Porquanto somos
humanos, compartilhamos de sentimentos, sensações, desejos e experiências
comuns, universalizadas por nossa condição. Então, através da experiência do
outro, podemos colher certos aproveitamos particulares.
Não tenho autoridade
para dar conselhos. Aliás, de vez em quando me exaspero com uns tantos leitores
do blog, que me procuram com cobranças de respostas e resultados, ou em busca de
esclarecimentos sobre determinadas pautas. Aqui é um espaço de opinião sincera,
de relatos meus, que não conheço nem tenho intimidades com meu público, nesses
11 anos de existência da página – olha, nem eu acredito nesse tempo todo.
Hoje, entretanto, vou
fazer diferente. Vou dar um conselho explícito e direto – esperando não ter por
leitor nenhum ser humano paranoico, que nunca vi, nem conheço, nem sei o nome,
porque tem de tudo nesse mundo e tem pessoas que julgam que tudo é indireta
para si. As novelas não frisam à toa: “Esta é uma obra de ficção. Qualquer
semelhança com nomes, fatos, datas ou lugares, terá sido mera coincidência”.
Então, lá vai: ontem tirei, no tarô, um X de Espadas.
Há um tempo passei a
jogar o tarô para mim mesma. Entendi o tarô como um caminho de leituras
arquetípicas psicanalítica, ou seja, um jogo entre coisas inconscientes, mais
do que um oráculo com mágicas de adivinhações – se bem, confesso: tarô lê mais
o seu presente. Aí as interpretações são pessoais. As Lâminas têm significado
geral, narrativo, imagético e dependem da posição ocupada no jogo, por exemplo.
E faço o preâmbulo para me explicar melhor e passarmos ao X de Espadas e à vida
de quem nem acredita em tarô – não é necessário mesmo.
Destaco o quão apavorante
é o naipe de Espadas: de elemento ar, corta dos dois lados, quando surge, derruba
os sonhos. Se o IX, é a carta mais temida por muitos, por representar sofrimento
psíquico, desassossego, pesadelos, preocupações, medos; o X de Espadas assusta
ao mostrar muitas espadas atravessando o corpo – tanto faz a origem do baralho
e as variações de ilustração. Pura dor e desespero. Mas, o que pode haver de
bom nisso? Primeiro, enxergar a dor e o problema (consciência da situação).
Segundo, a possibilidade de reverter. Parar, pensar, observar: é preciso
encontrar a saída em meio ao caos. Solidão e silêncio para estar consigo e ver
a necessidade de solução.
Pensemos agora nas
espadas que podem nos atravessar – no amor, no dinheiro, na vida social, nas
mágoas, nas tristezas, nas coisas de que somos vítimas por não termos meios de
escapar. Podemos ser esgrimistas e ter na espada uma arma, mas, no simbólico é ela que nos acerta.
Eis o conselho: o X de
Espadas, para mim, representa todas as situações abusivas que pedem o fim, exigem que
tenhamos as rédeas e as encerremos: as que tocam nossa interioridade, as agressões
cumulativas, as questões familiares que causam feridas nunca declaradas ou
nunca admitidas, os assédios morais e pesadelos de convívio, seja lá onde for. Por
causa de nosso momento atual, associamos a ideia de relações abusivas ao
contexto sexual, ao estupro, mas não percebemos que o homem que nos negligencia
comete um abuso; que os pais egoístas que tivemos ou que os colegas que boicotam nosso trabalho cometem abusos. Toda forma de assédio, bullying, todo
mau trato reiterado é um abuso. Tem gente abusiva em todo canto. Deste modo,
veja que IX vem antes de X, não é? É a véspera, é o pré, é o antes, é o que
antecede ao fim de um ciclo, portanto, acabe com isso. O dez é o fechamento.
Não é uma carta ruim. Ao contrário, é a carta da responsabilidade sobre aquilo
que te acontece, uma vez que você percebeu onde está o problema e criou a
consciência do abuso.
Se a carta traz o
temor e mostra o sofrimento, também te mostra: resolva. Se te parece
desesperador, esfrie a cabeça, confie que tudo passa e apresse o fim dessa
situação. Saiba dizer não, saiba desligar o telefone ou trocar o número, saiba
fechar o ciclo se posicionando de modo diferente, pois se não puder mudar seus
sentimentos, você pode mudar suas atitudes.
Não é para agir de
forma intempestiva, mas aproveite a passagem de ano e tome atitudes diferentes,
se livrando do lixo mental que essas pessoas, coisas e situações geram.
Acho uma infantilidade
sem fim bloquear os outros, excluir, mas há pessoas para as quais a conversa
jamais surtirá efeito. Considere como medida cautelar isso de manter distância.
Não se ponha ao alcance do abusador, seja lá quem for.
Se não der para cortar
o contato, enfrente a situação, a pratos limpos.
Se o caso for de
dependência – ou seja, não se pode romper com o abusador, pois se depende dele
economicamente, ou é o chefe, ou, pior, há relações parentais pelo meio, pense
em formas de sair disso, mas quebre o ciclo.
Sei que datas
comemorativas são guiadas por consumo, economia, comércio, mas não sou uma
pessoa amarga. Acredito que são bons pretextos para expressar carinho, amor,
para comemorar a existência ou acreditar num amanhã melhor. Ano novo é rito de
passagem – na verdade, só muda a data. Mas pode ser época de inaugurar outra
fase de vida, planejar, criar, meios, executar... fechar ciclos, encerrar, acabar, tal como a ilustração, dar aquele golpe de misericórdia, finalizar e começar outras coisas.