Quem nunca se
deparou com um “oi, sumida!”? Sim, sabemos que o sumido, de fato, é o sujeito
que nos interpela. Sabemos, também, que essa pessoa que sumiu, resolveu
reaparecer por algum interesse próprio – seja para um sexo casual; para pedir
um favor ou engrenar alguma conveniência (aquele tipo que diz que vai estar na
cidade em que você mora dali a dias – certamente, quer sexo e hospedagem
grátis. E sem querer decidir por ninguém, recomendo: se isso ocorrer, diga à
tal pessoa que “aproveite a cidade”, feche sua porta e sua vida, a menos que
você deseje entrar no jogo). Se o sumido for você, se ligue, porque as ações e
situações já são previsíveis, portanto, dificilmente você vai lograr êxito.
Mas, bem: estando na sessão de psicanálise, posso dizer que situações do passado, quando ali convocadas, me parecem exatamente um grandessíssimo “oi, sumida!”
Pequeno adendo aleatório: peço a devida vênia para a licença poética de dizer: puta que o pariu! E não sei porque caralhos as pessoas escrevem os vocativos sem as vírgulas, o que piora oi, sumida! – preguiça ou ignorância? Provavelmente, é desleixo mesmo.
Coisas encobertas na memória dão o ar da graça e haja hematoma
psíquico a se revelar.
Situações psíquicas
inconscientes fazem verdadeiro strip-tease, tirando peça por peça, lentamente,
num jogo de se mostrar e se esconder. Enfrento, no momento, um gigantesco calo
psíquico. Faço até abdominal para poder ‘empurrar com a barriga’, mas, agora, o
psicanalista resolveu que preciso resolver – sim optei por ser redundante
aqui. O jogo com a linguagem é o que prevalece na psicanálise (em alguns casos,
a linguagem corporal indica algumas coisas, mas não acredite piamente que ‘o
corpo fala’ – o corpo pode ser treinado e controlado, como habilidoso ginasta,
expressar suas artes e iludir a plateia, simulando seguranças e posturas,
inclusive, fazendo certos contorcionismos sociais – ora, nossas carinhas de
felicidade ao apertar a mão do desafeto ou nossa suposta altivez em ocasiões
sociais desfavoráveis são exemplos disso. Por vezes, somos pavões, mostrando
belezas temporárias e artificialmente conquistadas; ou somos gatos de pelos
arrepiados para nos mostrarmos maiores ante nossos inimigos).
Também ao contrário
do que ouvimos por aí, não temos o poder de fazer ninguém nos amar. O ódio é
gratuito, facilmente aprendido, distribuído, aceito. Desde criança – e aqui,
cito as filhas de minha madrasta, na época, tão crianças quanto eu, mas que aos
sete anos já sabiam que o certo era me odiar, e odiavam com sádico capricho.
Fazer alguém nos odiar é fácil e infalível. Fazer alguém nos amar é impossível.
Quem quer se arvorar
a trazer um amor de volta em 3 dias, seja por meio de magia ou mandando uns
capangas ir buscar o ser amado, pode trazer e amarrar, mas aquilo nunca será
amor.
Se um sujeito,
dentre o casal, se esforça sozinho para estar junto ao outro; se sempre é como
se fosse necessário matar um dragão a cada vez que se quer estar com o príncipe
ou com a princesa, não há chances disso ser amor.
Não me reporto a
quem mora longe; aos que têm plantão e jornadas de trabalho específico (médico,
músico, atores, etc) e cujos fatores são sempre impeditivos para certos planos
do estar juntos. Trato de quem inventa desculpas ou, diante de um empecilho
real, não constrói meios de estar com o par.
Ninguém quer ser
rejeitado, nem mal-amado. A gente até esquece que já rejeitou algumas pessoas
na vida e que amou insuficientemente – e aqui, cito isso porque é do ser humano
viver os dois lados da questão.
Com quantos ‘nãos’
se faz um término? O quanto esperamos para constatar que o outro não quer nada
conosco? E quando os afetos são de natureza diferente; e a gente não quer
namoro, mas quer o amigo? Então, é preciso ter essa sensibilidade.
Minha amiga gasta
horrores com ‘trabalhos rápidos e garantidos’ para manter um certo caso. Mesmo
admitindo que houvesse alguma eficácia no trabalho sobrenatural, qual o sabor
de estar com quem sabidamente não nos quer? Vale a pena forçar o Outro a querer
o que ele não quer? Vale a pena estar com o Outro a qualquer custo, trazer para
perto quem emocionalmente está distante?
Por discutir isso
com sinceridade, minha amiga fica de cara amarrada comigo. Apesar de tudo, ela
entende e sabe que eu tenho razão, mas não se esforça para processar o luto de um término e
libertar a pobre pessoa do cativeiro das chantagens emocionais (até filho imaginário
ela inventou). Não aceitar o fim de um relacionamento significa não aceitar a
realidade, nem aceitar que o Outro tem vontade própria, desejos próprios e autonomia,
porque também quem ama, mesmo amando, pode sair da relação se perceber que não
está bom nem está saudável aquilo tudo. Amar não basta. Porém, sem amor, pior
ainda.
O ódio pode ser
manipulado, ensinado e facilmente se desenvolver. Amor, não. Quem me dera amar
a pessoa certa, amar quem me ama – a vida seria bem fácil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário