Quando algum escrito
do meu poeta sai em coletâneas, normalmente porque ele venceu concursos na
área, a atitude dele é de um alheamento surpreendente.
Para ele, não conta.
Não é um livro dele. É um poema entre os outros poemas dos outros.
Em princípio, achei
isso muito ruim. Depois entendi: é algo muito relacionado com a autonomia, com
os limites daquilo que lhe é próprio...sou assim também, em alguma medida:
minha tia sempre fala que, desde criança, eu repetia que eu era dona do meu
nariz. Ela, ao contrário, lamenta o que fez e o que deixou de fazer porque
permitiu interferências.
O poeta e eu somos
assim: a gente manda no que é nosso. Então, nunca coloquei olhos nas
propriedades materiais ou subjetivas dos outros, porque são dos outros.
Todavia, adoro meu carro velho, porque é meu e nele eu ponho as músicas que eu
quero, os perfumes de que gosto e escolho as rotas que gosto.
Gosto do que é meu
porque me pertence e posso exercer minha vontade, usar, ligar, desligar,
colocar, retirar, ver, parar, arrumar, refazer, deixar num canto...
Amo minha vida
porque é minha – e quem tem uma melhor, que a aproveite.
Há quem seja ávido
pelo estereótipo de felicidade do próximo, da família feliz, dos risos
permanentes, do amor perfeito e das outras perfeições impossíveis mas, a vida
real tem muito mais graça em sua naturalidade, nas angústias que se supera, na
forma como construímos vitórias ou crescemos lentamente mesmo em face da dor,
nas boas ansiedades que antecedem a concretização dos planos, em tudo de bom e
de ruim que perfaz a vida real.
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