Sabe aquela filosofia de para-choque de caminhão, que diz: “Fiz o meu castelo com as pedras que jogaram em mim?” Verdade imensa está sob essa aparente bobagem. Assim, para muitos, o fato de ter sido desafiado, atacado ou, mesmo, humilhado, pode representar um estímulo para mudanças extremas. Nunca vi carga motivacional maior para alguém, dentre os meus mais próximos. Não é todo mundo, porque cada um reage de um modo, mas os que de fato acatam a ofensa como um desafio, dão respostas silenciosas gestadas calmamente no planejamento e no método. E estão certíssimos.
Sem planejamento,
método e disciplina, nada feito. Dou os exemplos: um certo funcionário
temporário que eu conheço era constantemente atacado no desempenho de suas
funções. Ele ouviu, respondeu aqui e ali, mas, após um tempo, calou e seguiu. Em silêncio,
construiu a própria escada: após dois anos, passou em segundo lugar para o
concurso do INSS... e nem deu tchau a ninguém. Simplesmente, sumiu...só se viu o pedido de exoneração.
Outro exemplo: Patrícia pesava quase cem quilos. Ouviu o que as pessoas gordas ouvem, de conteúdos depreciativos, de insinuações de preguiça a desleixo. Obviamente, o exterior dela revelava questões internas. Nunca é fácil ouvir grosserias, mesmo quando travestidas de boa educação. E assim foi: Patrícia emagreceu, sem paranoias, sem desespero. Foi, com o tempo, acertando nas comidas, porque não queria perder o prazer dos sabores; se ajustou às atividades físicas. E foi ficando mais atraente para si mesma. Se bem me lembro, foram quase dois anos até ela estar bem consigo mesma, porque não nos faltam colegas e amigas a recorrer a programas radicais de emagrecimento, cirurgias bariátricas e etc., mas como forma de agradar aos outros.
Essa pressão externa para enquadrar todo mundo num
padrão, todos nós sofremos. Algumas vezes a gente não dá bola, porque há coisas
que são nossas, são nossos gostos e ponto final – em meu caso, as pessoas
querem me obrigar a morar em condomínio (porque todo mundo mora); a ter outro
carro (mas, eu amo carros vermelhos); a ter comportamentos e aparências igualmente
padronizados; etc. e eu já contrario a todos porque não gosto de cerveja, de vinho,
de nada que contenha álcool; e muito menos gosto de feijoada, maniçoba, mocotó,
açaí, refrigerante, doces açucarados e nem pizza...
Os clichês de
sonhos, fantasias se repetem. Intromissão e críticas até sexualmente, a gente
recebe – e aqui acrescento que por eu não gostar de sexo oral em mim e afirmar
isso em conversa coletiva com as amigas, vieram os protestos. Ora, há coisas
particulares, individuais, há territórios que são terminantemente pessoais. Incrível
como as pessoas sentenciam que somos obrigados a gostar e a querer o que elas
julgam ser o certo, porque medem o mundo pela circunferência do próprio umbigo.
Aqui eu citei os
amigos íntimos, realmente íntimos, que discutem intimidades porque têm tal
liberdade. Porém impor padrões e determinar o gosto alheio, é uma forma de
agressão.
Uma ex-amiga
costumava sempre me dizer, diante de alguma discordância: “reveja os seus
conceitos!”. Claro, eram os MEUS conceitos que estavam errados.
Todavia, quando a
crítica vem e, de alguma maneira, ela tem fundamento ou encontra repercussão na
gente; se é algo que ressoa com a nossa verdade interior, vale a pena mudar.
Mas, mudar nos termos de uma melhora, com o que pode ser mudado. Recentemente
também aprendi tudo isso, porém, num sentido oposto: se para casar há namoro,
noivado, enxoval e cerimônia, para sair de um casamento, de um emprego, da casa
dos pais, igualmente é necessário etapa, tempo e planejamento. Ninguém conhece
alguém hoje e casa depois de amanhã. Então, o descasar, o desfazer e o deixar
também exigem tempo, requer construção. E quem termina no ímpeto, no impulso, bate
a porta e sai, corre mais risco de voltar atrás – todo corte requer elaboração...E um castelo requer uma boa base - e fortalezas, sempre fortalezas que o protejam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário