Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Enquanto espero...


Não foi por acaso que me constituí profissionalmente assim: especialista em Literatura; Mestre em Literatura; Doutora em Literatura... Meu prazer e meu caso com a Literatura antecede os títulos acadêmicos e os excede. Ocorre, claro, certa maré de correspondências e reciprocidades.
Andei dizendo mil vezes, porque de fato assim é em minha vida, que pouco me importo com o final das narrativas - extensivo aos filmes, inclusive - pois gosto da forma de narrar, gosto de ouvir histórias e de ler histórias, grandiosas ou pequenas, tímidas de significado externo, serão sempre supremas se o artefato da narração oral, cinematográfica ou da escrita assim encaminharem os passos do que se conta.
Tanto faz saber o fim desde o começo; ou quando este fim realmente se anunciar formalmente (se assim não fosse, coitado de Jorge Amado, em Tenda dos Milagres, cuja narrativa no começo,já mostra a morte do protagonista, Pedro Archanjo; ou de Machado de Assis, criando seu narrador de Memórias Póstumas; e tantos outros escritores) - Pulp Fiction também começa pelo fim; e o filme intercala muitas seções narrativas... - o importante continuará a ser a forma de narrar, a sedução que ali se estabelece a me prender, a explicar, a mostrar, até mesmo se for nonsense, e daí?
Vi, na minha relação amorosa de 'porvir' que aplico um princípio assim: gosto do gerúndio, do processo, do narrar cotidiano da relação que vai sendo ou que virá a ser. Logo, espero.
Pensando nisso, admito o medo. O medo, neste caso, é análogo ao daquelas mães que geram a expectativa do parto e, ou têm prematuros ou sofrem um aborto. Mas amor é isso: imprecisão, insegurança, nenhuma garantia. As coisas podem se precipitar. As coisas podem nem ser.
Acho que ele é um homem interessante. Neste ponto, jogo com o estereótipo a que não correspondo: sou uma mulher interesseira, já que tenho interesse no homem (desde que ele me pareça interessante) e isso não é uma curiosidade vazia, do tipo querer saber a que horas ele dorme, com quem ele está, o que faz, e etc. É bem mais.
Mas ele, o meu devir de relacionamento, conduz a espera: todo dia um pouco, como capítulo de novela. Eu acompanho.
Pode ser que seja eu a dar um fim, a antecipar o final da história, a largar a leitura no meio do caminho ou protelar tudo. Poucas vezes me deixei tão na mão de outrem, permitindo que ele faça a narração da história a dois, que proceda às pausas, que determine o tamanho dos capítulos...
Gosto da narrativa, independente do fim. Se é bom, desejo que dure...vou nutrindo a curiosidade, acompanhando o desenrolar das coisas...
No momento, não sei gosto tanto dele ou se é admiração pela educação, pelo que temos em comum. O que temos em comum é um problema para uma pessoa como eu, que já achou a outra metade da laranja um par de vezes e, decepcionada, deixou para lá, em face de termos coisas demais em comum, das quais os defeitos mais insuportáveis. Veio a sensação de estar me relacionando comigo mesmo. E eu preciso da diferença - que não seja oposição, mas diferença.

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