Não fui ao carnaval e não iria de forma alguma, porque muito já gostei da festa e, no presente – retroativo, na verdade, a 2016 -, não me interessa a festa e respectivas atrações. Danço músicas de carnaval, vou a festas carnavalescas fora do carnaval, entretanto. Neste ano, um agravante a me afugentar das folias: minha amiga, Rosana, morreu na sexta-feira de carnaval.
Diz-se que se o paciente é terminal, as fichas
já estão colocadas acerca de seu futuro. Porém, o terminal é algo de prazo
elástico, mais significando que a doença não tem cura e não regredirá do que,
exatamente, um cronômetro acelerado para o momento da morte. Portanto, pode-se
durar anos enquanto paciente terminal. Nesta seara, Rosana tinha idas e vindas –
temporadas longas e intermitentes no hospital, concomitante às festivas voltas
para a casa da família, de modo que fiquei outubro inteiro com ela, excetuados
meus dias de trabalho e o período subsequente, quando da internação e morte de
meu tio.
De meados de janeiro para cá, voltei à
psicanálise. Encontrei um excelente profissional e, se tomo sustos com minhas
descobertas pessoais, mais me tranquilizo por estar em boas mãos. Finalmente,
dentre meus muitos lutos reais, processo o luto simbólico pelo fim de meu relacionamento
com o Homem de Capricórnio.
Assevero, sem medo, que há muita distância
entre um relacionamento que começa; e outro, que recomeça. Não é que não valha a
pena recomeçar, mas hoje em dia me interpelo se eu deveria ter voltado para ele
após nosso segundo término. Decerto, é preciso tentar para ver e, às vezes, ver
para saber – e saber para se convencer. Então, não parece ser justo sustentar
hipóteses ilusórias sobre futuros imaginários. Normal: como teria sido ‘se’. E
nas nossas ilusões, o futuro sempre teria sido lindo. O cotidiano, contudo,
seguia me mostrando desenhos diferentes.
Minha outra amiga, para encarar a separação,
ilude-se maratonando vídeos sobre homens narcisistas. Mais uma moda chata, que busca diagnosticar genericamente
e classificar. Para mim, alguns homens são apenas canalhas mesmo – do contrário,
estaríamos vivendo uma epidemia de narcisista – como se já há séculos os homens
não saíssem para comprar cigarros, sem serem fumantes, largando a moça grávida
e sozinha; como se as leis protetivas às mulheres houvessem brotado do chão,
supérfluas. Na verdade, ela tem dificuldade de aceitar que foi deixada, de
admitir a rejeição sofrida e, assim, busca justificar o homem que se foi,
explicando razões que ela interioriza como absolutas verdades. Mas, quando
indagada sobre o que é, afinal, que ela faz na suposta psicóloga atual, desconversa
e muitas vezes se assusta quando faço relatos de meu processo de análise – o que
me leva a presumir que ou ela está com péssima profissional, ou sequer vai a nenhuma psicoterapia. Fica a dica: o
YouTube não substitui uma sessão de psicanálise. Se for um youtuber sensacionalista,
midiático, cheio de clickbait, pior ainda.
Há canais bons, tipo o de Christian Dunker,
Marcos Lacerda, Lucas Nápoli, Emanuel Aragão. Porém, são todos gente séria (o canal do Ludoviajante não é de psicologia, mas tem excelente conteúdos correlacionados).
Podem vender cursos e livros, mas não embarcam na mercantilização
sensacionalista de muitos outros. E em nenhum momento eles vendem soluções,
sentenças, laudos genéricos e fórmulas infalíveis. Há coisas que só a gente
pode fazer por nós, não dá para terceirizar.
Então, sigo tocando o barco, com a coragem dos náufragos e dos sobreviventes.
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