Louquética

Incontinência verbal

sábado, 24 de maio de 2014

Corpo, carne e coração


Não faço sexo com amor apenas com quem eu amo. Tratar a outra pessoa com dignidade, respeito e amor independe de haver o amor clássico romântico instituído.
Não beijo apenas quem eu amo, nem dou carinho apenas quando amo. Acontece, porém, que o homem que estiver comigo, no momento em que estiver comigo, será tratado com amor e com carinho porque não aderi à moda clássica de imitação dos filmes pornográficos. Eu também os assisto, quando o momento pede, só ou acompanhada, mas não sou daquelas mulheres que gostam de palmadas, nem de subserviências, de gozos enlatados, com script e diálogo previamente determinado com direito a palavrões sem nexo com o contexto, falsos elogios e o pacote completo da sexualidade performática da cultura de massa.
Claro que, se o sujeito quer propor um jogo erótico que envolva tapas, velas, mordaças, lugares, situações, desde que faça parte de um conjunto de coisas que são opções verídicas e conscientes das partes, vale tudo.
Não admito esse medo besta dos homens, medo de dar e receber carinho e isso ser confundido com amor. Aliás, sempre vou me queixar dos homens porque eles guardam o melhor sexo apenas para as amantes. As mulheres que são como eu, jamais guardam o melhor sexo para setores selecionados de seus afetos.
Não divido o meu corpo com quem eu sequer simpatizo, com quem eu não dê um voto de confiança para tal liberdade. Por que não sermos, pois, livres, para o comportamento sexual que o consenso permite? Só valem as brutalidades secas, o fôlego e a estatística (quanto, quantas)?
Acho isso muito pobre. Daí que minha amiga segue dizendo que excluo os homens. E excluo porque seleciono. E quando deixo para lá os critérios, ardo em ressacas morais posteriores. Nada pior do que um mal-estar pós-intimidade sexual, quando você nem sabe como erguer os olhos, nem como solicitar que o outro vá embora e mesmo quando nem há o que dizer nos encontros fortuitos que a vida se encarrega de providenciar.
As boas parcerias são cada vez mais raras. Diziam as mulheres que os P.A. e os HDM eram a solução. Mas já não há Pau Amigo nem Homem De Manutenção como outrora: já não entendem que a relação pode ser simplesmente essa, de "então, tá combinado, é quase nada: é tudo somente sexo e amizade". Não tem mais amizade com entendimento sexual, que aliás, é o contrário, é o sexo bom com partilhas de camaradagem, porque com um amigo eu jamais transaria. Amigo, de fato, é mais que família. Mas a parceria sexual poderia ser assim, como um dia foi... Perdeu-se, porém, esta boa capacidade de relacionamento. A agenda já não funciona para chamar alguém legal com quem se possa ver um filme, conversar, fazer sexo. Os homens estão com medo de gerar expectativas nas mulheres.
Sexo com amor, sem amar. E se um dia for possível, novamente, em minha vida, aliar o amor e o sexo, no sentido romântico mesmo, não tenho nada contra a intensidade e os riscos.
A gente vai mesmo pensando duas vezes nas escolhas que faz. Tem um monte de amigas minhas, bonitas, independentes e inteligentes que não têm com quem ter sexo ou que, diante das opções, preferem ao vibrador, devido ao fato de que muitos pares não valem a pena. Isso já foi menos complicado. Antes a complicação era moral, era nosso superego vigiando nossa conduta, era o medo de ser tratada como objeto, era a carga moral completa. Hoje está muito difícil e já nem há heterossexuais praticantes.
Quando eu digo que um homem é interessante, quero dizer que tenho interesses por ele: me interesso em saber o que pensa, como ele é, o que faz, o que lê, do que gosta...E quase sempre isso significa interesse sexual, aquela aposta que a gente faz de que vai se entender com o outro na horizontal  (ou seja lá em que posição for)...Mas homem interessante é um contingente cada vez mais escasso sobre a Terra. Que pena!
Aí a gente fica só. Cada vez mais só.
A música abaixo, de Otto, que se chama Crua, me lembra a carne crua (já disse que adoro os branquinhos) e deliciosa de quem deixou saudades

Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua.
Tua pele é crua.
Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua. 
Tua pele é crua.
Dificilmente se arranca lembrança, lembrança, lembrança, lembrança...
Por isso da primeira vez dói, por isso não se esqueça: dói.
E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.
Mas naquela noite que eu chamei você, fodia, fodia.
Mas naquela noite que eu chamei você, fodia de noite e de dia.
Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua. 
Tua pele é crua. É crua.
Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua.
 Tua pele é crua. É crua.
Dificilmente se arranca lembrança, lembrança, lembrança, lembrança...
Por isso da primeira vez dói, por isso não se esqueça: dói.
E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.
Mas naquela noite que eu chamei você fodia de noite e de dia.

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