Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Engolindo sapos


Enquanto Aristófanes escreveu "As rãs", eu engulo os sapos!
Poxa, quantos sapos a gente engole na vida social!
É comer na mesma mesa que o inimigo; é não assumir opiniões para se livrar de cerceamentos; é conter a vontade de esbofetear uns filhos da puta...Inteligência emocional é ter controle de si, conter seus impulsos e dominar os instintos mais primitivos que norteiam nossas reações...Porém, uma boa burrice emocional, que permita dar boas patadas e coices em quem merece e em quem desafia nossa paciência, ah, trazem tanto alívio.
Eu fico meio sem jeito por ter amigos em comum com certos inimigos. Cria uma situação chata para todas as partes e, conforme me disse minha amiga Ilmara, faço parte dos 'inimigos éticos' e, portanto, não incomodo nem avilto aos meus inimigos. Numa situação social, eu nunca seria mal educada com nenhum deles. Talvez, menos por eles do que por mim mesma: acho feio e teria vergonha de causar constrangimento, de ser grosseira. E ainda tem mais: certos amigos em comum com meus inimigos, os têm em mais alto apreço e julgam que eles são gente boa, sofrida, deprimida, uns coitados profissionalmente bem qualificados...Não ficaria bem que eu lhes expusesse as mediocridades tantas, as baixezas...Ora, quando eu penso: a pessoa perder seu tempo para plantar as sementes da discórdia, só para ver uma amizade se acabar, uma briga começar, um inferno se acender...E as tantas mediocridades intra-familiares dessas pessoas, que pintam as irmãs como vilãs, as mães como megeras egoístas, os primos como algozes, os pais com uma neutralidade e omissão dignos de quem é marionete?!
Não falo disso me excluindo. Já contei aqui que, certa vez, ao pronunciar o nome de uma das filhas de minha madrasta, as lágrimas desceram como cachoeira, num choro inconsciente e não assumido, em que eu perguntava o que eram aquelas lágrimas, sem reconhecê-las como choro quando, nunca antes nem depois, chorei numa sessão de psicanálise. Quando ali mesmo eu dei a entender á analista que eu gostaria muito de ter ficcionalizado minha história (o que pareceu a ela muito provável; para depois, me lascar num choro motivado pela fato de que essa mesma filha de minha madrasta ter falado ao meu pai (que retransmitiu a mim), que tudo que ela estava passando era pelo que me fez no passado, na infância. Eu, cá, torcendo para eu ter exagerado, torcendo para ser mentira minha porque eu não queria acreditar que tudo foi verdade.
Mas nunca me vali disso para me promover como coitadinha.
Dramas vão bem a quem gosta de comover o outro num carisma interesseiro de quem quer amor e atenção. Nisso eu sou mais ríspida. E muito amável, também. Quem eu amo, quem tem minha amizade, em para tudo e para muito.
Andei me arrependendo de ter dado uns trinta vezes a segunda chance a uma má amiga. Eu gosto dela. Às vezes tem isso: a gente gosta da pessoa mas sabe bem quem ela é;não suporta os defeitos e, no meu caso, o defeito era que ela me desrespeitava.
A gente perdoa uma vez, achando que é circunstancial, é o momento, é um episódio.
Depois, tudo se repete.
Minha amizade deveria ter acabado desde meu aniversário de 2013. Tinha outros 364 dias para a então amiga ser escrota comigo. Mas, como fez de novo com mais um amigo em comum, ela mobilizou a mim, aniversariante, fez com que eu desviasse de outras propostas em prol da oferecida por ela e, no fim da noite, eu acabei sozinha e triste num bar cheio de gente alegre, ouvindo da parte dela que 'não combinou nada comigo'. Ora, eu fiquei em casa até às 23 horas, declinei das outras amigas, que só podiam estar no happy hour, levei bolo e champagne ao bar, para ouvir isso de alguém por quem tive estima e consideração.
Muita coisa similar se repetiu, como a intolerância nas viagens em comum; os convites feitos por conveniência econômica, ou seja, para custear a viagem dela, por interesses dela, sem flexibilização para satisfazer às necessidades de nós outras que a acompanhávamos...Ah, tantos relatos...
No fim, nem interessa tanto cada episódio, mas o meu conselho: não alimente relações desrespeitosas.
Se alguém pega seu sofrimento e faz uso dele para lhe humilhar, você estará melhor sem essa pessoa;
Se alguém só te convida para qualquer coisa quando descartadas outras opções, não vá, não dê lucro nem consolo a ela;
Se já contabilizou muito desrespeito, muito bolo e negligência, não hesite, esqueça.
Manter distância ajuda muito.
Meu Facebook está cada vez mais cheio de gente filha e neta de minha madrasta. Sei que o tempo é outro, as pessoas são outras, mas ainda é constrangedor para mim. É esquisito. É um sapo a engolir.
Que assunto teríamos? Que interessa a mim sobre quem eu quero mais é esquecer? sempre digo que um passo importante para esquecer alguém é parar de acompanhar a vida da pessoa, ir ignorando, deixando para lá, desviando o pensamento...
Para quê eu iria querer contato ou acompanhamento da vida virtual desse povo?
Recentemente, vi uma foto de uma das filhas de minha madrasta, com ela ao lado, em que a constavam elogios à criação e fortaleza moral dadas por minha madrasta. Vi porque me apareceu nas atualizações. Engoli mais um sapo, porque eu não queria nem conta com esse povo, nem ver a cara ou saber do rumo...Aí chovem convites a que eu não posso recusar a fim de não confirmar os piores juízos que a madrasta espalha sobre mim.
Engulo o sapo. Se eu fosse rã, saltava e pronto!

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