Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 19 de maio de 2014

O pouco do quase nada


Hoje a gente se encontrou na saída, no corredor, e foi o encontro mais triste que poderia existir entre dois seres humanos. Eu era a cara da decepção. Todavia, aprendi com Thales a fazer cara de paisagem quando era conveniente. Fiz, mas não convenci nem a mim mesma e ele não respondeu ao meu cumprimento que não era para ele, na verdade, mas para a leva de gente indefinida no corredor escurecido. Balbuciei palavras genéricas de cumprimento. Lembrei de meu amigo Leonardo repetindo Tom Jobim: "O amor é a coisa mais triste quando se desfaz". E eu nem amei o sujeito. Até o responsabilizei por isso, porque eu queria emoção em minha vida, eu queria que ele me fizesse me apaixonar, me desestabilizasse, me desse a adrenalina que falta à minha vida emocional tão monótona. Mas faz duas semanas que a gente nem se fala, nem para manter um fairplay de fachada, como fazem os adultos. Está perto do aniversário dele: vai fazer trinta anos neste mês. Talvez ele olhe para a própria vida e constate que não tem nada, mas pouco sei do que ele gostaria de ter, mas sei mais do que ele nunca me deu e assim o que seria um provável amor morreu de insuficiência de expectativas e de inanição.
Esta minha natureza interior é muito chata: se fecha rápido, descarta, segue em frente após chorar perdas por dois dias ou três. Que pena todo o esforço para romper minhas barreiras interiores terem dado em nada!Queria ter levado desse tudo-quase-pouco pelo menos boas recordações. Mas eu parei rapidinho e me interessar por ele. E daí que sou da reciprocidade: se ele não liga, eu não o procuro...Acabou-se o estímulo desafiador, os torpedos insistentes e insinuantes, acabou-se o que poderia ser doce, como festa cancelada de última hora,acabou-se e eu quero distância dele.
Até pensei em aceitar uma lisonja ostensiva de outro, a fim de, sei lá, mostrar para ele que acabou e que eu superei. Depois concluí que não dou tal importância a ele, que não quero provar nem mostrar nada. Nem ligo que acabou, porque houve um silencioso comum acordo. Ligo por ter sido triste o saldo, por estarmos tristes, pela estranheza que nos acomete, como um velho recado tácito que diz 'saia do meu caminho' e 'evite cruzar comigo'.
Ele imaginava coisa de mais a meu respeito, talvez pensasse que eu vivia uma solidão intensa e imensa, carências de outro mundo...Isso me incomodou a ponto de eu pensar em provar o contrário, porém ele perdeu mesmo importância e eu pouco importo com as conjecturas dele.
Que pena que acabou sem brincadeiras, sem bom humor, sem a cumplicidade de companheiros...E falando nisso, R., também, depois do desfecho de nosso relacionamento em janeiro deste ano, parece não ter lá muita coragem para me encontrar socialmente. Já ofereci a devolução do livro dele que está comigo, sem a menor forma de pretexto para reencontros (provavelmente ele entendeu muito bem minha frieza e exatidão que não eram pretextos para nada), mas nunca mais ele quis papo comigo, nem para cobrar o que lhe pertence - eu sei que ele tem vergonha...Se jogasse limpo e me pedisse desculpas, seríamos bons amigos. Creio que se o ego de R. também se flexibilizou, ele deve ter visto onde errou.
Meu Facebook acabou sendo revelador:lá estão adicionados virtualmente os que passaram por minha vida nestes últimos tempos, mas não permaneceram, não foram para a página dois...Amores descartáveis que nunca viriam a ser amores, gente que não me encantou...Uma pena!Oneway, amores líquidos que vão pelo ralo.

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