Nunca me causou
tanto enjoo ouvir clichês como os de hoje em dia. Dá vontade de morrer só em
ouvir “Crenças limitantes”, “personalidade narcisista”, “Transtorno de sei lá o
quê”, uma profusão de repetições aleatórias de gente que se diagnostica pelo
Google, se especializa em Tik tok, se pós-gradua em YouTube e faz pós-doutorado
em livro de autoajuda e curso com picareta de todo tipo.
A propósito,
takiupariu com esse povo carente a ponto de abraçar qualquer picareta que
pareça com consolos vagos e promessas de prosperidade. Pior: qualquer um se diz
terapeuta, num país que acha que terapia é sinônimo de psicologia ou psicanálise.
Sinceramente, é sob este ponto que eu creio que quem cai nessas ondas está buscando
um pai, uma autoridade de pai, uma reencenação do cuidado de uma família,
recompensas de amor, cuidado e conselhos e, por isso, paga para obter as fórmulas
milagrosas que possam sanar feridas.
Moro neste mundo
aqui – provavelmente, é o mesmo em que você mora. Porém, tem muita gente que
deve morar no mundo da lua. Não sei onde é que a gente compra paz, amor,
felicidade, prosperidade e onde é que a pessoa vai para nunca mais ter
sofrimentos, nem sentir angústias. Garanto, porém, que não faltarão os que queiram
nos vender os mapas para achar esses caminhos. Os mais astutos, obviamente, vão
logo estampar o nome de Jesus, puxar aquela credibilidade que os nomes sagrados
subscrevem...e para quem está perdido, qualquer lugar é caminho. Os
desencaminhados inventam até salvadores na política, os grandes pais severos e
conservadores, que irão consertar tudo isso que está aí...velhas necessidades
de punição para um povo com tendência à autoflagelação. Sofrimento e dor não
ensinam nada. Se ensinassem, seríamos todos sábios, já que não existe quem não
tenha passado por dores e sofrimentos.
Semana passada,
brinquei com meus alunos, dizendo que na Mitologia está tudo bem, até o momento
em que deuses e mortais se encontram. Claro, vai dar em tragédia. Exemplifiquei
que um deus do Olimpo tem poderes, tem tudo. Mas, olha para os mortais e sente
inveja de alguma coisa. Repliquei um meme de Zeus, em que ele, cercado de
deusas lindas, estica os olhos para a Terra, desejoso: “Hum, mortais!!!Quero
uma!”. Eu disse que mesmo tendo as deusas a seu alcance, ele nunca está
satisfeito.
A brincadeira tem
este tom de verdade: somos seres da falta. Todos nós. Ao conquistar o que se
quer, passa pouco tempo e já criamos novos quereres. Faz parte. É o estar aqui,
é o viver no mundo que faz com que, coletivamente, tenhamos angústias, desejos,
anseios, sofrimentos, variando bem pouco conforme a cultura e as maneiras
particulares de cada povo pensar e se expressar. Tarefa pessoal do existir. Clichê
humano.