Louquética

Incontinência verbal

domingo, 1 de junho de 2014

Caixas de segredos


Meu ex estava aqui em casa, por força das circunstâncias. Resolveu, pois, pegar um certo objeto em meu guarda-roupa, também por força das circunstâncias. Ao ver que ele estava com uma determinada caixa na mão, me desesperei, gritei, adverti: "Não, não é aí! Não é aí! Largue isso que eu pego para você num instante!".
Ele não é meu ex à toa: a teimosia dele é uma coisa irritante e constante. Eis que o sujeito forçou a barra para abrir a caixa, à minha revelia e deu de cara com algo que eu escondi dele, respectivamente, por 07 e 04 anos, pois tratavam-se de dois objetos.
Fiquei sem graça, sem jeito, e já sabia que viria uma bateria de perguntas e a retrospectiva dos meus amores e casos passados. Sim, eram dois souveniers de motel, sendo um de sete anos atrás, na primeira vez em que tive um encontro íntimo com o Ex-Grande Amor da Minha Vida; e outro, quando realizei uma fantasia, há quatro anos. Ele sabia dos dois casos específicos, que em nada tocava à vida dele. Mas aí vem a cara de depressão, de decepção e as pequenas lições morais machistas.
Ele jamais respeitou meus segredos e muito menos a minha privacidade. Foram, os dois momentos citados, bastante importantes para mim. Quis guardar o possível daquele momento ímpar, ter uma lembrança, ter alguma coisa de algo que eu sabia que iria passar. Era meu momento. O ex não entendeu isso.
Ele tem, até hoje, chaveiros com fotos de pessoas com as quais ele me traiu, cartas, bilhetes, fotos, presentes de outras...E eu nunca cometi atentados contra esse acervo porque, afinal, ele viveu aquilo e nada podia apagar a situação, ademais, se ele guardou, deve ter gostado do que viveu. Destruir o acervo pessoal dele seria uma agressão idiota - ele, sim, invadiu minha casa numa dada vez e queimou fotos e negativos meus com meu outro namorado.
Mas, sempre dói. Moro só, gosto de meus segredos, escondo coisas, cartas, declarações de amor como uma, lindíssima, em que meu lindo ( e infelizmente casado) dentista de 2008 criou dois poemas para mim, escritos num receituário, com assinatura e carimbo dele; guardo cartas amareladas e bilhetes de toda espécie que os homens já me enviaram, desde que os considere importantes. Tenho, em casa, diários - e pretendo adquirir um cofre somente para eles. Não gosto que leiam, que peguem...Deixem em paz minhas caixas, pelo menos até que eu vá para o caixão. 

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