Louquética
Incontinência verbal
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Águas profundas
Tenho sede da água de que jamais beberei.
Algumas dessas águas deságuam na água do meu orgulho e, por isso, destas nunca beberei.
Mas penso em vencer a resistência à outra água, porque ela já minou o meu terreno, já transbordou meus limites... E eu quase não durmo pensando se bebo, se me enveneno, se mato a sede e pago o preço.
Água boa, linda, límpida, sedutora e calma, mas sempre uma água de que não se deve beber porque o cálculo moral, feito ou imaginado, aponta para os riscos.
Fui dormir com sede ontem. E quase não durmo. E já quase me afogo... Ou, repetindo meu poeta, Iderval Miranda: "Paixão: súbito rio sem margens".
As águas daquele rio me ameaçam, me tomam, me encontram. Penso ago: será que sei nadar?
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