoje fui eu a sentir
isso, quando mostraram o Xexéo, ex-vocalista da Timbalada, vivendo na penúria
das ruas, por causa do vício em drogas.
Alguns dirão que
Deus deu a ele todas as oportunidades. E deu mesmo. E isso não é antídoto para
depressão, vícios, dores, angústias.
Deveríamos, sim
partir daí: a pessoa teve tudo – dinheiro, aparência, fama, talento, afeto, fãs
– mas há algo além do palpável e acima de imunidades.
A atitude interior
conta. Se a pessoa foge, anestesiando a dor com álcool, sexo, drogas, compras
ou toda sorte de ilusões, o bloqueio temporário da angústia fica cada vez mais
curto.
Gosto de dar
trabalho à tristeza. Infeliz de quem não luta e se acomoda.
Também tem quem faça
marketing da depressão – nem Ricardo Boechat escapou, pois que até no dia da
morte, tendo superado uma depressão real e pesada, capitalizou sua história e
estava a serviço de uma empresa de fármacos antidepressivos quando houve o acidente
fatal – há quem surfe no modismo do coitado/pobrezinho para ganhar uns afagos
no ego; há quem se auto-diagnostique e há quem realmente imagina que qualquer tristeza é depressão.
Ah, sim: fracos como
somos, em nossa condição humana, ainda estamos vulneráveis a hormônios, a
oscilações neuronais e processos físicos que nos tornam propensos a tudo isso.
A estrada de cura ou
de estabilização é bastante pessoal. Todavia, tem um ponto em comum: a pessoa
precisa assumir as rédeas da vida e procurar a saída, querer sair do quadro em
que se encontra. Precisa, ainda, saber que angústia não tem cura. Angústia é
parte da vida, vai, vem, demora, sai, mas sempre volta.
Não há remédio que
cure. Mas, há reações saudáveis para o que é inevitável.
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