Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Dos mistérios


Há um tempo eu brincava, dizendo que era órfã de orixá. Pura inveja: o povo que conheço sabe o orixá que o rege - público mais de mulheres do que homens, no caso de minhas amizades. Eles lá, com tantos protetores, com intimidades com eles...Eu cá, desamparada, sem nenhuma característica a me vincular com o DNA simbólico do sagrado na religião afro-brasileira... Até que por meia previsão de colega, me convenci de que sou de Oxaguian. Não consultei búzios para confirmar, mas simpatizei com a ideia.
No último sábado, porém, ao acabar as aulas na universidade pública no interior do estado, minha colega iniciada viu em mim características de Yansã.
Talvez fossem as paridades que ela apontou entre nós. Diria que foi o equivalente à expressão 'o santo bateu', já que tínhamos lutas em comum e posturas bem parecidas frente às coisas.
Depois de um tempo, ela dirigindo e eu no banco ao lado, só nós duas na estrada, com plena liberdade para falar de tudo, ela deu uma indireta adivinhatória sobre um segredo meu. PAUSA DRAMÁTICA: eu tenho muitos segredos. Não significa que sempre há coisas ocultas de natureza grave ou condenável. Mas tenho segredos de variados tipos, pois vivi e não quis compartilhar a vivência com outrem.
Uma terceira amiga, quando fiz este relato, falou: "Que segredo?". E eu disse: "Ora, é segredo. Não divido". Mas vi que ela se magoou e, então, eu fiz de conta que era sobre um outro assunto.
Não dividir um segredo com um amigo não é declarar não ter confiança nele. Esta mesma amiga, por exemplo, atropelou uma pessoa. Jamais me contou. Entretanto, juntando A com B e pegando fragmentos de argumentos dela, descobri. Ela não sabe que eu sei.
Tempos depois, voltando ao cenário do sábado à tarde, minha colega declarou que as mulheres de Yansã não são mulheres de um homem só. Esta não é uma sentença moral, mas tomei assim.
Vi, porém, a razão na constatação: faz um tempo que não sou de um homem só. Menos por pegá-los do que por me envolver emocionalmente com eles, alimentar flertes e ficar  à espera de que algum deles sinalize condições reais de relacionamento.
O fato é que gosto deles: dos candidatos, dos flertes, dos ficantes...Não consigo ver isso como traição, seja porque não tenho compromisso com ninguém (sou solteira, livre e desimpedida), seja porque meu bem-querer por eles é real. Cada um ao seu modo. Somente G. que de PA. nunca passará, porque a relação é assim desde 14 de abril, quando finalmente ficamos juntos.
Homem tem dessas idiotices de despejar quilos de mentiras mal formuladas em cima de nós. Depois declaram que não querem compromisso e não se fazem amar. Aí o laço vai crescendo, a gente vai se vendo...E a mulher ( no caso, eu), passa do tempo de se apaixonar. Gosto dele, mas nunca será amor. Já teria sido, se houvesse de ser.
Bom, mas ficamos ali, eu e minha colega de trabalho, no ponto entre o sagrado e o humano.
Vou ver alguém de confiança para confirmar meu orixá, meus orixás...Vai que tenho mesmo dívidas? vai que eu conquiste a paz inclusive no amor - território em que eu mais sofro, em que nada dá certo...território repetitivo, de candidatos que me aparecem com características repetidas - covardia, vícios, egolatria...
Ela repetiu Shakespeare, ante o que ambas não entendíamos:" Há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia."

Nenhum comentário:

Postar um comentário